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JANIO DE FREITAS
Achado incerto
A eficiência dos detetives
americanos precisou de apenas três dias para oferecer, antes
que acabasse a semana da terça-feira terrorista, os nomes e até
alguns dados biográficos dos responsabilizados pelo sequestro e
pela pilotagem dos aviões, mas é
da eficiência mesma que emerge
outro mistério nessa história assombrosa.
Os nomes apontados pelo FBI
estão se revelando nomes verdadeiros, havendo já a identificação da família, entrevistada pelo
repórter que a localizou no Líbano, de um dos tidos como pilotos
do sequestro. Seria um comportamento estranho dos terroristas
o uso de nomes e documentos
verdadeiros por onde passaram,
desde pelo menos a Alemanha,
na elaboração do seu percurso
até as torres em Nova York.
Nenhum grupo ou organização quis se proclamar responsável pelo ataque, o que permite
deduzir a determinação de
guardar todas as precauções desde o início, para não ser descoberto no preparo da operação
nem depois dela. Seria então erro muito primário, que não se
pode supor em um plano de tanta complexidade e executado
com tamanha precisão, deixarem a evidência dos nomes verdadeiros: a melhor pista possível
para o percurso inverso, da identificação dos sequestradores à
identificação do ponto onde tudo começou. Como o FBI e outras polícias acreditam estar fazendo com êxito.
Nada disso chega a eliminar a
hipótese de que as identidades
usadas pelos sequestradores, o
tempo todo, fossem verdadeiras.
Mas permanece também a hipótese de que fossem falsas, provavelmente adotadas de pessoas
existentes, ainda vivas ou não.
Não seria absurdo que uma operação tão bem planejada fosse
ao pormenor, por exemplo, de
usar nomes americanos, para
embaraçar mais as pistas se o
propósito fosse, de fato, a omissão das origens do ataque.
Enquanto as hipóteses não forem eliminadas, em favor de
uma e de maneira convincente,
não estará provado que os executores do ataque foram as pessoas até agora apontadas.
É explicável que os investigadores se concentrassem logo na
busca de nomes árabes - todos
sabemos por quê. Mas não é explicável nem tranquilizador que
todos, sobretudo a mídia, se satisfaçam tão depressa com o
achado. Isso, entre outra coisas,
está servindo apenas ao clima de
histerismo usado por Bush para
melhorar sua imagem de presidente incapaz. E conclusões rápidas aparentam eficiência.
A política interna dos Estados
Unidos foi tão atingida pelo ataque quanto as torres. Passado o
primeiro momento, a política interna passou a prevalecer, para
todos os efeitos públicos, sobre o
problema externo, ou presumidamente externo. Não temos,
nós outros, por que embarcar
nesse desvio.
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