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ENTREVISTA DA 2ª/CESAR MAIA
PFL vai se separar do PSDB se Alckmin perder, diz prefeito
Expoente do PFL acredita que abstenção do eleitorado de Lula permitirá ida ao segundo turno, mas critica a desorganização e o marketing da campanha tucana
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem |
O prefeito do Rio, Cesar Maia, que acredita num segundo turno |
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Na condição de crítico, o prefeito do Rio, Cesar Maia,
aponta a desorganização do PSDB como obstáculo à
ida de Geraldo Alckmin ao segundo turno: "O PFL foi
muito mais o partido do Alckmin que o PSDB". Embora aposte na abstenção dos eleitores de Lula, Maia decreta o divórcio entre PSDB e PFL em caso de derrota:
"Alckmin não ganha a eleição, o PFL vai ter candidato
à Presidência, inexoravelmente".
FOLHA - Como o sr. avalia o cenário
eleitoral?
CESAR MAIA - Uma campanha
polarizada como esta exigiria
que o candidato de oposição
desse maior nitidez à polarização. Numa eleição com reeleição, onde a avaliação do governo é normal, o eleitor precisa
ter razões para que o governo
não continue.
FOLHA - O programa do candidato
não dá essas razões?
MAIA - O problema é o tempo.
Na TV, tem de dar o tom na entrada: se muda ao longo da
campanha, passa ao eleitor que
é apelação. Nestas eleições há
um quadro novo. Uma região
garantiria a vitória do Lula em
primeiro turno: Norte e Nordeste. Um processo delicado.
FOLHA - Qual?
MAIA - A base de legitimação
do Lula vai ser muito baixa. Como se governa eleito por uma
concentração espetacular de
votos numa só região? Do ponto de vista da estabilidade, o segundo turno é agregador. São
dez minutos de TV para cada
um dizer o que vai fazer, porque
por enquanto eles só dizem o
que fizeram. Lula fez coisas do
arco da velha, Alckmin fez coisas maravilhosas em São Paulo.
Do ponto de vista de jogar para
frente, são generalidades.
FOLHA - Falta programa de governo?
MAIA - Certamente, tem documento. Mas o eleitor não percebe essas propostas. Lula diz que
fez um monte de coisas, o eleitor fica cético. Ele mente demais na TV, mas alguma coisa
ele fez. O Alckmin fez muito em
São Paulo. E para frente? É um
homem de bem, sério. Está
bem, é uma preliminar. Agora,
o que ganho com isso?
FOLHA - O sr. acha mesmo que pode haver segundo turno?
MAIA - Pode. Os institutos não
conseguem pesquisar a população que não pode votar, porque
ela não é atingível, mas ela é da
base da amostra. Os presos estão. Uma pessoa imobilizada,
doente, está. O Datafolha diz
que são 10% de brancos, nulos e
indecisos. No dia da votação vamos ter 25%, no mínimo, de
abstenção, brancos e nulos. Essa parte que não foi amostrada
é proporcionalmente maior para que candidato? Para o eleitor
do Lula, que é o eleitor mais pobre. O Datafolha colocou segundo turno de dois salários
mínimos para cima. Só de zero
a dois é que não colocou. E zero
a dois, mais da metade está no
Nordeste.O Nordeste tem em
geral o dobro da abstenção do
Sudeste e do Sul. O preso, em
geral, são as pessoas mais pobres. As pessoas que têm maior
dificuldade de mobilidade, em
geral, são as pessoas mais pobres. As pessoas que migram,
normalmente, no Brasil são as
pessoas mais pobres, que não
puderam ainda fazer a atualização do seu título eleitoral...
FOLHA - Lula é afetado pelo perfil
do eleitor?
MAIA - É, duplamente. Pelos
segmentos de renda menor e
pela concentração regional.
São dez pontos. Se o Alckmin
conseguir tirar dessa diferença
uns quatro pontos, cinco, a abstenção resolve o resto, e vamos
para o segundo turno.
FOLHA - O que ele precisa mudar?
MAIA - Primeiro, a campanha
tem um núcleo central e não
tem núcleos regionais num país
continental. Você não tem articulação com as pesquisas locais
para que se dê informação à
campanha presidencial a respeito dos aspectos regionais.
