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Marcos Nobre
O dinheiro não vota
DE POLÍTICA mesmo
tivemos apenas os
últimos 15 dias. Mas
surgiram nesse curto período problemas realmente
importantes. Só não foram
aprofundados porque Alckmin nada tem a dizer.
Quando teve a chance,
quando seu conselheiro
econômico Nakano pôs as
cartas na mesa, Alckmin
disse que no governo dele
só falava ele. E calou-se.
Só abre a boca para perguntar: "de onde veio o dinheiro?" E o mais surpreendente é que todo
mundo sabe a resposta: de
um sistema político decrépito a que o governo Lula se
adaptou ao invés de reformar. Para além da esfera
criminal, o que importa é a
estrutura política que produz o dinheiro e como reformá-la para fortalecer a
democracia.
Não o emplastro charlatão da "reforma política",
receitado sempre que problemas reais aparecem e
não se quer resolvê-los de
verdade. Não chavões como
o do "voto distrital" ou "distrital misto". Um sistema
político que não consegue
resolver nem mesmo se deve ou não haver emendas
parlamentares individuais
ao Orçamento vai conseguir demarcar distritos?
Partidos como os que conhecemos vão agora fazer
"listas fechadas" de candidatos? Conversa fiada.
Uma conversa séria poderia começar por uma avaliação das novidades dessas
eleições. Já dá para perceber, por exemplo, que a verticalização foi um desastre.
Foi imposta pelo TSE de
maneira extemporânea, no
prazo-limite para as negociações finais de alianças, e
produziu uma confusão
partidária e eleitoral inédita mesmo para padrões
brasileiros.
Conjugada ao dispositivo
da cláusula de barreira,
conseguiu o contrário do
que se pretendia: aumentou a dispersão de votos e
mostrou o apreço do eleitorado por pequenos partidos. Isso sem contar, uma
vez mais, a desastrada intervenção do TSE, que
apresentou três interpretações diferentes do dispositivo. (Aliás, será que o Conselho Nacional de Justiça
vai fazer uma avaliação séria da atuação do TSE nessas eleições?)
A polarização efêmera
deste segundo turno não
deve deixar esquecer a modorra que foi o primeiro.
Não deve deixar esquecer o
desânimo inédito com que
o eleitorado foi votar. Não
deve deixar esquecer que
aumentaram significativamente os votos brancos e
nulos nas eleições proporcionais. É preciso fazer mudanças radicais, que tornem o sistema político sujeito a controles rígidos e
permanentes, para além
das eleições a cada quatro
anos. O financiamento público de campanhas pode
ser um bom ponto de partida para essa discussão.
Mas, principalmente, é
preciso que mudanças radicais tragam de volta o prazer de votar, prazer que se
podia ver nas ruas e nos rostos até 2002. Já é mais que
tempo, por exemplo, de se
pensar seriamente em tornar o voto facultativo. Nesse caso, o eleitorado teria
muito mais do que a possibilidade de decidir se o que
de fato importa é perguntar
de onde veio o dinheiro.
MARCOS NOBRE é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap
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