São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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JANIO DE FREITAS

Fora de questão


Apesar da escassez de indagações mais apropriadas, a constante das respostas de Jobim na CPI foi a contradição

O MELHOR que o ministro Nelson Jobim pôde oferecer à CPI das Escutas Telefônicas, a propósito dos seus motivos para induzir Lula a afastar os diretores da Abin, foi a dupla contradição de palavras, no depoimento, e de conduta no governo. A constante de suas respostas, aliás, foi a contradição, apesar da escassez de indagações mais apropriadas.
Sua indução ao afastamento do delegado Paulo Lacerda e demais dirigentes da PF, já na primeira reunião convocada por Lula sobre a escuta de Gilmar Mendes e Demóstenes Torres, foi explicada como um fato apenas objetivo: "A participação da Abin em investigação de que não poderia participar, porque se tratava de um crime comum. Era preciso investigar isso".
Àquela altura, não havia dados sobre a participação de agentes da Abin em atividades da Operação Satiagraha, apenas a indicação, factual e jornalisticamente vaga, de que as informações sobre aquela gravação foram dadas a "Veja" por "um agente da Abin". A suspeita de participação da agência foi fortalecida, isso sim, pelo afastamento tão imediato, e sem explicação pública simultânea, do dirigente até ali tão prestigiado por seu desempenho na Polícia Federal.
À altura da precipitada reunião na Presidência, no entanto, já estavam sob questionamento várias atitudes do delegado Protógenes Queiroz na condução da Satiagraha e os transbordamentos nada policiais do seu relatório. Precedentes que, por si só, incluíam policiais federais no mesmo nível de suspeição dos agentes da Abin. Ou seja, no mínimo, de ação tão ilegal, embora diferente, quanto a de pessoas da Abin.
A ser o motivo, de fato, para afastamentos imediatos, a suspeição de atividades ilegais teria atingido as duas partes em mais evidência.
Além disso, na própria área de Nelson Jobim, o Ministério da Defesa, ao menos dois militares da ativa estão citados como mais comprometidos com participação ilegal na Satiagraha, e seus indícios de desdobramentos, do que qualquer outra pessoa de fora da PF. Ambos da FAB, são o major Paulo Ribeiro Branco Junior e o sargento Idalberto Matias de Araujo, cuja suspeição já os submete a sindicância em sua corporação. Nem por isso Nelson Jobim propôs e muito menos se propôs a afastar os superiores dos dois -o que não teria sentido mesmo, como não teve também para Luiz Fernando Corrêa, da PF, mas valeu para Paulo Lacerda, motivo de indignações no Supremo Tribunal Federal presidido por Jobim ao tempo daquelas operações tipo Daslu.
Pergunta inconveniente, resposta fácil: "Estou aqui para falar de fatos, não para dar opinião". E, afastada a pergunta, longas digressões entrelaçando desde opinião e propostas para o relatório da CPI, até sugestões de leis e de novas regras de importação de equipamentos policiais, sem faltar nem sequer a inadequada presença da aviação comercial no Ministério da Defesa.
De tudo, sobrou tudo o que já havia, incluída a divergência entre o que diz Nelson Jobim e o que diz o general Jorge Felix, ministro da Segurança Institucional, a respeito de gravadores e maletas, estes subprodutos que desalojaram a questão principal.


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