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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PALOCCI NA MIRA
Virtual presidente do PSDB nega que oposição "blinde" ministro e diz que "tibieza" de Lula tira-lhe autoridade para ser lastro da política econômica
Palocci é o fiador da estabilidade, diz Tasso
Lula Marques/Folha Imagem
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O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) concede entrevista à Folha, em seu gabinete, tendo ao fundo imagens com motivos religiosos |
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
O senador Tasso Jereissati, 56,
que assume hoje a presidência do
PSDB, afirma que o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci, é "o
lastro" da política econômica,
pois o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva não tem "crédito para ser
fiador da estabilidade".
Ele critica Lula pela "tibieza" e
"dubiedade" com que defende a
política econômica. E mostra que
a tolerância com Palocci não se
estende a Lula. "O presidente não
gosta de estudar, não gosta de ler,
não gosta de trabalhar, não gosta
de problemas e se orgulha disso."
O senador diz que o maior desafio do PSDB é ter um projeto alternativo para a economia -que,
admite, ainda não existe. Jereissati assume hoje o comando da legenda, em Brasília. Leia os principais trechos da entrevista concedida ontem à Folha.
Folha - A oposição deixou de inquirir o ministro Antonio Palocci
sobre as acusações que pesam contra ele. Foi estratégia ou a oposição
manteve a blindagem ao ministro?
Tasso Jereissati - Essa estratégia
foi decidida porque a oposição
avaliou que deveria, antes de tudo, tratar o ministro Palocci com
o respeito que ele merece. Fazemos oposição ao governo e ao ministro, mas, sem dúvida, ele tem
um trabalho feito a este país.
O ministro Palocci sofre uma
série de acusações, vindas de ex-assessores, que não podemos deixar de investigar. Por outro lado,
ele também está sendo muito
acossado pelo próprio governo, e
não tem sido amparado devidamente pelo presidente Lula. Isso
pode prenunciar um período de
gastança pré-eleitoral que é defendida por setores do PT.
Folha - Mas é tarefa da oposição
defendê-lo do fogo amigo?
Tasso - Nós não vamos blindar
ninguém nem estamos dando sobrevida ao ministro. O país está
longe de viver um momento brilhante na economia. Mas, pelo
menos nessa área, vive-se um
equilíbrio, e não o caos que se vê
no resto do governo. E esse equilíbrio se deve ao ministro Palocci.
Folha - Palocci será convocado
pela CPI dos Bingos?
Tasso - O ministro vai ser convocado, e ele mesmo se propôs a vir.
Folha - Ele tem condições políticas de ficar no cargo?
Tasso - Se ele não tiver condições
de esclarecer as denúncias, certamente não. Mas, mais do que isso,
ele está muito enfraquecido pela
indecisão, tibieza, dubiedade do
presidente no trato das questões
internas do governo em relação à
política econômica. Em nenhum
momento Lula o defendeu.
Folha - O sr. trata Palocci como o
lastro da economia.
Tasso - Sem dúvida que ele é o
lastro da política econômica. Até
a tibieza e dubiedade do presidente na disputa interna tiram dele a
autoridade para ser esse lastro.
Lula, que já não tinha crédito, perdeu qualquer possibilidade de ser
o fiador da estabilidade.
Folha - Na sua gestão o PSDB fará
oposição aguerrida ou fará o discurso da responsabilidade?
Tasso - Minha gestão se baseará
em dois pontos. O primeiro é que
o Brasil precisa de um choque de
moralidade. O descrédito em que
caíram a política e o processo eleitoral tem de ser enfrentado. O segundo ponto é que o Brasil está
sem projeto. O PT e o governo
destruíram toda e qualquer idéia
de projeto e de valores. Começa
pela atitude do Lula. Ele não gosta
de estudar, não gosta de ler, não
gosta de trabalhar, não gosta de
problemas e se orgulha disso.
Folha - E qual será o projeto do
PSDB? O que tem a apresentar que
não seja mais do mesmo?
Tasso - Fomos o partido que enfrentou os grandes desafios do
país. Enfrentamos o maior deles,
que foi a inflação. Mas esses projetos se esgotaram e os desafios são
novos. Na economia é o crescimento, como enfrentar a questão
do ajuste fiscal com crescimento e
maior distribuição de renda.
Folha - Mas o partido ainda não
tem essas propostas, é isso?
Tasso - Não temos a fórmula,
mas temos propostas. No passado
fomos à universidade e apareceram André Lara Resende, Pérsio
Arida, Gustavo Franco, Edmar
Bacha, Elena Landau, que fizeram
o Plano Real. Queremos repetir isso com idéias novas.
Folha - O sr. assume o partido no
momento da definição do candidato. A disputa será tensa como foi a
de 2002, entre o sr. e José Serra?
Tasso - Na oposição aprendemos muitas lições que serão suficientes para que não repitamos
erros do passado. As circunstâncias são outras, o clima é bom.
Folha - Em 2002 o sr. acusou Serra
de impor sua candidatura e depois
apoiou abertamente Ciro Gomes.
Tasso - São fatos vencidos. Eu tenho um excelente relacionamento com o Serra, com um breve episódio de afastamento.
Folha - Quais são os prós e os contras dos dois pré-candidatos, Serra
e Geraldo Alckmin?
Tasso - Só vejo prós, não contras.
Os dois têm grandes qualidades,
fazem grandes administrações.
Alckmin é considerado um dos
melhores governadores do Brasil.
Um governador que sai de São
Paulo com a aprovação que ele
tem está apto a assumir a Presidência a qualquer momento. Do
outro lado tem o Serra, que fez
uma gestão no Ministério da Saúde reconhecida internacionalmente e, agora, com pouco tempo
à frente da prefeitura de São Paulo, já deu uma nova cara à cidade.
Folha - O sr. substitui na presidência do partido o senador Eduardo Azeredo, que recebeu recursos
de Marcos Valério. Qual é a diferença disso para o esquema do PT?
Tasso - O Eduardo Azeredo tem
um problema de delito eleitoral,
na campanha de 98. Recebeu financiamento que não foi registrado. Não há nenhuma evidência de
corrupção nem de desvio de dinheiro público. O crime eleitoral é
semelhante ao do Lula, mas no caso do PT começam a aparecer indícios de que houve uso de recursos públicos. Essa é a diferença.
Folha - O sr. acha que há elementos para pedir o impeachment?
Tasso - Faremos o maior empenho para que o presidente vá até
seu último dia de mandato. Torcemos para que não haja interrupção, que o processo institucional normal prevaleça e que todo
presidente eleito exerça seu mandato até o fim. Mas se aparecerem
evidências legais intransponíveis
a lei tem de ser cumprida.
Folha - E não há evidências?
Tasso - Até há evidências que
poderiam levar a um processo jurídico, mas não existe clima para
o impeachment, que é um processo que mistura o jurídico com o
político. Teria de haver um claro
convencimento da maioria da população, e isso não existe.
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