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Ministro do STF defende menos recursos judiciais
Para Lewandowski, Judiciário vive cenário de caos com lentidão dos processos
Magistrados reunidos em Curitiba também sugerem a substituição das decisões
escritas pelas orais para acelerar trâmite na Justiça
LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
Magistrados defenderam ontem uma reforma radical do Judiciário brasileiro, com a redução das instâncias de recursos e
até a substituição das decisões
escritas pelas orais. Tudo como
forma de acelerar o trâmite de
um processo.
Um cenário do caos que se
instalou na Justiça é o retrato
feito pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski, que participou ontem do XIX Congresso
Brasileiro de Magistrados, realizado em Curitiba.
"Hoje, cada um dos 11 ministros do Supremo tem 6.000
processos para julgar. Em média, são 14 mil decisões por ano
por ministro, isso sem contar
os milhares de recursos. É uma
carga de trabalho brutal", afirmou Lewandowski.
Num exemplo citado pelo
ministro do Supremo, de um
processo que corre em sigilo
contra um parlamentar, as testemunhas foram chamadas a
prestar depoimento há dois
anos e ainda não o fizeram.
No caso do escândalo do
mensalão, com 40 denunciados
pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de
Souza, se o processo for aberto,
o Supremo terá de convocar
380 testemunhas, segundo
afirmou Lewandowski.
Uma sugestão do ministro do
STF é a redução das instâncias
de recurso. Hoje, para um processo que começa na primeira
instância, cabe recurso no Tribunal de Justiça (segunda instância), depois no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e, finalmente, no Supremo.
Pesquisa
Esse, aliás, foi um dos problemas apontados em pesquisa
inédita realizada com quase
3.000 magistrados de todo o
Brasil, coordenado por Maria
Tereza Sadek, professora de
ciência política da USP (Universidade de São Paulo). A existência de quatro instâncias de
julgamento e o excesso de recursos foram vinculados à impunidade existente no Brasil.
"Deveríamos limitar os recursos a um duplo grau de jurisdição. Passaria por um juiz
de primeira instância e, depois,
por um colegiado de juízes que
dariam uma decisão final", afirmou o ministro.
O presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Rodrigo Collaço, concorda com a manifestação de
Lewandowski.
"Com o excesso de recursos
que existe hoje, a decisão dos 11
mil juízes de primeira instância
não vale nada. São apenas um
rito de passagem para chegar a
instâncias superiores. Isso precisa mudar", afirmou.
Na opinião de Collaço, outra
mudança necessária é em relação à mentalidade do judiciário. Hoje, no juizado especial
são permitidos recursos e sentenças orais, o que torna o processo mais ágil, sem a necessidade das pilhas e pilhas de papéis. Todas as manifestações
são gravadas.
"Mas, nem no juizado especial essa possibilidade é muito
usada. Acho que as peças orais
deveriam ser estendidas para
todo o Judiciário", afirmou Collaço, que organizou o encontro
de magistrados em Curitiba,
que termina hoje.
Tanto Lewandowski como
Collaço afirmaram que, apesar
de terem sido contrários à súmula vinculante (que prevê
sentença igual para processos
similares) durante a discussão
da reforma do Judiciário, hoje
acreditam que essa é uma forma de desafogar o sistema.
"É um mal necessário", afirmou o ministro.
Demanda
Para o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo,
Celso Limongi, o Judiciário deveria se afastar um pouco do
formalismo e ser mais pragmático. Segundo ele, cada mês o
tribunal recebe cerca de 45 mil
novos recursos.
"Precisamos de uma estrutura maior, mais pessoas, mais
computadores. Só no ano passado julgamos mais de 300 mil
processos", afirmou.
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