São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2006

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Meu palanque é aula de política, diz petista

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A BELÉM (PA)

"Uma aula de pós-graduação em sociologia política." Foi assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu ontem o palanque montado para ele em Belém, que reuniu os candidatos a governador do PT e do PMDB de Jader Barbalho. Ele conclamou os dois partidos a se unirem contra o adversário comum: os tucanos, a quem chamou de aves "predadoras".
"Eu queria saber se tem algum cientista político aqui assistindo a esse comício ou se a imprensa vai registrar. Não é um simples comício, é uma aula de pós-graduação de sociologia política." O presidente pediu votos para a candidata Ana Julia Carepa (PT) e para José Priante (PMDB). Os dois tentam levar para o segundo turno a disputa contra o tucano Almir Gabriel: "Ana Júlia e Priante, vocês fizeram um gesto de democracia como poucas vezes foi feito neste país".
"É chegada a hora de parar de brigar entre nós e saber quem é o adversário principal. Não adianta o PC do B e o PT ficarem de um lado e eles ficarem, o PFL, o PSDB, e outras forças de direita, conservadoras, reunidos do outro lado... Podemos até ter os defeitos que eles querem, mas os nossos defeitos certamente são menores do que os defeitos que eles têm. Fizemos mais pelo Brasil do que eles fizeram", declarou Lula.
No comício para cerca de 10 mil pessoas, segundo os organizadores, desfilou uma galeria de companheiros de palanque com problemas na Justiça, a começar pelo candidato a deputado federal Jader Barbalho, cujo filho, o prefeito de Ananindeua, Elder Barbalho, foi encarregado de fazer um discurso empolgado em defesa de Lula. Integrante do conselho político da campanha de reeleição, Jader é responde pela acusação de desvios de verba da Sudam.
Participaram ainda do comício Paulo Rocha (PT), mensaleiro e candidato a deputado federal (ficou atrás no palco, mas foi cumprimentado por Lula) e o também candidato à Câmara Ademir Andrade (PSB), preso em abril pela Polícia Federal acusado de desviar verba da Companhia Docas do Pará.
Lula pediu que professores universitários estudassem "a fundo" o que a "revolução" em sua trajetória: os pobres que em 1989, 1994 e 1998 tinham medo de votar nele agora o escolhiam. O presidente fez sua própria teoria: "Sabe qual foi a revolução? É que vocês vêem em mim uma extensão de vocês. Sabem que podem governar este país. Essa é a revolução que a elite política ainda não quer entender. Já vi gente escrever: "Esse povo tá demais'".
Para o ataque ao PSDB, Lula escolheu comparar os hábitos dos tucanos na natureza e na política: "Não sou especialista em tucanos, mas lá na Granja do Torto tem um pequeno parque. De vez em quando um pequeno grupo de tucanos sai do Parque Nacional e pára na Granja do Torto. Sabe para quê? Param para comer os ovos e os filhotes dos passarinhos nos ninhos. São predadores, apesar daquela beleza. E o que fizeram ao Brasil foi exatamente isso. Analisem o resultado, qual foi o tratamento que a população pobre teve", disse.
O presidente insistiu na metáfora para dizer que o povo o preferirá ao PSDB: "O povo tá esperto, o povo tá sabido e não é a plumagem nem o bico dos tucanos vão ensinar o povo a não gostar de sabiá, de curió, de pintassilva, de galo de campina e de toda a extraordinária fauna brasileira". E agregou: "Quando aparecem [tucanos] na TV tagarelando, batendo o bico, o povo diz: peraí: Mentir uma vez tá certo, mentir duas vezes tá certo, mas mentir uma terceira vez nós não vamos acreditar mais".
O presidente contou que aconselhou ao ministro da Controladoria Geral da União, Waldir Pires, a trocar os remédios de hipertensão mais caros por comprados na Farmácia Popular: "Economiza R$ 54 e vá tomar uma cervejinha, que somos filhos de Deus e também temos direito. Pelo amor de Deus, a vida não é só discurso, não é só trabalho. A vida é também prazer, é essa alegria que estou vendo na cara de vocês".


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