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ELIO GASPARI
Lula, de onde veio o dinheiro?
Nosso guia está na cadeira de Getúlio Vargas, mas
fala como se fosse Gregório Fortunato
O MINISTRO DA Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, acusa a oposição de tentar "privatizar" a
investigação do dossiê Vedoin para
"criar um clima de República do Galeão". Pode ser que tenha razão, mas
enquanto o presidente da República
insistir em dizer que a mercadejança do dossiê foi "uma burrice", coisa
de "aloprados" e "imbecis", Bastos
haverá de concordar que o governo
do qual é ministro adotou o dialeto
de Gregório Fortunato.
Lula não trata a questão como
chefe de um poder republicano, mas
como chefe de sua própria guarda
pessoal. O que aconteceu com o dossiê foi um delito, praticado por delinqüentes. Ponto.
Para quem não tem obrigação de
lembrar das futricas de 1954, na noite do dia 5 de agosto, dois pistoleiros
tentaram assassinar o jornalista
Carlos Lacerda. Uma das balas matou o major da Força Aérea Rubens
Vaz, que voluntariamente colaborava na segurança pessoal do adversário do presidente Getúlio Vargas.
Abriu-se um inquérito na Polícia Civil e descobriu-se que os pistoleiros
foram para o atentado num táxi do
ponto próximo ao palácio do Catete.
Nessa hora a investigação começou
a emperrar.
Como o morto era um oficial da
FAB e a arma usada era privativa das
Forças Armadas, no dia 12 de agosto
abriu-se um Inquérito Policial Militar, instalado na Base Aérea do Galeão. Os tabajaras foram capturados.
Eram capangas de Vargas. Foi preso
também Gregório Fortunato, o chefe da guarda pessoal do presidente.
Bastos deveria discutir com um
psicanalista a associação que produziu. A polícia de Vargas tentou abafar a investigação. Foi o IPM que
chegou aos bandidos do Catete.
Mesmo assim, há um tênue eco da
República do Galeão na proposta do
presidente do PSDB, Tasso Jereissati, de chamar a Ordem dos Advogados do Brasil para acompanhar as
investigações do dossiê Vedoin.
A OAB não é um poder republicano. É uma venerável instituição que
às vezes fica acima de sua época, como nos anos 70, com Raymundo
Faoro na presidência. Outras vezes,
fica abaixo, como aconteceu recentemente, ao se envolver numa manobra pueril de estímulo à convocação de uma Constituinte de ocasião.
O IPM da FAB tinha mais a ver
com a morte do major Vaz do que a
OAB com a investigação (ou o acobertamento) do dossiê Vedoin. Jereissati pode contratar um bom advogado para fazer esse serviço. Grátis, uma lista tríplice: Célio Borja,
José Carlos Moreira Alves ou Paulo
Brossard.
Três delegados da Polícia Federal
contaram ao repórter Márcio Aith
que Freud Godoy se encontrou à
sorrelfa com o tabajara Gedimar
Passos enquanto ele estava preso na
Polícia Federal. A PF nega que isso
tenha acontecido. Pouco custaria ao
ministro e ao diretor-geral da polícia
que requisitassem as fitas do circuito interno de vídeo do prédio onde
Freud teria entrado na noite do dia
18. Tanto as fitas das portarias e dos
corredores que dão acesso à sala do
delegado onde Gedimar teria conversado com Freud como as da carceragem onde estava hospedado.
Recolhem os vídeos e os examinam, na companhia do procurador
que acompanha o caso. Ao final dessa trabalheira, Thomaz Bastos, Paulo Lacerda e o procurador contam o
que viram, empacotam as fitas e as
lacram. Elas serão prova de um delito (o acobertamento da ida de Freud
ao encontro de Gedimar) ou de uma
mentira (a denúncia de que esse encontro aconteceu).
Uma pergunta sem resposta: se a
investigação da Polícia Civil tivesse
fulminado Gregório e seu capangas,
Getúlio Vargas teria sobrevivido?
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