São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Na reunião ministerial que fará amanhã, presidente dirá ainda que confia na recuperação econômica e que cenário eleitoral será outro

Lula recomendará a ministros que evitem tom de bate-boca

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na reunião ministerial de amanhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedirá que seus auxiliares não travem debates públicos sobre as divergências que têm nas reuniões do governo. Dirá que cada ministro deve falar de sua área e evitar comentar assuntos de outra pasta, especialmente em tom de bate-boca.
Lula deverá falar também que os ministros não devem pautar suas ações pelas eleições de 2006. Pretende afirmar que confia na recuperação da economia no próximo ano e que o cenário da eleição será diferente do atual, no qual perderia no segundo turno para o tucano José Serra, prefeito de São Paulo.
Ainda sobre as eleições, o presidente deverá pedir que os ministros que desejem disputar eleições, em 1º de outubro de 2006, o avisem para que possa realizar uma reforma ministerial antes do prazo de desincompatibilização (saída de cargos executivos), cujo limite é 30 de março. Lula gostaria de fazer modificações até fevereiro, mas sempre há atrasos quando o assunto é a troca no primeiro escalão.
Além de Lula, estão escalados para falar na reunião a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e os colegas Antonio Palocci (Fazenda), Ciro Gomes (Integração Nacional), Jaques Wagner (Relações Institucionais) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça).

Presidente incomodado
Desde novembro, quando Palocci e Dilma trocaram duras críticas públicas, outros integrantes do governo passaram a criticar colegas e especificamente a política econômica.
Lula avalia que esses ataques e comentários chegaram a um ponto em que sua própria autoridade é minada, pois cada ministro fala o que quer, sem repreensão pública do chefe.
O presidente ficou muito incomodado com a declaração do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, de que o governo está sem "objetivos". Avaliou como muita dura, pois transmite a imagem de uma administração ruim e sem comando.
A intenção do presidente é reverter o clima de desânimo que as pesquisas mais recentes provocaram no ministério. Lula continuou a perder cacife eleitoral em relação à sucessão de 2006, apesar de a avaliação do governo ter se mantido estável na comparação com os dados de outubro.
Pesquisa Datafolha realizada em 13 e 14 de dezembro mostrou que Serra, que perdeu a eleição presidencial de 2002, ultrapassou Lula no levantamento sobre o primeiro turno de 2006. O tucano obteve 36% de intenção de voto contra 29% do petista. Em 21 de outubro, Lula tinha 30% contra 27% de Serra. No segundo turno, o prefeito paulistano bateria o presidente por 50% a 36%.
No Datafolha, os entrevistados que avaliaram o governo como "ótimo ou bom" foram 28% do total, fatia igual à do levantamento de outubro. A avaliação "regular" oscilou de 42% para 41%, enquanto o índice de "ruim ou péssimo" variou de 28% para 29%.
Na opinião de Lula e dos principais auxiliares, a pesquisa reflete a crise política que começou perto do início do ano, com as dificuldades que o governo enfrentou no Congresso.
Agravou-se em junho, quando o então presidente do PTB, Roberto Jefferson, revelou em entrevista à Folha o "mensalão" e a atuação da dupla Marcos Valério-Delúbio Soares.
Dilma deverá falar da intenção de acelerar gastos em investimentos (obras e projetos novos) já no primeiro bimestre. Ciro tratará de infra-estrutura.
Já Palocci dirá que a economia voltará a crescer em ritmo forte. Wagner tratará das prioridades do governo na convocação extraordinária do Congresso que Lula não desejava. E Márcio Thomaz Bastos deverá dar informes sobre investigações do governo em curso na crise.


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