|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO
FHC também manda ministro afastar assessora citada por CPI
Crítica a Alvares derruba
o chefe da Aeronáutica
Ichiro Guerra - 16.dez.99/Folha Imagem
|
Brauer (à esq.), o presidente FHC e o minitro Elcio Alvares, anteontem, no Clube da Aeronáutica |
RAQUEL ULHÔA
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
Devido às constantes críticas, em
público, e a quebra de hierarquia
militar, o presidente Fernando
Henrique Cardoso mandou o ministro da Defesa, Elcio Alvares,
demitir o comandante da Aeronáutica, Walter Bräuer.
Alvares foi obrigado a afastar
também a sua assessora especial,
a advogada Solange Antunes Rezende, que teve os sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados
pela CPI do Narcotráfico.
Ontem, no início da noite, Alvares só esperava pela chegada de
Bräuer a Brasília, vindo de uma
viagem ao Rio, para demiti-lo
pessoalmente. FHC não recebeu
Alvares e deixou que ele fizesse o
anúncio público da demissão para fortalecer o ministro da Defesa.
No meio da tarde, chegou a circular a informação de que o próprio Alvares resistia ao afastamento da assessora e estaria pensando em se demitir. A Folha
apurou, junto ao Planalto, que o
ministro não entregou carta de
demissão e nem pediu para sair.
A estratégia da demissão foi
acertada em duas conversas de
Alvares com o general Alberto
Cardoso (Segurança Institucional) e com o ministro Pedro Parente (Casa Civil).
Às 19h, o próprio porta-voz do
Planalto, Georges Lamazière,
anunciava a manutenção no cargo de Alvares e acrescentou: "Sobre assuntos referentes a subordinados ao ministro da Defesa, e
afeitos à pasta dele, caberá ao próprio ministro se pronunciar".
Alvares deveria dar, por volta
das 20h, a entrevista com o anúncio oficial da destituição do comandante da Aeronáutica.
Velório
Na Aeronáutica, por volta das
13h30, o clima entre os assessores
próximos a Bräuer já era de velório. A sua última tarefa oficial como comandante da Força foi no
Rio, na solenidades de formatura
na Unifa, a Universidade de Força
Aérea Brasileira localizada no
Campo dos Afonsos, em Marechal Hermes, subúrbio carioca.
Bräuer antecipou seu retorno a
Brasília, chegando à cidade por
volta das 19h30. Antes, por volta
das 18h, Alvares reuniu-se com os
comandantes do Exército, Gleuber Vieira, e da Marinha, Sérgio
Chagasteles.
Na avaliação do presidente da
República, Bräuer, como chefe de
Força, não tem mais um cargo político que lhe permita emitir juízos de valor, como faria se fosse
ministro.
A criação do Ministério da Defesa acabou com essa superposição de funções.
O comandante, agora, só discute, internamente, assuntos referentes à tropa, como organização
e necessidades materiais da Força.
E deve discutir esses assuntos
com o seu superior, o ministro da
Defesa.
Antes de se decidir pelo afastamento de Bräuer, FHC consultou
outros chefes militares. A maioria
concordou que a quebra de hierarquia justificava a decisão do
presidente e garantiu que a demissão não provocaria reação negativa nos quartéis.
Às 17h45, o ministro-chefe do
Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, afirmou: "Não há insatisfação na área
militar. O ministro da Defesa permanece no cargo".
Estilo
No Alto Comando da Aeronáutica, a análise é que Bräuer foi "ingênuo" em suas declarações, fato
atribuído ao seu estilo franco e direto em suas falas. Esse estilo, inclusive, é criticado por muitos militares que acham que ele deveria
ser mais reservado.
A mesma crítica é feita ao chefe
do Estado-Maior da Aeronáutica,
brigadeiro Marcus Herndl, o oficial mais antigo da Força, substituto natural de Bräuer.
O nome dele foi apontado pelo
Alto Comando como o que não
traria desgastes à Aeronáutica e
não geraria uma "rebelião" entre
os demais oficiais-generais.
Na avaliação dos oficiais-generais, Bräuer teria ainda falado "em
tese" sobre a CPI do Narcotráfico
como forma de reforçar o valor
das instituições e não em nome
dos seus comandados ou do conjunto das Forças Armadas, numa
espécie de recado político ao ministro Elcio Alvares.
De qualquer forma, ele infringiu
a cadeia de comando ao emitir
opinião em público com conotação política sobre um superior
hierárquico.
A saída de Bräuer, nesse ponto,
é considerada positiva. Se ele, como comandante de Força, não
fosse punido, o episódio daria
chances para que coronéis criticassem generais, sargentos falassem de majores e assim por diante, disseminando insubordinação
na caserna.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Elcio Alvares x Forças Armadas Índice
|