São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O DOLEIRO

Toninho da Barcelona diz ter sido procurado por representantes de petistas na prisão em maio e junho; documento não registra tais visitas

Lista de visitantes contraria versão de doleiro

MARCELO SALINAS
DA REDAÇÃO

A Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo enviou à CPI dos Correios uma lista de advogados que visitaram o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, na prisão. Porém, não consta no documento registro de visitas nos meses de maio e junho deste ano, quando o doleiro disse ter sido procurado por advogados ligados ao PT.
Em 16 de agosto, Barcelona afirmou em depoimento à CPI dos Correios, em São Paulo, que dois representantes do deputado José Mentor (PT-SP) o procuraram no presídio Adriano Marrey, em Guarulhos (SP), em 24 de junho.
De acordo com o doleiro, esses advogados o pressionaram para que não divulgasse informações a respeito de um suposto esquema de envio ilegal de recursos do caixa dois do PT ao exterior.
Naquele dia, Barcelona tinha uma entrevista marcada e autorizada pela diretoria do presídio com um jornalista. No entanto, uma rebelião de presos -que o doleiro foi acusado de articular- impediu que ela acontecesse.
A lista dos advogados que visitaram Barcelona serviria para que a CPI atestasse a veracidade da história, já que Mentor nega que tenha enviado advogados para tentar pressionar o preso.
Na relação que a secretaria enviou à CPI, constam registros de novembro de 2004 a abril de 2005, e, depois, de julho a agosto de 2005. A Folha obteve uma cópia dessa lista, onde constam 18 visitas ao doleiro, preso desde setembro de 2004 e condenado a 25 anos de prisão por evasão de divisas, em regime fechado.
Questionada sobre uma eventual omissão de informações à CPI, a assessoria de imprensa da Secretaria da Administração Penitenciária afirmou à Folha que todos os dados pedidos pela comissão foram encaminhados, e que, se não havia registros dos meses de maio e junho, é porque nenhum advogado visitou Barcelona nesses dois meses.
Isso significaria que, se a listagem estiver mesmo completa, Barcelona mentiu à CPI.
A secretaria afirmou ainda não ter recebido nenhuma notificação oficial sobre a eventual ausência desses dados. Até sexta-feira, a CPI dos Correios ainda não havia encaminhado à secretaria ofício questionando a possível omissão.

Rebelião
O comando da rebelião de presos que houve no presídio Adriano Marrey, no dia em que Barcelona diz ter sido pressionado, foi atribuído ao próprio doleiro. Ele foi considerado pelo diretor de disciplina um preso de "altíssima periculosidade".
Como resultado disso, foi transferido três dias depois para um dos três presídios de segurança máxima de São Paulo, em Avaré (262 quilômetros de São Paulo).
Barcelona foi absolvido da acusação de ter liderado a rebelião pelo Decrim 7 (Corregedoria dos Presídios e Movimentação de Presos), em 21 de setembro.
O doleiro, que é réu confesso, está preso hoje em Curitiba, colaborando com investigações do Ministério Público do Paraná. Dessa forma, tenta obter uma redução, via delação premiada, da pena que cumpre.

Início da crise
Na época em que o doleiro diz ter sido pressionado, a atual crise política estava em seu início e a lista de sacadores da conta do publicitário Marcos Valério de Souza não havia sido identificada.
No dia 17 de junho, porém, uma semana antes da suposta visita dos advogados de Mentor, o ex-tesoureiro do PPS Rui Vicentini citou, em uma entrevista, o nome de Barcelona. Ele disse ter ouvido que o doleiro mantinha contas para o PT no exterior. Posteriormente, Vicentini afirmou ao Ministério Público que Mentor operava um "mensalão" quando foi líder do governo Marta Suplicy na Câmara de Vereadores de São Paulo. Tanto o deputado como a ex-prefeita negam a acusação.


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