São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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Aécio desiste da Presidência e amplia pressão sobre Serra

Em pronunciamento, governador não cita paulista nem candidatura ao Senado

Aliados de mineiro dizem que ele decidiu no início da semana; em nota, tucano alfineta Serra e critica PT por apostar na "divisão" do país


Sérgio Lima - 23.nov.07/Folha Imagem
Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso e José Serra participam de evento do PSDB

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, anunciou ontem que desistiu de disputar a indicação do PSDB para concorrer à Presidência da República em 2010. Com isso, antecipa a pressão sobre o outro pré-candidato, o governador de São Paulo, José Serra, que pretendia adiar para março do ano que vem a definição sobre a candidatura tucana.
A decisão, noticiada ontem em primeira mão pelo colunista da Folha Fernando de Barros e Silva, foi anunciada por Aécio num pronunciamento de sete minutos em que leu uma nota com alfinetadas no PT e no próprio Serra, que não teve seu nome citado nenhuma vez.
No texto, o mineiro faz uma cronologia do processo de discussão interna do PSDB sobre a sucessão. Diz que defendeu a realização de prévias, que, a seu ver, levariam o partido a "fortalecer sua identidade", sem sucesso.
Lembra que pretendia antecipar a decisão para este ano por achar que "uma construção com essa dimensão e complexidade não poderia ser realizada às vésperas da eleição". De novo, não teve êxito.
"Deixo a partir deste momento a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, mas não abandono minhas convicções e minha disposição para colaborar, com meu esforço e minha lealdade", diz o texto, sem, no entanto, mencionar o nome de Serra.
Com a saída de Aécio de cena, as pressões se voltaram para que o paulista antecipe sua decisão. No início da noite, Serra divulgou nota em que elogia Aécio, diz que ele teria "todas as condições" de ser candidato a presidente, mas não fala sobre a própria pré-candidatura.
A desistência de Aécio foi oficializada no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. A carta lida tinha sido entregue pela manhã ao presidente e ao secretário-geral do partido, senador Sérgio Guerra (PE) e deputado federal Rodrigo de Castro (MG).

Porta aberta
Na nota, Aécio não explicita que será candidato ao Senado, como vinha dizendo nos últimos meses. Diz apenas que a decisão lhe permite "novas reflexões sobre o futuro". A omissão foi lida por seus aliados como uma porta aberta para voltar a pleitear a candidatura presidencial, caso Serra não se decida logo ou prefira disputar a reeleição ao governo estadual, hipótese considerada hoje pouco provável.
Para os serristas, fica uma brecha, também, para que ele seja vice numa chapa "puro-sangue". As estocadas em Serra no texto são sutis, mas perceptíveis. Aécio reafirmou que sua candidatura traria "um perfil de alianças mais amplo", argumento que usou o tempo todo no debate interno. Diz, ainda, que, se não é possível "controlar" o "tempo da política", não se pode, por outro lado, ser "refém" dele, numa referência à resistência de Serra em antecipar a decisão no PSDB.
Já as críticas ao PT foram mais incisivas. Aécio diz, na nota, que o PSDB deve estar preparado para responder à "autoritária armadilha do confronto plebiscitário e ao discurso que perigosamente tenta dividir o país ao meio, entre bons e maus, entre ricos e pobres". Na semana passada, o PT levou ao ar uma propaganda partidária com críticas abertas ao PSDB e com vinhetas que diziam que os tucanos governaram "para os ricos", enquanto Lula governaria "para todos".
Antes do pronunciamento Aécio conversou por telefone com Serra e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante reunião de mais de quatro horas com Guerra e Rodrigo de Castro no Palácio das Mangabeiras, sua residência oficial. Serra, que soube da decisão na véspera, foi convidado para o pronunciamento.
Sempre sem citar Serra, Aécio declarou seu comprometimento com os caminhos que o partido tomar. Segundo aliados, o governador mineiro tomou a decisão no início da semana. Por isso não fazia mais sentido "levar isso à frente por mais 15 dias apenas para manter um suspense que não existia para ele", disse Castro. Além disso, o cancelamento de um encontro no Piauí teria contrariado Aécio. Na reunião com Guerra, ele avisou: "Não me venham com a vice".
A possibilidade de uma reviravolta foi escancarada por Castro: "É claro que em política tudo é possível. O governador José Serra não anunciando sua candidatura, nós teremos que conversar com o governador Aécio". Segundo ele, uma menção a Serra no discurso seria um "ato de deselegância".
Castro acrescentou que se espera agora a declaração de Serra. "É lógico que o partido agora espera uma decisão." (BRENO COSTA E CATIA SEABRA)

Leia a íntegra da nota de Aécio Neves

www.folha.com.br/093513


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