São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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PF apura ligação de Lacerda para gerente da Petrobras

Quebra de sigilo revelou 15 telefonemas com ex-petista envolvido no caso do dossiê

Acusado de ter levado o R$ 1,7 milhão do dossiê a hotel em SP trocou 36 chamadas com assessores e com telefone fixo da estatal


Rodrigo Paiva -7.set.2006/Agência o Globo
O ex-petista Hamilton Lacerda, envolvido no caso do dossiê


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na tentativa de desvendar a origem do R$ 1,7 milhão usado para a compra do dossiê antitucano, a Polícia Federal investiga 15 ligações telefônicas travadas entre Hamilton Lacerda, ex-petista envolvido na trama, e o gerente de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa.
De acordo com a quebra do sigilo telefônico do celular de Lacerda -em poder da PF e da CPI dos Sanguessugas-, o ex-petista conversou com Santarosa entre 2 de agosto e 14 de setembro, um dia antes da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha.
Além disso, as quebras registram oito trocas de telefonemas entre Lacerda e um assessor de Santarosa, todas no início de agosto. Por fim, há 12 ligações do telefone fixo da Petrobras para o celular de Lacerda, que telefonou de volta uma vez, a maioria em agosto. No total, são 36 ligações.
Hamilton Lacerda era o coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante (PT), candidato derrotado ao governo de São Paulo. O dossiê que petistas tentavam adquirir tinha como suposto objetivo vincular ao esquema dos sanguessugas o então adversário de Mercadante e hoje governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB). Segundo a PF, Lacerda foi o homem que entregou o dinheiro, em uma mala, a Gedimar Passos.
Dias depois do estouro do escândalo, em 15 de setembro, Lacerda foi afastado da campanha de Mercadante e, depois, foi expulso do PT. Ele nega que tenha transportado o dinheiro para a compra do dossiê.
A assessoria de imprensa da Petrobras afirmou que, com as ligações, Lacerda queria obter ingresso para o Grande Prêmio de Fórmula 1 de Interlagos, realizado no dia 22 de outubro, mais de um mês depois da última ligação que vincula o ex-petista à estatal. A Petrobras patrocina a montadora Willians e, segundo a assessoria, forneceu o ingresso ao ex-petista (leia texto nesta página).
As 36 ligações que apareceram na quebra do sigilo telefônico do celular de Lacerda são curtas. Não há nenhuma com mais de três minutos de duração. Apenas seis ultrapassam dois minutos.
A PF avalia que há uma peculiaridade nessa linha de investigação sobre os contatos de Lacerda com a Petrobras. Os federais afirmam que quando queria se comunicar com outros envolvidos no episódio, Lacerda utilizava um aparelho celular registrado em nome de Ana Paula Cardoso Vieira, uma suposta "laranja" do caso.
Nas conversas telefônicas com a Petrobras, porém, Lacerda usou o seu próprio telefone.
Mais de um mês depois da prisão de Gedimar e Valdebran com o R$ 1,7 milhão, a PF ainda não descobriu origens concretas para o dinheiro apreendido.
A PF suspeita que o dinheiro pagaria também a entrevista que a família Vedoin, a coordenadora do esquema dos sanguessugas, deu à revista "IstoÉ" insinuando a participação de Serra na fraude. Segundo rumores nunca confirmados, a revista seria beneficiada com verba de propaganda da estatal. A "IstoÉ" e a Petrobras negam.
(LEONARDO SOUZA, RANIER BRAGON, ANDRÉA MICHAEL E ADRIANO CEOLIN)

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