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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O DOLEIRO
Toninho da Barcelona diz ter sido procurado por representantes de petistas na prisão em maio e junho; documento não registra tais visitas
Lista de visitantes contraria versão de doleiro
MARCELO SALINAS
DA REDAÇÃO
A Secretaria da Administração
Penitenciária de São Paulo enviou
à CPI dos Correios uma lista de
advogados que visitaram o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o
Toninho da Barcelona, na prisão.
Porém, não consta no documento
registro de visitas nos meses de
maio e junho deste ano, quando o
doleiro disse ter sido procurado
por advogados ligados ao PT.
Em 16 de agosto, Barcelona afirmou em depoimento à CPI dos
Correios, em São Paulo, que dois
representantes do deputado José
Mentor (PT-SP) o procuraram no
presídio Adriano Marrey, em
Guarulhos (SP), em 24 de junho.
De acordo com o doleiro, esses
advogados o pressionaram para
que não divulgasse informações a
respeito de um suposto esquema
de envio ilegal de recursos do caixa dois do PT ao exterior.
Naquele dia, Barcelona tinha
uma entrevista marcada e autorizada pela diretoria do presídio
com um jornalista. No entanto,
uma rebelião de presos -que o
doleiro foi acusado de articular-
impediu que ela acontecesse.
A lista dos advogados que visitaram Barcelona serviria para que
a CPI atestasse a veracidade da
história, já que Mentor nega que
tenha enviado advogados para
tentar pressionar o preso.
Na relação que a secretaria enviou à CPI, constam registros de
novembro de 2004 a abril de 2005,
e, depois, de julho a agosto de
2005. A Folha obteve uma cópia
dessa lista, onde constam 18 visitas ao doleiro, preso desde setembro de 2004 e condenado a 25
anos de prisão por evasão de divisas, em regime fechado.
Questionada sobre uma eventual omissão de informações à
CPI, a assessoria de imprensa da
Secretaria da Administração Penitenciária afirmou à Folha que
todos os dados pedidos pela comissão foram encaminhados, e
que, se não havia registros dos
meses de maio e junho, é porque
nenhum advogado visitou Barcelona nesses dois meses.
Isso significaria que, se a listagem estiver mesmo completa,
Barcelona mentiu à CPI.
A secretaria afirmou ainda não
ter recebido nenhuma notificação
oficial sobre a eventual ausência
desses dados. Até sexta-feira, a
CPI dos Correios ainda não havia
encaminhado à secretaria ofício
questionando a possível omissão.
Rebelião
O comando da rebelião de presos que houve no presídio Adriano Marrey, no dia em que Barcelona diz ter sido pressionado, foi
atribuído ao próprio doleiro. Ele
foi considerado pelo diretor de
disciplina um preso de "altíssima
periculosidade".
Como resultado disso, foi transferido três dias depois para um
dos três presídios de segurança
máxima de São Paulo, em Avaré
(262 quilômetros de São Paulo).
Barcelona foi absolvido da acusação de ter liderado a rebelião
pelo Decrim 7 (Corregedoria dos
Presídios e Movimentação de
Presos), em 21 de setembro.
O doleiro, que é réu confesso,
está preso hoje em Curitiba, colaborando com investigações do
Ministério Público do Paraná.
Dessa forma, tenta obter uma redução, via delação premiada, da
pena que cumpre.
Início da crise
Na época em que o doleiro diz
ter sido pressionado, a atual crise
política estava em seu início e a
lista de sacadores da conta do publicitário Marcos Valério de Souza não havia sido identificada.
No dia 17 de junho, porém, uma
semana antes da suposta visita
dos advogados de Mentor, o ex-tesoureiro do PPS Rui Vicentini
citou, em uma entrevista, o nome
de Barcelona. Ele disse ter ouvido
que o doleiro mantinha contas
para o PT no exterior. Posteriormente, Vicentini afirmou ao Ministério Público que Mentor operava um "mensalão" quando foi
líder do governo Marta Suplicy na
Câmara de Vereadores de São
Paulo. Tanto o deputado como a
ex-prefeita negam a acusação.
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