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SERRA PELADA
Crime deve aumentar tensão na região; sindicalista dizia que, se algo lhe ocorresse, responsabilidade seria de Curió
Líder de garimpeiros é morto com 5 tiros
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
O presidente do Sindicato dos
Garimpeiros de Curionópolis
(PA), Antônio Clênio Cunha Lemos, 36, foi assassinado na madrugada de ontem com cinco tiros, dois deles na cabeça, na sede
da entidade por um pistoleiro.
O crime aumentou a tensão entre grupos rivais de garimpeiros
que disputam a direção da Coomigasp (Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada) e o direito
de explorar uma área de cem hectares do garimpo.
Cerca de 4.000 garimpeiros estão acampados e ameaçam invadir o garimpo há seis dias. Eles
montaram barracos na margem
de uma estrada de terra que dá
acesso ao garimpo.
Lemos era um dos líderes que
ameaçavam invadir a área do garimpo. Seus seguidores querem
fazer seu enterro no alto da própria Serra Pelada.
"Se isso acontecer [enterro na
Serra Pelada", vai morrer muita
gente. O clima já era tenso e com
esse crime ficou ainda mais", disse o superintendente da Polícia
Civil na região, Sílvio Maués.
No povoado de Serra Pelada,
outros 3.000 garimpeiros, ligados
ao prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió (PMDB), prometem bloquear a invasão dos dissidentes à força. Eles improvisaram
uma guarita e vigiam a entrada do
garimpo entrincheirados em
pontos estratégicos da estrada.
Curió é ex-deputado federal, ex-agente do SNI (Serviço Nacional
de Informações) e coronel reformado do Exército.
Ele ficou conhecido no início da
década de 70 como "major Curió", quando participou da investida militar contra a guerrilha do
Araguaia, na região do Bico do
Papagaio, na divisa entre Tocantins, Maranhão e Pará.
A Polícia Civil trabalha com
duas hipóteses para a realização
do crime: vingança ou disputa pelo sindicato entre os grupos rivais.
Quatro equipes policiais foram
deslocadas para fazer diligências
na região ontem.
Testemunha
Um adolescente que teria testemunhado o assassinato está sob
proteção da polícia. O suspeito de
ter cometido o crime ainda não
havia sido identificado.
Segundo a Polícia Civil, o sindicalista assassinado havia sido indiciado, acusado de envolvimento na morte de dois outros garimpeiros em 2000, no povoado de
Serra Pelada. Cunha Lemos negava o envolvimento.
O diretor do sindicato, Raimundo Benigno Moreira, cobrou uma
intervenção do presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para resolver o conflito.
Benigno disse que a morte do
sindicalista está ligada a duas
ações protocoladas na Justiça na
terça-feira passada. "Em uma
ação pedimos reintegração de todos os 41 mil garimpeiros à cooperativa e, na outra, solicitamos a
anulação do estatuto da Coomigasp", disse o diretor sindical.
A Coomigasp tem hoje 17 mil
associados, mas apenas 6.200 têm
direito ao voto por estarem em
dia com os pagamentos.
Ameaças
Nos últimos dias, o sindicalista
vinha dizendo pela cidade que, se
alguma coisa lhe acontecesse, a
responsabilidade seria de Curió.
O prefeito não foi localizado ontem. Em entrevista à Agência Folha na última sexta-feira, Curió se
eximiu de qualquer conflito que
viesse a ocorrer na região.
O clima começou a ficar tenso
em Serra Pelada depois que o
Congresso Nacional aprovou um
decreto legislativo que autoriza a
reabertura do garimpo para exploração de cem hectares, que
pertenciam a CVRD (Companhia
Vale do Rio Doce).
Agentes da Polícia Federal e deputados da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara chegam
amanhã ao local. Também amanhã, o governador do Pará, Almir
Gabriel (PSDB), deve se reunir
com Sebastião Curió e com garimpeiros rivais.
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