São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

É a economia

O silêncio da oposição sobre as denúncias, no longo depoimento do ministro da Fazenda, tirou o comentarista Franklin Martins do sério.
Desde a madrugada de ontem, no "Jornal da Globo", depois na CBN e em seu site, depois no "Jornal Nacional", ele cobra:
- Não deu para entender a atitude da oposição, se recusando a perguntar sobre as denúncias. Afinal, há semanas ela vinha dizendo que ou Palocci esclarecia tudo na Comissão de Assuntos Econômicos, na reunião da semana que vem, ou seria convocado para a CPI. Pois bem, Palocci antecipa a ida, diz que está disposto a responder a todas as perguntas -e os senadores da oposição se recusam.
Para ele, "a oposição perdeu o jogo por WO, o ministro saiu mais forte do que entrou e o governo pode respirar aliviado".

 

Martins não parou por aí:
- Ficou muito claro o seguinte: estamos no meio da luta política, que vai invadindo o ano para entrar na sucessão. Todas as denúncias, todas as respostas, está tudo contaminado pela sucessão. É o que rege cada movimento dos dois lados, na Câmara, no Congresso de modo geral.
Sobre o ministro da Fazenda:
- O que a oposição queria o tempo todo era levá-lo para a CPI dos Bingos, onde tem ampla maioria. Acha fundamental esculachar o ministro para poder atingir o presidente Lula, porque o melhor ponto do presidente, nas pesquisas e em tudo, é o desempenho da economia. Quer dizer, se afetar a economia, pode chegar ao presidente.
 

Ao longo do dia, a oposição pisou no freio. Mas não o comentarista global, então no "JN":
- Tudo indica que ele vai ser convocado pela CPI dos Bingos. Mas quando será o depoimento? Ninguém sabe. O PSDB e o PFL não querem marcar a data ainda. É a convocação de gaveta. Pode ficar guardadinha ou pode vir à tona, ao sabor da luta política. [irritado] É brincadeira.
A carga prosseguiu até o fim:
- Se a oposição acha que há motivos para convocar o ministro da Fazenda, por suspeita de corrupção, que convoque. Mas tem a obrigação de marcar imediatamente o dia e a hora. E para já. Se não está segura do que quer, que retifique seus tiros. O que não dá é para deixar o ministro e a economia pulando na chapa quente, criando clima de incerteza no país, enquanto alguém espera o Carnaval chegar.
 

Pelo menos dois blogueiros concordavam, de bate-pronto, com o analista global quanto ao depoimento do ministro. No UOL, Fernando Rodrigues:
- O resumo é simples: um dia péssimo para a oposição... Há uma análise na praça segundo a qual ela fez bem em não questionar. Vão deixá-lo sangrar em público, dizem. Tenham dó. Se há elementos contra o ministro, como afirmam os oposicionistas, o que essa gente quer? A oposição só vai perguntar quando puder escolher a data?
Também Helena Chagas, em seu blog no Globo Online:
- Palocci voltou a ser Palocci e sobrevive... A oposição deve votar na semana que vem um requerimento convocando a depor na CPI do Fim do Mundo... ops, perdão, na CPI dos Bingos. Não há como não reconhecer, porém, que o ministro, usando sua velha lábia, levou a melhor sobre os oposicionistas. A esta altura, pefelistas e tucanos devem estar amargamente arrependidos de sua estapafúrdia estratégia de nada perguntar.
 

Descrevendo Palocci, em destaque, como "um ministro de finanças efetivo", mas que está "sob cerco", a "Economist" também elogiou o depoimento. E avaliou que "sua autodefesa vigorosa pode acalmar a especulação de que está para sair".
"Mas", prossegue a revista, "o inquérito vai continuar, e ele ainda não está liberado". Daí as pressões de Dilma Rousseff por mudanças na economia, que "seriam uma ameaça pequena se não fosse pelas denúncias".
Falando das denúncias, até do "ouro de Havana", a "Economist" fecha dizendo que, segundo a promotoria, "não há prova de delito contra Mr. Palocci":
- Isso amplia as suas chances de sobrevivência. O Brasil deve manter a esperança de que ele recupere o seu prestígio.

DEMOROU
carosamigos.com.br/Reprodução
No site da revista "Caros Amigos", a filósofa fala

E a filósofa Marilena Chaui falou sobre "a famosa crise" por longas oito páginas, na nova edição da revista "Caros Amigos"-e, em poucos trechos selecionados, também no site da publicação. Na manchete de ambos, para a "entrevista explosiva", "A crise é um produto da mídia".
Sem fazer distinção, ela analisa os meios de comunicação no Brasil e no mundo, se mostra pessimista com as novas mídias e discorre sobre a crise. Uma passagem:
- Eu diria que a crise me pegou, não desprevenida, porque desde o dia 1º de janeiro de 2003 eu espero o impeachment de Lula. Toda manhã acordo e pergunto: "Será que o impeachment é hoje?". Porque talvez eu seja uma das poucas marxistas que acreditam que a classe dominante opera. E que ela não vai entregar o país e o poder à esquerda. Eu diria que, se me surpreendi, foi com a demora. Demorou a vir a famosa crise.

Opostos
A Casa Branca vazou o nome de uma agente da CIA para Bob "Watergate" Woodward, do "Washington Post" -e o conflito, na cobertura dos EUA, é se a novidade amplia o escândalo político-midiático ou salva o único republicano indiciado.
Para o liberal "New York Times", o mais atingido, amplia. Para o "WP", pró-Bush, salva.

"Star system"
A redação do "WP" tem uma rede fechada, para mensagens internas de seus jornalistas.
Em público, do editor-executivo aos colunistas, todos defendem Woodward -até o lendário ex-editor Ben Bradlee, de Watergate. Na rede interna, uma mensagem do repórter veterano Jonathan Yardley questiona "o "star system" e seus riscos".


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