São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

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Fora de SP, "PT vitorioso" já articula alianças para a sucessão de Lula

MALU DELGADO
EDITORA-ASSISTENTE DE BRASIL

A lista de convidados e o discurso do anfitrião são flagrantes sinais do comportamento de lideranças emergentes do PT e de como se articulam para o jogo sucessório de 2010. E de 2014. Ou seja, para um ciclo de disputas sem Luiz Inácio Lula da Silva no comando.
Fernando Pimentel, 55, prefeito de Belo Horizonte, abre o discurso da cerimônia em comemoração aos 109 anos da cidade saudando o "amigo e parceiro" Aécio Neves (PSDB), reeleito governador de Minas Gerais. Fez questão de convidar dois "companheiros petistas" para a festa: os governadores eleitos da Bahia, Jaques Wagner, e de Sergipe, Marcelo Déda. A festa, comemorada no último dia 12, não contou com a presença de Wagner, que ficou preso no aeroporto de São Paulo por conta do caos aéreo.
Pimentel enumera obras feitas em parceria com Aécio e a União em toda a capital. "Esse é o segredo: compartilhar", prega. Belo Horizonte parece um canteiro de obras. Ainda assim, a equipe do petista comemora a última sondagem interna que mostra uma aprovação de 85% ao governo municipal.
"Está aqui comigo uma geração política que tem muito em comum (...) Somos todos comprometidos com a democracia", discursa o prefeito.
Como mineiro não sobrevive sem um toque de tradição, invoca Afonso Pena: "A beleza da democracia é que nela ninguém pode tudo, nem pode sempre". Depois, moderniza o ensinamento do velho político: "Democracia é compartilhamento porque ninguém pode tudo, e é alternância porque ninguém pode sempre".

Aliança com Aécio
A lógica do petista que se inclui nessa "nova geração de políticos" permite que ele execute com desenvoltura a aliança com o tucano Aécio Neves. Uma "alternância" de poder que interessa aos dois. O plano de Pimentel é disputar o governo de Minas em 2010. Aécio, reeleito com preferência absoluta da população, quer a Presidência. Déda, Jaques Wagner, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), e Pimentel são os nomes fortes para o confronto nacional com o PSDB.
Participaram da festa mineira os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Hélio Costa (Comunicações) e Walfrido Mares Guia (Turismo). Empresários de destaque, expoentes do setor cultural, intelectuais. A sintonia chega até a confundir e faz pensar que todos falam a mesma língua.
Déda aceita o convite para jantar no Palácio das Mangabeiras com Aécio. "É a governança compartilhada", explica Pimentel à Folha, logo depois das comemorações na cidade. A entrevista é interrompida por um telefonema do chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, enviando saudações pelo aniversário da capital mineira.
A tal governança compartilhada, endossa Pimentel, deixou a capital e o Estado num momento político e econômico favorável. "Nossa gestão é melhor que a do Rio e de São Paulo. Estamos num bom momento para a cidade e para o Estado. E claro que o Aécio tira proveito disso também. São Paulo elegeu Pitta, depois Erundina, Maluf, Marta. Cada hora vai para um lado. Não tem cidade que resista a esse tipo de volubilidade. As cidades sempre se ressentem dos comportamentos políticos erráticos", afirma.
"E não estou dizendo isso porque o Aécio pode ser presidente não! Pode não ser. Mas é possível um modelo novo de política, menos arestoso, menos árido, de boa convivência administrativa. Sem abrir mão das diferenças partidárias."
A "governança compartilhada" parece transformar todos os políticos em farinha do mesmo saco. O prefeito reage à afirmação: "Se temos compromissos com a democracia e com as instituições democráticas, somos sim farinha do mesmo saco. Neste sentido, não tem distinção. O que vai nos diferenciar são as políticas públicas".
Pimentel está com a cabeça no século 21. Belo Horizonte é a primeira cidade do país a criar o orçamento participativo digital. Quase 170 belo-horizontinos votaram na internet para decidir como a prefeitura vai investir R$ 20,2 milhões em nove obras, a partir de 2007. O orçamento global da prefeitura é de R$ 4 bilhões, maior que o pequeno Sergipe de Déda.
"O negócio é isso aqui, ô", diz Pimentel, balançando o telefone celular. A temática relevante da política, sustenta ele, é a preservação ambiental X crescimento econômico com geração de empregos. "O Congresso do PT de 2007 deveria discutir isso. Temos que discutir o socialismo petista? O problema do Brasil é esse? Pelo amor de Deus", critica. "Eu estava na cadeia quando o Delfim era o czar da economia. Mas ele deve ser ouvido pelo governo sim", defende. Atos e palavras que perturbarão o velho PT.


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