Não há orientação. A tática melhor é em direção aos que negam voto ou àqueles que estão
no voto dele? Ele deve chegar
na televisão e falar de educação
popular, do "dose certa" etc.?
Está tentando entrar no eleitor
do Lula. Por que vai ficar disputando com Lula?
FOLHA - É errado tentar conquistar
o eleitorado do Lula?
MAIA - Não pode abandonar.
Mas ele tem que falar para o
eleitor dele. Tem de dizer por
que o outro não é competente.
Ele tem um medo tremendo de
dizer o nome do outro. O cara é
presidente, está aí há quatro
anos, candidato à reeleição, ele
diz: "Está errado". O contraste
tem de ser mais contundente. A
crítica que ele faz ao Lula não é
suficiente para o eleitor mudar.
FOLHA - O sr. acha que ele tem medo de falar o nome do Lula?
MAIA - Ele tem uma linha de
comunicação. Você já viu o programa do Serra? Vejo todo dia.
É igualzinho ao do Alckmin. O
mesmo texto, é um programa
igual. Você tem um candidato,
que é um candidato à reeleição
do PSDB, que é o Serra, com um
currículo mais amplo e que faz
um programa igual ao programa de alguém que quer derrubar o candidato do governo. Alguma coisa está errada.
FOLHA - Com essa fórmula, dá para
chegar ao segundo turno?
MAIA - Dá. Porque o Alckmin
está crescendo um, meio, um; a
Heloísa parada, os outros parados. Dá. Agora, chegando na
eleição com a manchete dos
jornais "Lula vai ganhar no primeiro turno" e você [com terço
na mão] rezando para a abstenção ter uma proporção ainda
maior do que imaginava.
FOLHA - E se as manchetes forem
"Lula está dez pontos na frente"?
MAIA - Se disser que Lula está
com seis pontos na frente, sete,
Alckmin vai rezar. Se disser:
"está com três", Alckmin vai
para o segundo turno. Se disser
que está com dez, não tem
chance, acabou.
FOLHA - Falta comunicação?
MAIA - Falta coordenação.
FOLHA - Em janeiro o sr. disse que
abriria mão da candidatura à Presidência em favor de Serra. O Alckmin
foi escolhido. O PSDB errou?
MAIA - Não sei se o PSDB julgou mal. Se o PSDB não ganha
o Estado de São Paulo, desaparece. Na inauguração do comitê
do Paulo Renato, Fernando
Henrique disse: "Precisamos
reconstruir o PSDB". O PSDB
sai dessa campanha completamente esfacelado. Se antes se
dizia que o PSDB era um partido paulista, eu diria: ele é exclusivamente paulista. Acabou.
E o FHC percebe isso. Quer dizer, o Aécio, em Minas, o que é?
O PSDB? O que aconteceu no
Ceará? Então, sai em frangalhos. Se o PSDB não ganha as
eleições de São Paulo, ele vai
ter que começar de novo.
FOLHA - O que o sr. achou dessa
carta do Fernando Henrique?
MAIA - Uma carta daquela é
ruim, de quem já está tratando
do dia seguinte da eleição. Muito interessante para ser lida no
dia 2 de outubro. Agora, no dia
10 de setembro? Tenho convicção que pode dar segundo turno. Ele, o quadro mais importante destacadamente do
PSDB, não.
FOLHA - Nesse caso o sr. fica com
Aécio?
MAIA - Aí eu não sei, porque aí
é um outro jogo, sabe? A reeleição faz isso. Faço eleição hoje e
estou trabalhando com 2008 e
2010. Olho o quadro eleitoral
do Rio e vejo quem não pode se
fortalecer, porque vai ser um
candidato muito forte para derrotar em 2008. Em 2010? Trabalho com esse nível de pragmatismo. Como disse na convenção do PFL para o Alckmin:
"Você vai ganhar a eleição e é o
candidato do PFL à reeleição".
O Alckmin não ganha a eleição,
o PFL vai ter candidato à Presidência da República, inexoravelmente. Porque o PSDB sai
fraco. O PFL sai forte desta
eleição. Muito mais unido.
