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INVESTIGAÇÃO
Declarações mostram que ex-prefeito, após ser processado por improbidade, fez permuta para ficar com ações
Maluf troca imóveis por empresas, indica IR
ROBERTO COSSO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A análise das últimas cinco declarações de Imposto de Renda do
ex-prefeito Paulo Maluf (PPB),
obtidas pela Folha, mostra que ele
trocou imóveis de sua propriedade por quotas de empresas.
Segundo identificaram especialistas ouvidos pela reportagem,
uma grande operação de permuta
de bens foi realizada pelo ex-prefeito em 1996, último ano dele à
frente da Prefeitura de São Paulo.
Nesse ano, Maluf já sofria diversas
ações de improbidade administrativa, movidas pelo Ministério
Público do Estado de São Paulo.
Em junho, a Folha revelou que
Maluf e seis parentes dele são beneficiários de pelo menos US$ 200
milhões -mais de R$ 510 milhões- aplicados em Jersey, um
paraíso fiscal no canal da Mancha.
Nenhuma das declarações de IR
de Maluf informa a existência de
depósitos dele no exterior.
Transação
Em 20 de dezembro de 1996,
Maluf assinou "instrumento particular de permuta" por meio do
qual abriu mão da propriedade de
diversos imóveis em troca de
ações da holding RNTL Participações, avaliadas em R$ 7,1 milhões.
O ex-prefeito transferiu a propriedade de 10% de uma área de
58.186,20 m2 entre a avenida Francisco Matarazzo e as ruas Adolfo
Pinto, Tagipuru e Germaine Burchard, na zona oeste de São Paulo;
de 10% de uma área de 5.249,05
m2, na avenida Francisco Matarazzo; e de 10% de uma área de
104 m2, também na avenida Francisco Matarazzo.
Maluf também cedeu quotas
das empresas Santabar Comercial
e Marieste Comercial, além de
ações da Imobiliária Santa Therezinha S/A. As empresas eram avaliadas em R$ 2,7 milhões no Imposto de Renda do ex-prefeito.
A permuta foi feita com Roberto Maluf e sua mulher, Lina Saigh
Maluf, com Nelly Maluf Jafet,
Therezinha Maluf Chamma e
Nelly Maluf Chama.
Na declaração de Imposto de
Renda de Maluf referente ao ano-base de 1997, aparecem as ações
da RNTL Participações S/C Ltda.
declaradas em nome dele e de sua
mulher, Sylvia Maluf.
A declaração referente a 1998
mostra que as ações da RNTL
Participações foram incorporadas por outra holding, a Pasama
Participações, também de Maluf.
O negócio permitiu ao ex-prefeito tomar o controle total da Eucatex, empresa fundada por seu
irmão Roberto Maluf, há 50 anos.
Roberto era o principal quotista
da RNTL, que controlava 51,5%
das ações com direito a voto da
Eucatex. Maluf e seus filhos controlavam os outros 48,5% por
meio da Pasama.
A transação foi realizada por
causa dos problemas de relacionamento entre Flávio Maluf (filho
do ex-prefeito) e Roberto Maluf
(irmão de Paulo). Flávio assumiu
a presidência da Eucatex em junho de 1996 e fez reformas administrativas que descontentaram o
tio, que ficou na presidência do
Conselho de Administração.
Justiça eleitoral
O valor do patrimônio de Maluf
informado ao fisco é bem menor que o valor informado à Justiça eleitoral. Em 2000,
quando registrou sua candidatura
à Prefeitura de São Paulo, declarou possuir R$ 74.967.594,69.
A grande diferença entre as
duas informações ocorre porque
a lei tributária exige a declaração
dos bens pelo valor histórico. A
Justiça eleitoral admite também
valores estimados de mercado.
A casa de Maluf, por exemplo,
na rua Costa Rica, é declarada por
R$ 4,7 milhões à Justiça eleitoral e
por R$ 1,8 milhão ao fisco.
O promotor Nilo Spinola Salgado Filho disse à Folha que qualquer operação com bens de réus
em ações de improbidade administrativa que levem à insolvência
do acusado são nulas se forem
realizadas após a citação no processo. Essa figura jurídica, chamada de "fraude à execução", é o
principal argumento usado por
juízes que negam o bloqueio de
bens em ações de improbidade
-justamente pela possibilidade
de, constatada eventual má-fé,
considerar nulas as transações.
Maluf sofre ações de improbidade desde 1994. Já foi condenado
em primeira instância em mais de
dez ações, uma delas em mais de
R$ 1 bilhão. Apenas uma condenação é definitiva, e o ex-prefeito
já sofre execução para devolver
R$ 500 mil aos cofres públicos.
Maluf teve o sigilo fiscal quebrado pela Justiça, no fim do mês
passado. A declaração de IR dele
poderá ser utilizada para a avaliação de seus bens na ação de execução que ele sofre, movida pela
Promotoria da Cidadania.
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