São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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GOVERNO
Declarações de Bräuer sobre Alvares a jornalistas se tornaram novo episódio em conflito com a Aeronáutica
FHC vê insubordinação em entrevista

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu desde cedo demitir o comandante da Aeronáutica, Walter Bräuer, ao ler nos jornais que ele discordara publicamente de posições de seu superior hierárquico, o ministro da Defesa, Elcio Alvares.
FHC pediu a sua assessoria, antes das 10h, que lhe desse a transcrição, na íntegra, das declarações de Bräuer a jornalistas, durante a solenidade de apresentação dos novos oficiais das três Forças Armadas, quinta-feira, no Clube da Aeronáutica.
A justificativa do presidente foi a de que andava havia tempos aborrecido com Bräuer, mas não queria tirar conclusões em cima de frases pinçadas, fora de contexto. Pediu a íntegra para não cometer uma injustiça. Gostou menos ainda do que leu.
Não foi um caso isolado, pois FHC vem reclamando em conversas reservadas que a Aeronáutica sistematicamente tenta reagir contra projetos do governo, sobretudo na área de aviação civil.
Na entrevista, Bräuer se disse espantado com a quebra de sigilo bancário de uma assessora de Alvares, Solange Antunes Rezende, determinada pela CPI do Narcotráfico. "A vida pública tem de ser bastante ilibada, bastante transparente. De modo que não deixe dúvida sobre o procedimento", disse Bräuer aos jornalistas.
A opinião de FHC sobre o caso já estava formada: ele confidenciou que não acreditava na culpa da assessora de Alvares, mas não via outra saída senão afastá-la do cargo até que tudo ficasse esclarecido. Mas, no Planalto, houve o consenso de que Bräuer não deveria ter se manifestado em público sobre questão tão delicada, e que tem a ver diretamente com o seu chefe.
O brigadeiro também divergiu de Alvares quanto ao uso do avião presidencial, o "Sucatão", que vem sendo criticado há tempos. Um modelo similar acaba de sofrer grave pane durante viagem do vice-presidente da República, Marco Maciel, ao exterior.
Alvares tinha dito que o presidente não viajaria mais no "Sucatão", mas Bräuer declarou que desconhecia tal decisão e defendeu a manutenção do velho 707 da Força Aérea Brasileira nas viagens presidenciais. Disse que o avião é seguro e que tem pelo menos mais 30 anos de vida útil.
As duas declarações -sobre a assessora de Alvares e sobre o avião- foram consideradas uma insubordinação, especialmente porque estão num contexto em que a Aeronáutica ostensivamente resiste a decisões do governo.
Essa posição vem desde o primeiro mandato, quando o então ministro da Aeronáutica, brigadeiro Mauro Gandra, foi afastado após a divulgação de fitas em que admitia ter se hospedado na mansão de uma empresa envolvida na disputa pelo Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Gandra saiu, mas os oficiais da Força nunca digeriram o episódio, que expôs publicamente um brigadeiro de quatro estrelas (patente máxima) e então ministro.
Desde então, os atritos se sucedem, tendo como temas: a transformação do DAC (Departamento de Aviação Civil) em agência reguladora; o processo de privatização da Infraero (responsável pelos aeroportos); a venda de ações da Embraer a estrangeiros, e até a própria escolha do civil Alvares para ministro da Defesa.
No governo, atribui-se também à Aeronáutica a divulgação dos nomes de ministros que viajaram em aviões da FAB para a ilha de Fernando de Noronha, criando dificuldades políticas para FHC.


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