São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PALOCCI NA MIRA

Virtual presidente do PSDB nega que oposição "blinde" ministro e diz que "tibieza" de Lula tira-lhe autoridade para ser lastro da política econômica

Palocci é o fiador da estabilidade, diz Tasso

Lula Marques/Folha Imagem
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) concede entrevista à Folha, em seu gabinete, tendo ao fundo imagens com motivos religiosos


VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O senador Tasso Jereissati, 56, que assume hoje a presidência do PSDB, afirma que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, é "o lastro" da política econômica, pois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem "crédito para ser fiador da estabilidade".
Ele critica Lula pela "tibieza" e "dubiedade" com que defende a política econômica. E mostra que a tolerância com Palocci não se estende a Lula. "O presidente não gosta de estudar, não gosta de ler, não gosta de trabalhar, não gosta de problemas e se orgulha disso."
O senador diz que o maior desafio do PSDB é ter um projeto alternativo para a economia -que, admite, ainda não existe. Jereissati assume hoje o comando da legenda, em Brasília. Leia os principais trechos da entrevista concedida ontem à Folha.
 

Folha - A oposição deixou de inquirir o ministro Antonio Palocci sobre as acusações que pesam contra ele. Foi estratégia ou a oposição manteve a blindagem ao ministro?
Tasso Jereissati -
Essa estratégia foi decidida porque a oposição avaliou que deveria, antes de tudo, tratar o ministro Palocci com o respeito que ele merece. Fazemos oposição ao governo e ao ministro, mas, sem dúvida, ele tem um trabalho feito a este país.
O ministro Palocci sofre uma série de acusações, vindas de ex-assessores, que não podemos deixar de investigar. Por outro lado, ele também está sendo muito acossado pelo próprio governo, e não tem sido amparado devidamente pelo presidente Lula. Isso pode prenunciar um período de gastança pré-eleitoral que é defendida por setores do PT.

Folha - Mas é tarefa da oposição defendê-lo do fogo amigo?
Tasso -
Nós não vamos blindar ninguém nem estamos dando sobrevida ao ministro. O país está longe de viver um momento brilhante na economia. Mas, pelo menos nessa área, vive-se um equilíbrio, e não o caos que se vê no resto do governo. E esse equilíbrio se deve ao ministro Palocci.

Folha - Palocci será convocado pela CPI dos Bingos?
Tasso -
O ministro vai ser convocado, e ele mesmo se propôs a vir.

Folha - Ele tem condições políticas de ficar no cargo?
Tasso -
Se ele não tiver condições de esclarecer as denúncias, certamente não. Mas, mais do que isso, ele está muito enfraquecido pela indecisão, tibieza, dubiedade do presidente no trato das questões internas do governo em relação à política econômica. Em nenhum momento Lula o defendeu.

Folha - O sr. trata Palocci como o lastro da economia.
Tasso -
Sem dúvida que ele é o lastro da política econômica. Até a tibieza e dubiedade do presidente na disputa interna tiram dele a autoridade para ser esse lastro. Lula, que já não tinha crédito, perdeu qualquer possibilidade de ser o fiador da estabilidade.

Folha - Na sua gestão o PSDB fará oposição aguerrida ou fará o discurso da responsabilidade?
Tasso -
Minha gestão se baseará em dois pontos. O primeiro é que o Brasil precisa de um choque de moralidade. O descrédito em que caíram a política e o processo eleitoral tem de ser enfrentado. O segundo ponto é que o Brasil está sem projeto. O PT e o governo destruíram toda e qualquer idéia de projeto e de valores. Começa pela atitude do Lula. Ele não gosta de estudar, não gosta de ler, não gosta de trabalhar, não gosta de problemas e se orgulha disso.

Folha - E qual será o projeto do PSDB? O que tem a apresentar que não seja mais do mesmo?
Tasso -
Fomos o partido que enfrentou os grandes desafios do país. Enfrentamos o maior deles, que foi a inflação. Mas esses projetos se esgotaram e os desafios são novos. Na economia é o crescimento, como enfrentar a questão do ajuste fiscal com crescimento e maior distribuição de renda.

Folha - Mas o partido ainda não tem essas propostas, é isso?
Tasso -
Não temos a fórmula, mas temos propostas. No passado fomos à universidade e apareceram André Lara Resende, Pérsio Arida, Gustavo Franco, Edmar Bacha, Elena Landau, que fizeram o Plano Real. Queremos repetir isso com idéias novas.

Folha - O sr. assume o partido no momento da definição do candidato. A disputa será tensa como foi a de 2002, entre o sr. e José Serra?
Tasso -
Na oposição aprendemos muitas lições que serão suficientes para que não repitamos erros do passado. As circunstâncias são outras, o clima é bom.

Folha - Em 2002 o sr. acusou Serra de impor sua candidatura e depois apoiou abertamente Ciro Gomes.
Tasso -
São fatos vencidos. Eu tenho um excelente relacionamento com o Serra, com um breve episódio de afastamento.

Folha - Quais são os prós e os contras dos dois pré-candidatos, Serra e Geraldo Alckmin?
Tasso -
Só vejo prós, não contras. Os dois têm grandes qualidades, fazem grandes administrações.
Alckmin é considerado um dos melhores governadores do Brasil. Um governador que sai de São Paulo com a aprovação que ele tem está apto a assumir a Presidência a qualquer momento. Do outro lado tem o Serra, que fez uma gestão no Ministério da Saúde reconhecida internacionalmente e, agora, com pouco tempo à frente da prefeitura de São Paulo, já deu uma nova cara à cidade.

Folha - O sr. substitui na presidência do partido o senador Eduardo Azeredo, que recebeu recursos de Marcos Valério. Qual é a diferença disso para o esquema do PT?
Tasso -
O Eduardo Azeredo tem um problema de delito eleitoral, na campanha de 98. Recebeu financiamento que não foi registrado. Não há nenhuma evidência de corrupção nem de desvio de dinheiro público. O crime eleitoral é semelhante ao do Lula, mas no caso do PT começam a aparecer indícios de que houve uso de recursos públicos. Essa é a diferença.

Folha - O sr. acha que há elementos para pedir o impeachment?
Tasso -
Faremos o maior empenho para que o presidente vá até seu último dia de mandato. Torcemos para que não haja interrupção, que o processo institucional normal prevaleça e que todo presidente eleito exerça seu mandato até o fim. Mas se aparecerem evidências legais intransponíveis a lei tem de ser cumprida.

Folha - E não há evidências?
Tasso -
Até há evidências que poderiam levar a um processo jurídico, mas não existe clima para o impeachment, que é um processo que mistura o jurídico com o político. Teria de haver um claro convencimento da maioria da população, e isso não existe.


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