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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS CASSAÇÕES
Número reduzido de renúncias contraria as expectativas do Palácio do Planalto
Desfecho prolonga crise até 2006 e atrapalha Lula
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O maior perdedor com o número reduzido de renúncias foi o Palácio do Planalto, que nas últimas
semanas trabalhou intensamente
para liquidar o caso do "mensalão". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desejava o maior número possível de renúncias. Assim, o caso esfriaria. Agora, há 14
processos de cassação em andamento -11 abertos ontem e mais
três que estavam tramitando.
O presidente terá de conviver
mais alguns meses com a crise,
pois não há tempo para o Congresso votar esses casos até o final
do ano.
Na sua estratégia de tentar convencer os cassáveis a renunciar,
Lula teve a ajuda do seu atual núcleo de apoio direto para assuntos
relacionados ao Congresso: Renan Calheiros (PMDB-AL, presidente do Senado), Aldo Rebelo
(PC do B-SP, presidente da Câmara), Arlindo Chinaglia (PT-SP,
líder do governo na Câmara) e Jaques Wagner (ministros de Relações Institucionais).
Esse grupo palaciano fracassou.
De 13 possíveis cassações, conseguiu apenas duas renúncias, as de
José Borba (PMDB-PR) e Paulo
Rocha (PT-PA).
O que levou a maioria dos deputados a não renunciar foi a possibilidade, no mínimo incerta, de
conseguirem uma absolvição
quando seus processos chegarem
ao plenário. Contam com dois fatores que consideram fundamentais: tempo e o plenário da Câmara nunca ter optado por fazer cassações em massa e de maneira indiscriminada.
Dos 14 processos em andamento, só três têm chance de conclusão neste ano. Todos os 11 que foram abertos ontem vão ser protelados ao máximo pelos acusados.
Usarão todos os recursos possíveis para levar o mais longe possível a votação final, em plenário.
Cada acusado pode indicar até
cinco testemunhas de defesa.
"Quando a testemunha for lá, a
gente pede aos deputados amigos
para irem fazer as perguntas. É
um dia para cada testemunha",
diz o presidente nacional do PP,
deputado Pedro Corrêa (PE), ele
próprio um dos cassáveis.
Os 11 cassáveis com processos
abertos ontem podem apresentar,
ao todo, 55 testemunhas. Em novembro, há dois feriados que inviabilizam quase metade do mês
para efeitos congressuais.
Haverá agora uma nova disputa
para que o Congresso seja convocado extraordinariamente em janeiro -o recesso tradicionalmente vai de 16 de dezembro a 31
de janeiro. Para o governo, seria
bom para tentar liquidar o quanto
antes os processos de cassação e
retirar da frente o escândalo do
"mensalão". Mas sempre há o
ônus de pagar salários extras para
os congressistas, além de alimentar a crise durante o período das
festas de fim de ano.
Na conta dos deputados acusados, há espaço para manobrar e
fazer com que os últimos processos de cassação sejam julgados
apenas em março ou abril. Esse
período coincide exatamente com
a época de negociações para a
alianças eleitorais de 2006.
Esse cenário seria constrangedor para Lula. A lista de cassáveis
tem políticos do PT, PP, PL e do
PTB, todos partidos potencialmente aliados na eleição de 2006.
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