Muito mais estruturado.
FOLHA - Acha que Tasso contribuiu
para o esfacelamento do partido?
MAIA - Às vezes em que estive
direta ou indiretamente em
reuniões com o Tasso, acho que
ele certamente não foi o problema. Tasso estava na linha de
abrir com confronto. Queria
trazer o Lavareda, que tinha essa visão da campanha. Foi feita
a opção pelo candidato.
FOLHA - Então o problema é o candidato?
MAIA - Não. O problema era o
grupo do candidato. Tinha uma
história de sucesso que tentou
repetir em quadro diferente.
Por maior talento que tenha o
homem de publicidade, que é o
Gonzalez, quem diz o que quer
comunicar é o político.
FOLHA - O sr. já disse que o PSDB
iria inviabilizar a ida do Alckmin ao
segundo turno. Ainda pensa assim?
MAIA - Se eu disse que a desorganização do PSDB seria um
obstáculo à ida dele ao segundo
turno, está se confirmando. Isso o ACM falou. O Tasso ficou
dez dias no interior do Ceará.
Coincidência ou não, depois
desses dez dias, o Cid Gomes
passou à frente. Chamei atenção lá na frente que o PSDB estava dividido. Aí o Tasso deu
um troco no Rodrigo -filho do
papai etc.- e deu uma chamuscada. Mas era isso. Recebi aqui
o prefeito de Juazeiro, que é
Tasso, e me disse: lá a orientação nossa é tudo contra o Lúcio
Alcântara. Eles vão desmontar
a candidatura deles por que
existe um partido informal que
é Ciro Gomes-Tasso Jereissati.
O Germano Rigotto me pediu:
"Telefone para o Alckmin e diz
para tirar a Yeda que vou
apoiá-lo". O PSDB não teve
condição de fazer isso. Não teve condições de tirar a Abadia...
FOLHA - Na Bahia...
MAIA - O Imbassahy. Para
quem tem o PFL com uma estrutura verticalizada, como na
Bahia, querer derrotar o PFL
para o Senado é um duro golpe
no coração da ACM. Pela experiência que teve com o PT em
2004 e pela importância que dá
ao Alckmin, ACM acabou até
relegando ao segundo plano.
Mas que doeu, doeu. Custava
ter levado o Imbassahy para deputado federal? Tá bem. Jutahy
prometeu no túmulo do pai fazer oposição a vida inteira. Essas coisas são inacreditáveis.
Então tira o Jutahy de presidente. É tão simples. Volta em
dezembro. O partido que não
tem condições de fazer o deslocamento de um quadro menor!
Se fosse um Tasso... Mas um deputado, um líder medíocre...
FOLHA - E o caso da Roseana?
MAIA - Não tinha muito jeito. A
reunião na casa dela com Alckmin foi muito ruim. Ela pediu
para ele não ir ao Maranhão.
Por todas as razões do mundo,
ela carrega uma mágoa gigantesca: ela atribui a mágoa ao coração do governo FHC. Na hora
que se colocou o grampo sob a
hipótese de tráfico de drogas no
Maranhão. E essa máquina fez
o acompanhamento dos recursos de pré-campanha. Porque
aquele recurso era para pré-campanha, por exigência do
marqueteiro que queria receber em caixa dois. Quando essa
mágoa bate, bate forte...
FOLHA - Os casos mais emblemáticos?
MAIA - São Abadia [DF] e Yeda
[RS]. O interesse é do Alckmin.
Não é nosso, não. Em Santa Catarina, o Bornhausen conseguiu fazer uma costura e engoliu todas as razões de conflito
com Luiz Henrique. O PFL fez
todos os gestos de agregação. O
PFL foi muito mais o partido do
Alckmin do que o PSDB.
FOLHA - O sr. acha que tem reciprocidade?
MAIA - Não importa. O tipo de
contato com Alckmin foi afiançando que os compromissos
são para valer. Não tenho dúvida que o Alckmin entende os
problemas do Rio. Sabe quem
está fazendo a campanha para
ele. Como presidente, reconheceria a liderança do Rio.
FOLHA - Mas, ao mesmo tempo,
ele não acolhe as propostas para o
programa de TV?
