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NO AR
Mercado sem pátria
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
L ou Dobbs, o âncora de
economia da CNN, surgiu
ao vivo da Bolsa circundado pelo prefeito, o governador, os dois
senadores e vários outros.
Riam todos -ou tentavam
rir, até contar piadas, durante a
primeira meia hora após a reabertura do mercado.
De Hillary Clinton a Rudy
Giuliani, ainda que olhassem de
quando em quando, tensos, para os números da queda, todos
encenavam confiança.
Davam sequência ao esforço
que havia tomado políticos e
empresários na TV americana,
desde o domingo: associar patriotismo com negócios.
O vice-presidente chegou a pedir na NBC que os americanos
mostrassem aos terroristas como ainda tinham confiança na
economia. Os americanos eram
chamados a comprar ao menos
uma ação -e não vender.
A Bolsa foi aberta com o hino
informal do país. Uma bandeira
gigantesca surgiu na entrada do
prédio. Dentro, o secretário do
Tesouro dizia à TV que esperava que os investidores agissem
"como americanos".
Mas não teve jeito. No fim do
dia, a BBC registrou:
- Alguns previam -e políticos pediam- que os investidores encenassem um ato patriótico no primeiro dia de negócios.
Mas o temor de uma possível retaliação militar manteve as
ações embaixo.
Mais que os atentados, teria
sido a retaliação, a "guerra", a
causa da queda recorde. Com
ou sem patriotismo financeiro.
Ainda assim, a retórica prosseguiu e até piorou, no fim do
dia. George W. Bush, sem esconder mais o populismo:
- Quero justiça. E há um velho pôster lá no oeste que diz:
Procurado, vivo ou morto.
A CNN, que renasce em episódios assim, deu nova rasteira
nas concorrentes: domingo à
noite, jogou no ar as primeiras
cenas do alto, de um helicóptero, dos prédios no chão.
Agora espera a "guerra", sozinha no Afeganistão.
Mas quem cansar da CNN e
da BBC, transmitidas por cabo e
satélite no Brasil, sempre pode
recorrer à internet.
Das redes americanas, CBS e
NBC disponibilizam imagens
selecionadas de sua cobertura e
programas. A ABC vai além:
com quedas eventuais, apresenta a programação "live". O mesmo acontece com os canais da
C-Span e o NY1, o ótimo canal
local de Nova York.
O problema: imagem e som
são ruins, aos pulos etc.
E-mail: nelsonsa@uol.com.br
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