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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO FLORIANÓPOLIS
Najun Turner, que atuou com Collor, seria dono de empresa envolvida com Marcos Valério
PF investiga elo entre PT e doleiro da Operação Uruguai
JANAÍNA LEITE
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal investiga se o
doleiro que se tornou símbolo do
desespero final do ex-presidente
Fernando Collor, o uruguaio Najun Turner, atuou no esquema
que o empresário Marcos Valério
de Souza criou para alimentar o
caixa dois do PT. O elo entre Turner e Valério seria uma empresa
de Florianópolis, a Natimar, que
opera no mercado de ouro e de
dólar e foi usada para fazer pagamentos a deputados do PL.
A Polícia Federal tem indícios
de que o doleiro pode ser o verdadeiro dono da Natimar. A mulher
de Turner, Deusa Maria da Costa
Silva, aparece em uma lista de
pessoas que receberam dinheiro
da Natimar, apresentada à CPI
dos Correios pela corretora Bônus-Banval. O filho do doleiro,
Uri Flato, também consta da relação. Deusa Maria recebeu R$
117,8 mil na conta que mantém na
agência do Banco Itaú no Itaim
Bibi, zona oeste de São Paulo. Flato recebeu R$ 6 mil da Natimar.
A Bônus-Banval foi a corretora
que fez pagamentos do PT ao PL.
Turner está preso desde 31 de
março deste ano, após ser condenado a dez anos de prisão por crimes contra o sistema financeiro.
Ficou conhecido em 1992, quando participou da montagem da
Operação Uruguai, que tentava livrar o então presidente Fernando
Collor do impeachment. Assessores do ex-presidente inventaram
um empréstimo US$ 3,7 milhões
para tentar acobertar o dinheiro
do esquema PC.
Os registros da Natimar na Junta Comercial de Santa Catarina
apontam o argentino Carlos Alberto Quaglia e a brasileira Nathalie Quaglia Ibanes como sócios-administradores da empresa. A
PF desconfia que sejam laranjas.
Quaglia já foi condenado pela
Justiça Federal a cinco anos de
prisão pelo envio ilegal de US$
990.319 e recorreu da sentença.
Responde, também, a outros quatro processos, todos por remessa
ilegal de dólares para o exterior.
Num dos processos, de 2001,
Quaglia é co-réu junto com Najun
Turner e Simon Azario Flato Turner. Os Turner são acusados pela
remessa ilegal de R$ 165,2 milhões
em apenas cinco meses de 2000.
Eles conseguiram enviar o dinheiro depois de uma sentença do
juiz João Carlos da Rocha Mattos,
que foi anulada posteriormente
por suspeita de que a decisão fora
obtida mediante pagamento.
Em depoimento à polícia, Enivaldo Quadrado, sócio da Bônus-Banval, contou que Marcos Valério usava a Natimar para investir
em ouro e na BM&F (Bolsa de
Mercadorias & Futuros).
Contratada pela Bônus-Banval
para uma auditoria nas contas da
corretora, a Bordin Consultores
identificou que duas empresas de
Valério (Tolentino e Mello e 2S
Participações) depositaram R$
6,5 milhões na contacorrente que
a Natimar mantinha na Bônus-Banval. O dinheiro, dividido em
nove depósitos, feitos entre 26 de
abril e 24 de maio de 2004, era
destinado a aplicações em ouro físico e na BM&F.
O investimento era realizado
em nome da Natimar. Quando o
dinheiro voltava da BM&F, ia para a contacorrente da empresa catarinense na Bônus-Banval. Segundo Quadrado, o sócio-diretor
da Natimar emitia cartas pedindo
que fossem realizadas transferências em favor de terceiros, indicados por Marcos Valério. Esses extratos foram entregues à PF.
O volume de recursos movimentado pela Natimar é grande
-Quaglia reconhece ter recebido
US$ 14 milhões em empréstimos
do exterior. A empresa, no entanto, avisou ao BC (Banco Central)
que poderia receber US$ 49,4 milhões (cerca de R$ 113 milhões).
Foram sete registros entre fevereiro de 2003 e abril de 2005. Segundo o BC, o dinheiro vinha de
duas offshores -a Discovery, do
Paraguai, e a Arcoman Trading,
do Uruguai.
O registro funciona como uma
autorização prévia do BC. A diferença entre os US$ 49,4 milhões
registrados no BC e os US$ 14 milhões reconhecidos pelo argentino tem uma explicação simples
-algumas operações autorizadas
podem não ter se concretizado.
O problema é que a sede da Natimar não combina com a de uma
empresa que recebe seja US$ 14
milhões ou US$ 49,4 milhões. A
empresa funciona numa casa de
classe média baixa no bairro do
Rio Vermelho, em Florianópolis,
que o próprio dono da empresa
define como "modesta".
Além disso, Quaglia é o único
funcionário da Natimar e não tem
telefone celular. A filial em São
Paulo funciona num prédio que
abriga empresas virtuais na região da avenida Nove de Julho. O
aluguel de um conjunto custa cerca de R$ 1.500. É comum que os
sócios da Natimar fiquem até três
meses sem aparecer por lá.
Colaborou SHEILA D'AMORIM, da Sucursal de Brasília
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