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SUSPEITA
Empresa pertence a vice de Lula
Conab apura ação da Coteminas em leilão
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A direção da Conab (Cia. Nacional de Abastecimento) instalou
auditoria para apurar a suspeita
de fraude na participação da empresa Coteminas em leilões para
aquisição de algodão. Requisitaram-se aos escritórios da autarquia nos Estados os documentos
relativos às operações. O trabalho
será centralizado em Brasília.
A análise dos papéis é o passo
inicial para uma investigação que
se pretende mais ampla. Deve resultar, num segundo momento,
em inspeções de auditores nos livros contábeis da Coteminas.
Uma prerrogativa que está prevista nos regulamentos dos leilões.
A Coteminas (Cia. de Tecidos
do Norte de Minas) pertence a José Alencar (PL-MG), vice-presidente eleito da República. É a segunda maior indústria têxtil do
país. Pelo critério de faturamento
bruto, perde para a Vicunha.
A Folha revelou no último domingo que a empresa de Alencar
comprou em leilões da Conab,
autarquia vinculada ao Ministério
da Agricultura, lotes de algodão
que, na prática, já lhe pertenciam.
A operação permitiu à Coteminas
receber subvenções que o governo distribui em pregões agrícolas.
Ouvido, Josué Christiano Gomes da Silva, filho de Alencar e
principal executivo da Coteminas, negou. Duas semanas depois,
reconheceu a recompra.
Munido de parecer jurídico, Josué afirmou que a operação "não
é ilegal". Ele se baseia no argumento de que os editais de convocação do leilão não proibiam expressamente negócios com produtos comercializados antes, em
contratos de compra antecipada
da safra futura de algodão.
Ao acionar a sua equipe de auditores, a Conab se antecipa ao
trabalho da Corregedoria Geral
da União, vinculada à Presidência. Chefiado pela ministra
Anadyr Rodrigues, o órgão se viu
na contingência de apurar o caso.
Recebeu documentos e os reuniu
no processo 190.994189/2002-90.
Em telefonema à ministra, na
semana passada, o filho de Alencar se dispôs a vir a Brasília para
prestar esclarecimentos.
Os responsáveis pela apuração
acreditam que será impossível
concluir o trabalho nos 12 dias
que restam à gestão de FHC.
Os técnicos trabalham de modo
a assegurar que a investigação seja formalmente instruída. Impossível, depois, retroceder. Avalia-se
na Conab que são consistentes os
indícios de lesão ao erário.
Pior: nada assegura que a simulação, admitida formalmente pela
maior fornecedora de algodão da
Coteminas, a família Vasconcelos
Bonfim, de Mato Grosso, não tenha se repetido em outros leilões.
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