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Fora de SP, "PT vitorioso" já articula alianças para a sucessão de Lula
MALU DELGADO
EDITORA-ASSISTENTE DE BRASIL
A lista de convidados e o discurso do anfitrião são flagrantes sinais do comportamento
de lideranças emergentes do
PT e de como se articulam para
o jogo sucessório de 2010. E de
2014. Ou seja, para um ciclo de
disputas sem Luiz Inácio Lula
da Silva no comando.
Fernando Pimentel, 55, prefeito de Belo Horizonte, abre o
discurso da cerimônia em comemoração aos 109 anos da cidade saudando o "amigo e parceiro" Aécio Neves (PSDB),
reeleito governador de Minas
Gerais. Fez questão de convidar dois "companheiros petistas" para a festa: os governadores eleitos da Bahia, Jaques
Wagner, e de Sergipe, Marcelo
Déda. A festa, comemorada no
último dia 12, não contou com a
presença de Wagner, que ficou
preso no aeroporto de São Paulo por conta do caos aéreo.
Pimentel enumera obras feitas em parceria com Aécio e a
União em toda a capital. "Esse é
o segredo: compartilhar", prega. Belo Horizonte parece um
canteiro de obras. Ainda assim,
a equipe do petista comemora a
última sondagem interna que
mostra uma aprovação de 85%
ao governo municipal.
"Está aqui comigo uma geração política que tem muito em
comum (...) Somos todos comprometidos com a democracia", discursa o prefeito.
Como mineiro não sobrevive
sem um toque de tradição, invoca Afonso Pena: "A beleza da
democracia é que nela ninguém pode tudo, nem pode
sempre". Depois, moderniza o
ensinamento do velho político:
"Democracia é compartilhamento porque ninguém pode
tudo, e é alternância porque
ninguém pode sempre".
Aliança com Aécio
A lógica do petista que se inclui nessa "nova geração de políticos" permite que ele execute
com desenvoltura a aliança
com o tucano Aécio Neves.
Uma "alternância" de poder que
interessa aos dois. O plano de
Pimentel é disputar o governo
de Minas em 2010. Aécio, reeleito com preferência absoluta
da população, quer a Presidência. Déda, Jaques Wagner, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), e Pimentel são os nomes
fortes para o confronto nacional com o PSDB.
Participaram da festa mineira os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência),
Hélio Costa (Comunicações) e
Walfrido Mares Guia (Turismo). Empresários de destaque,
expoentes do setor cultural, intelectuais. A sintonia chega até
a confundir e faz pensar que todos falam a mesma língua.
Déda aceita o convite para
jantar no Palácio das Mangabeiras com Aécio. "É a governança compartilhada", explica
Pimentel à Folha, logo depois
das comemorações na cidade.
A entrevista é interrompida
por um telefonema do chefe de
gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, enviando saudações pelo
aniversário da capital mineira.
A tal governança compartilhada, endossa Pimentel, deixou a capital e o Estado num
momento político e econômico
favorável. "Nossa gestão é melhor que a do Rio e de São Paulo. Estamos num bom momento para a cidade e para o Estado. E claro que o Aécio tira proveito disso também. São Paulo
elegeu Pitta, depois Erundina,
Maluf, Marta. Cada hora vai
para um lado. Não tem cidade
que resista a esse tipo de volubilidade. As cidades sempre se
ressentem dos comportamentos políticos erráticos", afirma.
"E não estou dizendo isso
porque o Aécio pode ser presidente não! Pode não ser. Mas é
possível um modelo novo de
política, menos arestoso, menos árido, de boa convivência
administrativa. Sem abrir mão
das diferenças partidárias."
A "governança compartilhada" parece transformar todos
os políticos em farinha do mesmo saco. O prefeito reage à afirmação: "Se temos compromissos com a democracia e com as
instituições democráticas, somos sim farinha do mesmo saco. Neste sentido, não tem distinção. O que vai nos diferenciar são as políticas públicas".
Pimentel está com a cabeça
no século 21. Belo Horizonte é
a primeira cidade do país a
criar o orçamento participativo
digital. Quase 170 belo-horizontinos votaram na internet
para decidir como a prefeitura
vai investir R$ 20,2 milhões em
nove obras, a partir de 2007. O
orçamento global da prefeitura
é de R$ 4 bilhões, maior que o
pequeno Sergipe de Déda.
"O negócio é isso aqui, ô", diz
Pimentel, balançando o telefone celular. A temática relevante da política, sustenta ele, é a
preservação ambiental X crescimento econômico com geração de empregos. "O Congresso
do PT de 2007 deveria discutir
isso. Temos que discutir o socialismo petista? O problema
do Brasil é esse? Pelo amor de
Deus", critica. "Eu estava na cadeia quando o Delfim era o czar
da economia. Mas ele deve ser
ouvido pelo governo sim", defende. Atos e palavras que perturbarão o velho PT.
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