São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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JANIO DE FREITAS

Achado incerto

A eficiência dos detetives americanos precisou de apenas três dias para oferecer, antes que acabasse a semana da terça-feira terrorista, os nomes e até alguns dados biográficos dos responsabilizados pelo sequestro e pela pilotagem dos aviões, mas é da eficiência mesma que emerge outro mistério nessa história assombrosa.
Os nomes apontados pelo FBI estão se revelando nomes verdadeiros, havendo já a identificação da família, entrevistada pelo repórter que a localizou no Líbano, de um dos tidos como pilotos do sequestro. Seria um comportamento estranho dos terroristas o uso de nomes e documentos verdadeiros por onde passaram, desde pelo menos a Alemanha, na elaboração do seu percurso até as torres em Nova York.
Nenhum grupo ou organização quis se proclamar responsável pelo ataque, o que permite deduzir a determinação de guardar todas as precauções desde o início, para não ser descoberto no preparo da operação nem depois dela. Seria então erro muito primário, que não se pode supor em um plano de tanta complexidade e executado com tamanha precisão, deixarem a evidência dos nomes verdadeiros: a melhor pista possível para o percurso inverso, da identificação dos sequestradores à identificação do ponto onde tudo começou. Como o FBI e outras polícias acreditam estar fazendo com êxito.
Nada disso chega a eliminar a hipótese de que as identidades usadas pelos sequestradores, o tempo todo, fossem verdadeiras. Mas permanece também a hipótese de que fossem falsas, provavelmente adotadas de pessoas existentes, ainda vivas ou não. Não seria absurdo que uma operação tão bem planejada fosse ao pormenor, por exemplo, de usar nomes americanos, para embaraçar mais as pistas se o propósito fosse, de fato, a omissão das origens do ataque.
Enquanto as hipóteses não forem eliminadas, em favor de uma e de maneira convincente, não estará provado que os executores do ataque foram as pessoas até agora apontadas.
É explicável que os investigadores se concentrassem logo na busca de nomes árabes - todos sabemos por quê. Mas não é explicável nem tranquilizador que todos, sobretudo a mídia, se satisfaçam tão depressa com o achado. Isso, entre outra coisas, está servindo apenas ao clima de histerismo usado por Bush para melhorar sua imagem de presidente incapaz. E conclusões rápidas aparentam eficiência.
A política interna dos Estados Unidos foi tão atingida pelo ataque quanto as torres. Passado o primeiro momento, a política interna passou a prevalecer, para todos os efeitos públicos, sobre o problema externo, ou presumidamente externo. Não temos, nós outros, por que embarcar nesse desvio.



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