São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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NO AR

Mercado sem pátria

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

L ou Dobbs, o âncora de economia da CNN, surgiu ao vivo da Bolsa circundado pelo prefeito, o governador, os dois senadores e vários outros.
Riam todos -ou tentavam rir, até contar piadas, durante a primeira meia hora após a reabertura do mercado.
De Hillary Clinton a Rudy Giuliani, ainda que olhassem de quando em quando, tensos, para os números da queda, todos encenavam confiança.
Davam sequência ao esforço que havia tomado políticos e empresários na TV americana, desde o domingo: associar patriotismo com negócios.
O vice-presidente chegou a pedir na NBC que os americanos mostrassem aos terroristas como ainda tinham confiança na economia. Os americanos eram chamados a comprar ao menos uma ação -e não vender.
A Bolsa foi aberta com o hino informal do país. Uma bandeira gigantesca surgiu na entrada do prédio. Dentro, o secretário do Tesouro dizia à TV que esperava que os investidores agissem "como americanos".
Mas não teve jeito. No fim do dia, a BBC registrou:
- Alguns previam -e políticos pediam- que os investidores encenassem um ato patriótico no primeiro dia de negócios. Mas o temor de uma possível retaliação militar manteve as ações embaixo.
Mais que os atentados, teria sido a retaliação, a "guerra", a causa da queda recorde. Com ou sem patriotismo financeiro.

 

Ainda assim, a retórica prosseguiu e até piorou, no fim do dia. George W. Bush, sem esconder mais o populismo:
- Quero justiça. E há um velho pôster lá no oeste que diz: Procurado, vivo ou morto.
 

A CNN, que renasce em episódios assim, deu nova rasteira nas concorrentes: domingo à noite, jogou no ar as primeiras cenas do alto, de um helicóptero, dos prédios no chão.
Agora espera a "guerra", sozinha no Afeganistão.
 

Mas quem cansar da CNN e da BBC, transmitidas por cabo e satélite no Brasil, sempre pode recorrer à internet.
Das redes americanas, CBS e NBC disponibilizam imagens selecionadas de sua cobertura e programas. A ABC vai além: com quedas eventuais, apresenta a programação "live". O mesmo acontece com os canais da C-Span e o NY1, o ótimo canal local de Nova York.
O problema: imagem e som são ruins, aos pulos etc.
E-mail: nelsonsa@uol.com.br


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