São Paulo, Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC demite Elcio Alvares e escolhe Geraldo Quintão

Sérgio Lima/Folha Imagem
O ministro da Defesa, Elcio Alvares, ao sair de encontro com FHC



Crise derruba ministro, que reafirma lealdade ao governo



Porta-voz fala que presidente tem total confiança no escolhido


WILLIAM FRANÇA
AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília

O advogado-geral da União, Geraldo Magela da Cruz Quintão, 63, é o novo ministro da Defesa. Ele vai substituir o ex-senador Elcio Alvares, demitido ontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso depois de um processo de desgaste que se arrastava desde o final do ano passado.
O nome de Quintão foi anunciado ontem pelo porta-voz da Presidência da República, George Lamazière, no início da noite. "O presidente escolheu o advogado-geral por sua competência profissional, experiência e conhecimento do Estado brasileiro. Ele goza da inteira confiança e proximidade do presidente", afirmou.
O novo ministro da Defesa é mineiro e está na Advocacia Geral da União desde 5 de julho de 1993, no governo Itamar Franco.
Na semana passada, Quintão deu parecer favorável à venda de 20% das ações da Embraer para um consórcio de empresas francesas, operação que é contestada por militares da Aeronáutica.
O anúncio provocou surpresa, já que Geraldo Quintão não integrava a lista de cotados para substituir Elcio Alvares. Nesta lista, constavam os nomes do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Célio Borja e do atual ministro do STF Nelson Jobim, que teria inclusive sido convidado e recusado o posto. Outro nome cotado era o do ministro do Supremo Sydney Sanches, além do empresário Roberto Gusmão.
Entre os motivos apontados para a escolha de Quintão por pessoas próximas ao presidente estão a confiança que o presidente tem nele e seu hábito de evitar a superexposição na imprensa, considerado ideal para o cargo por FHC.
Entre os militares, a escolha de Quintão só começou a ser difundida no começo da noite. As primeiras reações, segundo a Folha apurou, também foram de surpresa.
Alvares esteve com FHC durante quase uma hora, no Palácio da Alvorada, e, na saída, às 16h20, afirmou que o presidente pediu que ele saísse do governo pois "necessitava do cargo".
A demissão de Alvares ocorreu mais de três meses após surgirem as primeiras acusações de seu suposto envolvimento com narcotraficantes, que custaram no final de dezembro o cargo do então comandante da Aeronáutica, Walter Werner Bräuer.
Nesse período, FHC reconfirmou Alvares pelo menos duas vezes, mas ontem, aconselhado por integrantes do PSDB, decidiu antecipar o afastamento do ministro. Às 18h30, o porta-voz da Presidência afirmou que o presidente pretendia anunciar o nome do novo ministro somente hoje.
Meia hora depois, Lamazière convocou novamente os jornalistas para anunciar o nome de Quintão como o substituto de Alvares.
O porta-voz não quis comentar os motivos da substituição e nem tampouco fez comentários sobre o comportamento do ministro ou agradeceu a sua colaboração no governo, como costuma fazer.
Até a nomeação oficial de seu substituto, Alvares permanecerá à frente da pasta. "Eu acho que é meu dever, como homem público, permanecer no cargo aguardando aquele que vai me substituir", afirmou o ministro.
FHC comunicara Alvares que ele estava fora do ministério pela manhã. O ministro entrou no Alvorada sisudo, às 15h10, mas saiu sorridente. "Eu não tive dúvida de colocar para ele, com muita franqueza, que eu saía do ministério mais admirador, mais companheiro e consciente de que o presidente cumpriu o seu papel."
Alvares afirmou que FHC não disse os motivos pelos quais pedia o seu afastamento. "Ele não apresentou justificativas, mas ele não precisa dar nenhuma explicação. Nós somos tão amigos que uma palavra, um gesto dele, seria compreensível", afirmou o ministro.
Ele completou: "E, em determinados momentos, por causa da situação política, não compete a você indagar razões ou motivos. Você tem de ter a grande compreensão do momento que você está vivendo. E eu estou tendo essa compreensão, agora".
Alvares afirmou que não saiu com mágoas de FHC ou de colegas de ministério. "Eu saio inteiramente sem qualquer tipo de mágoa. Saio sereno, tranquilo e consciente de uma coisa: quando se é digno, tem sempre um campo profissional para trabalhar."
"Quero deixar claro que a minha amizade com o presidente, se era grande, será maior ainda. Disse sempre que da mesma maneira que ele me nomeava, o presidente poderia me demitir. Deixei claro que ele era o árbitro supremo."
Em certo momento de sua entrevista, Alvares disse que administrativamente seria melhor para FHC que ele fosse afastado para evitar que o presidente continuasse "no tumulto do noticiário".
O ministro disse que pretende largar a vida pública e não descartou voltar a trabalhar no escritório de advocacia que mantinha em Vitória, no Espírito Santo, com a ex-sócia e ex-assessora pessoal Solange Antunes Resende -também afastada em dezembro do Ministério da Defesa sob acusação de trabalhar em favor de narcotraficantes.
"Eu sou um profissional de 45 anos de atividades e tenho uma folha muito bonita como profissional. Eu vou voltar com a maior humildade. Sou jornalista, sou professor e sou advogado. Eu tenho três grandes e bonitas alternativas para continuar", afirmou.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: O vaivém no cargo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.