São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2006

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ELIO GASPARI

Lula, de onde veio o dinheiro?

Nosso guia está na cadeira de Getúlio Vargas, mas fala como se fosse Gregório Fortunato

O MINISTRO DA Justiça, Márcio Thomaz Bastos, acusa a oposição de tentar "privatizar" a investigação do dossiê Vedoin para "criar um clima de República do Galeão". Pode ser que tenha razão, mas enquanto o presidente da República insistir em dizer que a mercadejança do dossiê foi "uma burrice", coisa de "aloprados" e "imbecis", Bastos haverá de concordar que o governo do qual é ministro adotou o dialeto de Gregório Fortunato.
Lula não trata a questão como chefe de um poder republicano, mas como chefe de sua própria guarda pessoal. O que aconteceu com o dossiê foi um delito, praticado por delinqüentes. Ponto.
Para quem não tem obrigação de lembrar das futricas de 1954, na noite do dia 5 de agosto, dois pistoleiros tentaram assassinar o jornalista Carlos Lacerda. Uma das balas matou o major da Força Aérea Rubens Vaz, que voluntariamente colaborava na segurança pessoal do adversário do presidente Getúlio Vargas. Abriu-se um inquérito na Polícia Civil e descobriu-se que os pistoleiros foram para o atentado num táxi do ponto próximo ao palácio do Catete. Nessa hora a investigação começou a emperrar.
Como o morto era um oficial da FAB e a arma usada era privativa das Forças Armadas, no dia 12 de agosto abriu-se um Inquérito Policial Militar, instalado na Base Aérea do Galeão. Os tabajaras foram capturados. Eram capangas de Vargas. Foi preso também Gregório Fortunato, o chefe da guarda pessoal do presidente.
Bastos deveria discutir com um psicanalista a associação que produziu. A polícia de Vargas tentou abafar a investigação. Foi o IPM que chegou aos bandidos do Catete. Mesmo assim, há um tênue eco da República do Galeão na proposta do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, de chamar a Ordem dos Advogados do Brasil para acompanhar as investigações do dossiê Vedoin.
A OAB não é um poder republicano. É uma venerável instituição que às vezes fica acima de sua época, como nos anos 70, com Raymundo Faoro na presidência. Outras vezes, fica abaixo, como aconteceu recentemente, ao se envolver numa manobra pueril de estímulo à convocação de uma Constituinte de ocasião.
O IPM da FAB tinha mais a ver com a morte do major Vaz do que a OAB com a investigação (ou o acobertamento) do dossiê Vedoin. Jereissati pode contratar um bom advogado para fazer esse serviço. Grátis, uma lista tríplice: Célio Borja, José Carlos Moreira Alves ou Paulo Brossard.
Três delegados da Polícia Federal contaram ao repórter Márcio Aith que Freud Godoy se encontrou à sorrelfa com o tabajara Gedimar Passos enquanto ele estava preso na Polícia Federal. A PF nega que isso tenha acontecido. Pouco custaria ao ministro e ao diretor-geral da polícia que requisitassem as fitas do circuito interno de vídeo do prédio onde Freud teria entrado na noite do dia 18. Tanto as fitas das portarias e dos corredores que dão acesso à sala do delegado onde Gedimar teria conversado com Freud como as da carceragem onde estava hospedado.
Recolhem os vídeos e os examinam, na companhia do procurador que acompanha o caso. Ao final dessa trabalheira, Thomaz Bastos, Paulo Lacerda e o procurador contam o que viram, empacotam as fitas e as lacram. Elas serão prova de um delito (o acobertamento da ida de Freud ao encontro de Gedimar) ou de uma mentira (a denúncia de que esse encontro aconteceu).
Uma pergunta sem resposta: se a investigação da Polícia Civil tivesse fulminado Gregório e seu capangas, Getúlio Vargas teria sobrevivido?


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