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GOVERNO
Declarações de Bräuer sobre Alvares a jornalistas se tornaram novo episódio em conflito com a Aeronáutica
FHC vê insubordinação em entrevista
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu desde cedo
demitir o comandante da Aeronáutica, Walter Bräuer, ao ler nos
jornais que ele discordara publicamente de posições de seu superior hierárquico, o ministro da
Defesa, Elcio Alvares.
FHC pediu a sua assessoria, antes das 10h, que lhe desse a transcrição, na íntegra, das declarações de Bräuer a jornalistas, durante a solenidade de apresentação dos novos oficiais das três
Forças Armadas, quinta-feira, no
Clube da Aeronáutica.
A justificativa do presidente foi
a de que andava havia tempos
aborrecido com Bräuer, mas não
queria tirar conclusões em cima
de frases pinçadas, fora de contexto. Pediu a íntegra para não
cometer uma injustiça. Gostou
menos ainda do que leu.
Não foi um caso isolado, pois
FHC vem reclamando em conversas reservadas que a Aeronáutica sistematicamente tenta reagir
contra projetos do governo, sobretudo na área de aviação civil.
Na entrevista, Bräuer se disse
espantado com a quebra de sigilo
bancário de uma assessora de Alvares, Solange Antunes Rezende,
determinada pela CPI do Narcotráfico. "A vida pública tem de ser
bastante ilibada, bastante transparente. De modo que não deixe
dúvida sobre o procedimento",
disse Bräuer aos jornalistas.
A opinião de FHC sobre o caso
já estava formada: ele confidenciou que não acreditava na culpa
da assessora de Alvares, mas não
via outra saída senão afastá-la do
cargo até que tudo ficasse esclarecido. Mas, no Planalto, houve o
consenso de que Bräuer não deveria ter se manifestado em público sobre questão tão delicada,
e que tem a ver diretamente com
o seu chefe.
O brigadeiro também divergiu
de Alvares quanto ao uso do
avião presidencial, o "Sucatão",
que vem sendo criticado há tempos. Um modelo similar acaba de
sofrer grave pane durante viagem
do vice-presidente da República,
Marco Maciel, ao exterior.
Alvares tinha dito que o presidente não viajaria mais no "Sucatão", mas Bräuer declarou que
desconhecia tal decisão e defendeu a manutenção do velho 707
da Força Aérea Brasileira nas viagens presidenciais. Disse que o
avião é seguro e que tem pelo menos mais 30 anos de vida útil.
As duas declarações -sobre a
assessora de Alvares e sobre o
avião- foram consideradas uma
insubordinação, especialmente
porque estão num contexto em
que a Aeronáutica ostensivamente resiste a decisões do governo.
Essa posição vem desde o primeiro mandato, quando o então
ministro da Aeronáutica, brigadeiro Mauro Gandra, foi afastado
após a divulgação de fitas em que
admitia ter se hospedado na
mansão de uma empresa envolvida na disputa pelo Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Gandra saiu, mas os oficiais da
Força nunca digeriram o episódio, que expôs publicamente um
brigadeiro de quatro estrelas (patente máxima) e então ministro.
Desde então, os atritos se sucedem, tendo como temas: a transformação do DAC (Departamento de Aviação Civil) em agência
reguladora; o processo de privatização da Infraero (responsável
pelos aeroportos); a venda de
ações da Embraer a estrangeiros,
e até a própria escolha do civil Alvares para ministro da Defesa.
No governo, atribui-se também
à Aeronáutica a divulgação dos
nomes de ministros que viajaram
em aviões da FAB para a ilha de
Fernando de Noronha, criando
dificuldades políticas para FHC.
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