MAIA - Ele já errou. Não adianta fazer uma reversão do programa que só vai piorar. Errou
na partida. Imaginar em fazer
uma reunião do Conselho Político em julho em que estavam
todos eufóricos e o coordenador de comunicação chegou no
encerramento... É que estava
todo mundo com humor tão alto, e o otimismo tão grande...
FOLHA - O senhor acredita no divórcio para as próximas eleições?
MAIA - O Bornhausen falou
que, se não ganharmos a eleição, o divórcio será inexorável.
Nas eleições, vários partidos
não cumprirão a cláusula de
barreira. Minha opinião é que a
direção fernandohenriquista
do PSDB tentará agregar o PPS
e o PV e empurrar o partido para a esquerda. E melhorar a
imagem do partido. Isso daí vai
levar inevitavelmente a uma
separação pela organicidade do
PFL. O PFL é de centro-direita.
À medida que o PSDB vá buscar, enquanto oposição, se perder a eleição, o caminho mais à
esquerda, é inexorável essa separação. Vai haver.
FOLHA - Como o senhor vê o do
Alckmin? O programa é limpinho.
MAIA - Um dia desses vi num
programa do Alckmin, ou do
Serra, que um conjunto habitacional foi entregue. O sujeito
morava num barraco; aí, o sujeito chega na casa dele e tem
um carro na garagem. Um carro. Como sai do barraco e tem
um carro? Talvez nem seja dele. Mas o cara edita. Não pode
passar. É um programa muito
asséptico. Como é água mesmo? Insípido, inodoro...
FOLHA - É o chuchu?
MAIA - Mas não é ele. O que esses marqueteiros estão fazendo
com os políticos é enquadrar
no teleprompter. É uma barbaridade. O cara está acostumado
com o William Bonner, com a
Fátima Bernardes. O Lula também. Falam sobre transporte,
emoção, casa popular... As feições não mudam. O Lula faz
uma movimentação com a mão
direita para acompanhar o teleprompter. O Alckmin lê bem o
teleprompter. Ele pensa que lê
bem. Quem lê bem é o William
Bonner.
FOLHA - Já fez as pazes com Aécio.
MAIA - Ele está em campanha.
Não tem tempo para isso.
FOLHA - Mas o que acha dele desde
então?
MAIA - Desde então ou desde
sempre? O Aécio procura seguir uma escola política superada, que é a escola mineira caricaturizada, que são as boas
saídas, que é o marquês do Paraná, um ministério de composição de todas as forças políticas, a imagem do Alkmin, do
Benedito Valadares, do Tancredo... Não sei se ele consegue fazer isso passando realidade...
FOLHA - O sr. acredita nu ma aliança entre Alckmin e Aécio para a presidência do partido?
MAIA - O Alckmin pode ser
convidado, mas não tem lastro
partidário para, numa hipótese
de derrota, disputar a Presidência. O Aécio, ao que eu saiba, ainda não saiu de Minas.
FOLHA - E o sr. é candidato?
MAIA - Se estivesse na Inglaterra, diria que sou. No Brasil
não há como fazer essa previsão antes. Evidentemente participo do jogo de 2006 olhando
para MG, SP, sou do Sudeste
também, e olhando para o quadro nacional, posicionando o
PFL através de mim. Os outros
que se posicionem no PFL através de cada um deles. Não estou
nesse jogo fortalecendo meus
adversários do mesmo campo.
Do outro campo, a gente não
pode fazer nada. A gente participa de 2006 se diferenciando.
Eu me diferenciei do Aécio.
Uma coisinha ali, uma batidinha aqui. Agora a gente tem
uma equação Serra. Ele saiu
uma vez. Sai a segunda?
FOLHA - O sr. acha que vai ser um
impeditivo para ele?
MAIA - Vai ser um constrangimento. Não vai ser uma solução
fácil para ele. O que é isso? Saiu
com ano e meio? Depois sai
com três anos e três meses? Vai
ser presidente? Vai ser secretário-geral da ONU? Saiu de São
Paulo para São Paulo, aí sai de
novo e entrega a um deputado
que não é exatamente uma liderança popular eufórica. Vai
ter dificuldade. Ele sabe disso.
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