São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS CASSAÇÕES

Número reduzido de renúncias contraria as expectativas do Palácio do Planalto

Desfecho prolonga crise até 2006 e atrapalha Lula

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O maior perdedor com o número reduzido de renúncias foi o Palácio do Planalto, que nas últimas semanas trabalhou intensamente para liquidar o caso do "mensalão". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desejava o maior número possível de renúncias. Assim, o caso esfriaria. Agora, há 14 processos de cassação em andamento -11 abertos ontem e mais três que estavam tramitando.
O presidente terá de conviver mais alguns meses com a crise, pois não há tempo para o Congresso votar esses casos até o final do ano.
Na sua estratégia de tentar convencer os cassáveis a renunciar, Lula teve a ajuda do seu atual núcleo de apoio direto para assuntos relacionados ao Congresso: Renan Calheiros (PMDB-AL, presidente do Senado), Aldo Rebelo (PC do B-SP, presidente da Câmara), Arlindo Chinaglia (PT-SP, líder do governo na Câmara) e Jaques Wagner (ministros de Relações Institucionais).
Esse grupo palaciano fracassou. De 13 possíveis cassações, conseguiu apenas duas renúncias, as de José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA).
O que levou a maioria dos deputados a não renunciar foi a possibilidade, no mínimo incerta, de conseguirem uma absolvição quando seus processos chegarem ao plenário. Contam com dois fatores que consideram fundamentais: tempo e o plenário da Câmara nunca ter optado por fazer cassações em massa e de maneira indiscriminada.
Dos 14 processos em andamento, só três têm chance de conclusão neste ano. Todos os 11 que foram abertos ontem vão ser protelados ao máximo pelos acusados. Usarão todos os recursos possíveis para levar o mais longe possível a votação final, em plenário.
Cada acusado pode indicar até cinco testemunhas de defesa. "Quando a testemunha for lá, a gente pede aos deputados amigos para irem fazer as perguntas. É um dia para cada testemunha", diz o presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), ele próprio um dos cassáveis.
Os 11 cassáveis com processos abertos ontem podem apresentar, ao todo, 55 testemunhas. Em novembro, há dois feriados que inviabilizam quase metade do mês para efeitos congressuais.
Haverá agora uma nova disputa para que o Congresso seja convocado extraordinariamente em janeiro -o recesso tradicionalmente vai de 16 de dezembro a 31 de janeiro. Para o governo, seria bom para tentar liquidar o quanto antes os processos de cassação e retirar da frente o escândalo do "mensalão". Mas sempre há o ônus de pagar salários extras para os congressistas, além de alimentar a crise durante o período das festas de fim de ano.
Na conta dos deputados acusados, há espaço para manobrar e fazer com que os últimos processos de cassação sejam julgados apenas em março ou abril. Esse período coincide exatamente com a época de negociações para a alianças eleitorais de 2006.
Esse cenário seria constrangedor para Lula. A lista de cassáveis tem políticos do PT, PP, PL e do PTB, todos partidos potencialmente aliados na eleição de 2006.


Texto Anterior: Janio de Freitas: Na boca do caixa
Próximo Texto: Deputado atrasa relógio à espera das renúncias
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.