São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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GOVERNO
FHC também manda ministro afastar assessora citada por CPI
Crítica a Alvares derruba o chefe da Aeronáutica

Ichiro Guerra - 16.dez.99/Folha Imagem
Brauer (à esq.), o presidente FHC e o minitro Elcio Alvares, anteontem, no Clube da Aeronáutica


RAQUEL ULHÔA
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

Devido às constantes críticas, em público, e a quebra de hierarquia militar, o presidente Fernando Henrique Cardoso mandou o ministro da Defesa, Elcio Alvares, demitir o comandante da Aeronáutica, Walter Bräuer.
Alvares foi obrigado a afastar também a sua assessora especial, a advogada Solange Antunes Rezende, que teve os sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados pela CPI do Narcotráfico.
Ontem, no início da noite, Alvares só esperava pela chegada de Bräuer a Brasília, vindo de uma viagem ao Rio, para demiti-lo pessoalmente. FHC não recebeu Alvares e deixou que ele fizesse o anúncio público da demissão para fortalecer o ministro da Defesa.
No meio da tarde, chegou a circular a informação de que o próprio Alvares resistia ao afastamento da assessora e estaria pensando em se demitir. A Folha apurou, junto ao Planalto, que o ministro não entregou carta de demissão e nem pediu para sair.
A estratégia da demissão foi acertada em duas conversas de Alvares com o general Alberto Cardoso (Segurança Institucional) e com o ministro Pedro Parente (Casa Civil).
Às 19h, o próprio porta-voz do Planalto, Georges Lamazière, anunciava a manutenção no cargo de Alvares e acrescentou: "Sobre assuntos referentes a subordinados ao ministro da Defesa, e afeitos à pasta dele, caberá ao próprio ministro se pronunciar".
Alvares deveria dar, por volta das 20h, a entrevista com o anúncio oficial da destituição do comandante da Aeronáutica.

Velório
Na Aeronáutica, por volta das 13h30, o clima entre os assessores próximos a Bräuer já era de velório. A sua última tarefa oficial como comandante da Força foi no Rio, na solenidades de formatura na Unifa, a Universidade de Força Aérea Brasileira localizada no Campo dos Afonsos, em Marechal Hermes, subúrbio carioca.
Bräuer antecipou seu retorno a Brasília, chegando à cidade por volta das 19h30. Antes, por volta das 18h, Alvares reuniu-se com os comandantes do Exército, Gleuber Vieira, e da Marinha, Sérgio Chagasteles.
Na avaliação do presidente da República, Bräuer, como chefe de Força, não tem mais um cargo político que lhe permita emitir juízos de valor, como faria se fosse ministro.
A criação do Ministério da Defesa acabou com essa superposição de funções.
O comandante, agora, só discute, internamente, assuntos referentes à tropa, como organização e necessidades materiais da Força. E deve discutir esses assuntos com o seu superior, o ministro da Defesa.
Antes de se decidir pelo afastamento de Bräuer, FHC consultou outros chefes militares. A maioria concordou que a quebra de hierarquia justificava a decisão do presidente e garantiu que a demissão não provocaria reação negativa nos quartéis.
Às 17h45, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, afirmou: "Não há insatisfação na área militar. O ministro da Defesa permanece no cargo".

Estilo
No Alto Comando da Aeronáutica, a análise é que Bräuer foi "ingênuo" em suas declarações, fato atribuído ao seu estilo franco e direto em suas falas. Esse estilo, inclusive, é criticado por muitos militares que acham que ele deveria ser mais reservado.
A mesma crítica é feita ao chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, brigadeiro Marcus Herndl, o oficial mais antigo da Força, substituto natural de Bräuer.
O nome dele foi apontado pelo Alto Comando como o que não traria desgastes à Aeronáutica e não geraria uma "rebelião" entre os demais oficiais-generais.
Na avaliação dos oficiais-generais, Bräuer teria ainda falado "em tese" sobre a CPI do Narcotráfico como forma de reforçar o valor das instituições e não em nome dos seus comandados ou do conjunto das Forças Armadas, numa espécie de recado político ao ministro Elcio Alvares.
De qualquer forma, ele infringiu a cadeia de comando ao emitir opinião em público com conotação política sobre um superior hierárquico.
A saída de Bräuer, nesse ponto, é considerada positiva. Se ele, como comandante de Força, não fosse punido, o episódio daria chances para que coronéis criticassem generais, sargentos falassem de majores e assim por diante, disseminando insubordinação na caserna.


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