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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FIM DE LINHA
CPI do Mensalão acaba sem votar relatório, que acolhe acusação de dinheiro ilegal em 2002
Açodado, relator acusa caixa 2 para Lula, mas nega "mesada"
ADRIANO CEOLIN
FABIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A CPI do Mensalão teve sua extinção publicada ontem pelo
"Diário do Congresso". Apesar do
esforço da oposição para coletar
171 assinaturas de deputados para
prorrogá-la por mais 30 dias, a comissão não vale mais oficialmente
desde anteontem e acabou em
fiasco e em troca de acusações entre governistas e oposição.
Mesmo assim, o relator da CPI,
deputado Ibrahim Abi-Ackel
(PP-MG), fez questão de ler seu
relatório final, que nem chegou a
ser votado. Ele admitiu o uso de
recursos ilícitos para pagamentos
de dívidas de campanha, incluindo a de Luiz Inácio Lula da Silva,
mas não concluiu a existência do
"mensalão" nos moldes descritos
por Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Ou seja, o pagamento pelo PT
de mesada de R$ 30 mil a deputados do PP e do PL em troca de
apoio político no Congresso.
"Esse recebimento de recursos
não caracteriza exatamente o que
se denominou "mensalão", ou seja, pagamentos mensais, sistemáticos", afirma o texto. "Mas houve
sem dúvida pagamentos de dinheiro em espécie", afirma.
No início da leitura do seu relatório, Abi-Ackel reforçou: "Houve recebimento de vantagens financeiras indevidas por parlamentares dirigentes partidários
com periodicidade variável, porém constante, nos anos de 2003 e
2004. Chame-se a isto de mensalão, mensalinho, semanão ou
quinzenão, quem quiser".
Ao citar Lula, responsabilizou
desde Marcos Valério de Souza ao
publicitário Duda Mendonça.
"São co-autores [os acusados]
nos atos de evasão de divisas, com
os quais quitou a dívida do PT
com os dois últimos [Duda e sócia
dele Zilmar Fernandes] decorrente da campanha de publicidade levada a termo nas eleições do primeiro e do segundo de 2002 para
a Presidência da República." E
acrescentou: "Com esses recursos
financeiros foram pagas despesas
de campanha presidencial, de governadores de Estado, de deputados federal e estadual, nas eleições
de 2002, e de prefeito municipal
em 2004".
No relatório, o deputado Abi-Ackel não listou nenhum congressista como culpado, apesar de
apontar o recebimento de recursos ilícitos. "Não é possível relacionar os parlamentares que perceberam vantagens financeiras
ilícitas, em virtude da ausência de
provas concretas", diz o texto.
Apesar de a CPI do Mensalão ter
sido instalada para investigar a
suposta compra de votos para a
aprovação da emenda reeleição,
em 1997, Abi-Ackel desconsiderou o assunto no relatório. "Não
contém revelações que mereçam
ser registradas."
Para analisar dados obtidos nas
CPIs do Mensalão, dos Correios e
dos Bingos, o Senado assinou
contrato de R$ 4,75 milhões com
três empresas de auditoria. Com o
fim da CPI do Mensalão, segundo
o Senado, as empresas deverão repassar informações às outras
duas comissões.
Acordo
Um acordo chegou a ser cogitado durante uma reunião de líderes do Senado. Eles concordaram
que se o número de assinaturas
fosse conseguido, o dia de ontem
seria computado como válido,
mesmo com o fato de os 120 dias
de funcionamento da comissão
terem se esgotado anteontem.
Avisado pelo telefone, o líder do
governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), discordou.
O fracasso no acordo foi anunciado pelo líder do Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Houve
entendimento da base no Senado,
mas não foi possível na Câmara."
Chinaglia argumentou que, se
houvesse o precedente para a CPI
do Mensalão, deveria haveria
também para a CPI dos Correios,
em que a oposição conseguiu o
número necessário para prorrogá-la até abril do ano que vem, o
que frustrou uma intensa mobilização contrária do governo.
O presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), tentou convencer Chinaglia,
mas fracassou e demonstrou pessimismo. "Se me perguntarem se
tenho certeza do que vai acontecer, digo que não. Se perguntarem
se estou exultante, digo não. Entrego nas mãos de Deus."
Mesmo com poucas chances de
êxito, líderes da base aliada encenavam um esforço para colher assinaturas até o fechamento desta
edição. Por volta das 22h30, haviam sido listados 147 dos 171 nomes necessários.
Nas palavras dos próprios integrantes da comissão, o clima era
de "velório" durante a sessão de
ontem da CPI. "Sinto que nós estamos acompanhando um enterro", disse a deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC)". "E todos
nós somos os defuntos", disse o
senador Amir Lando.
Alheio ao resultado das negociações e a reclamação dos colegas, o relator da CPI do Mensalão,
deputado Ibrahim Abi-Ackel
(PP-MG), fez a leitura de seu parecer mesmo sabendo que o ato
poderia não ter validade legal.
No final das contas, a oposição
acusou o governo de tentar abafar
as investigações. Os governistas
acusaram a oposição de fazer
"corpo mole" como forma de evitar as investigações sobre a emenda da reeleição.
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