São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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SUSPEITA

Empresa pertence a vice de Lula

Conab apura ação da Coteminas em leilão

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A direção da Conab (Cia. Nacional de Abastecimento) instalou auditoria para apurar a suspeita de fraude na participação da empresa Coteminas em leilões para aquisição de algodão. Requisitaram-se aos escritórios da autarquia nos Estados os documentos relativos às operações. O trabalho será centralizado em Brasília.
A análise dos papéis é o passo inicial para uma investigação que se pretende mais ampla. Deve resultar, num segundo momento, em inspeções de auditores nos livros contábeis da Coteminas. Uma prerrogativa que está prevista nos regulamentos dos leilões.
A Coteminas (Cia. de Tecidos do Norte de Minas) pertence a José Alencar (PL-MG), vice-presidente eleito da República. É a segunda maior indústria têxtil do país. Pelo critério de faturamento bruto, perde para a Vicunha.
A Folha revelou no último domingo que a empresa de Alencar comprou em leilões da Conab, autarquia vinculada ao Ministério da Agricultura, lotes de algodão que, na prática, já lhe pertenciam. A operação permitiu à Coteminas receber subvenções que o governo distribui em pregões agrícolas.
Ouvido, Josué Christiano Gomes da Silva, filho de Alencar e principal executivo da Coteminas, negou. Duas semanas depois, reconheceu a recompra.
Munido de parecer jurídico, Josué afirmou que a operação "não é ilegal". Ele se baseia no argumento de que os editais de convocação do leilão não proibiam expressamente negócios com produtos comercializados antes, em contratos de compra antecipada da safra futura de algodão.
Ao acionar a sua equipe de auditores, a Conab se antecipa ao trabalho da Corregedoria Geral da União, vinculada à Presidência. Chefiado pela ministra Anadyr Rodrigues, o órgão se viu na contingência de apurar o caso. Recebeu documentos e os reuniu no processo 190.994189/2002-90.
Em telefonema à ministra, na semana passada, o filho de Alencar se dispôs a vir a Brasília para prestar esclarecimentos.
Os responsáveis pela apuração acreditam que será impossível concluir o trabalho nos 12 dias que restam à gestão de FHC.
Os técnicos trabalham de modo a assegurar que a investigação seja formalmente instruída. Impossível, depois, retroceder. Avalia-se na Conab que são consistentes os indícios de lesão ao erário.
Pior: nada assegura que a simulação, admitida formalmente pela maior fornecedora de algodão da Coteminas, a família Vasconcelos Bonfim, de Mato Grosso, não tenha se repetido em outros leilões.


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