São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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Candidatura de Sarney no Senado embaralha disputa

Voto anti-PMDB pode atrapalhar eleição de Temer para a presidência da Câmara

Deputados do baixo-clero podem se rebelar contra o fato ter um único partido nas presidências das duas Casas do Congresso

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A virtual entrada de José Sarney (PMDB-AP) na disputa pela presidência do Senado embaralha as eleições para os comandos das duas Casas do Congresso, marcadas para o dia 2 de fevereiro. O chamado baixo-clero passa a ter uma chance real de vitória. Repete-se o cenário de quatro anos atrás, em 2005, quando o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) ganhou a eleição para presidente da Câmara e surpreendeu o Palácio do Planalto.
Se Sarney se consolidar no Senado, tende a proliferar na Câmara a noção de que o PMDB terá poderes exagerados. É que o favorito para presidi-la é o deputado Michel Temer, 68, peemedebista por São Paulo. Um único partido mandaria no Congresso inteiro.
Nesse cenário, crescem as chances de deputados de menor expressão se rebelarem contra o que hoje seria uma eleição tranquila de Temer. Os três depositários possíveis dos votos anti-PMDB são, pela ordem de favoritismo no momento, Ciro Nogueira (PP-PI), Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Cada um dos três tem uma estratégia definida. Ciro Nogueira, 40, é herdeiro direto de Severino Cavalcanti, embora não tenha sobre as costas a mesma reputação fisiológica do seu antigo padrinho. De família rica, sua ambição é apenas ter mais poder político. Faz uma campanha do tipo "formiguinha", tentando marcar conversas particulares com cada um dos outros 512 deputados. Neste mês, já conseguiu falar com pouco mais de 300.
Aldo Rebelo, 52, já foi presidente da Câmara. É um aliado histórico de Lula. Sua expectativa é ficar posicionado para ser a opção confiável do Planalto no caso de falhar a aposta governista em Michel Temer.
Por último, Osmar Serraglio, 60, é um azarão. Apesar de ser do PMDB, representa uma ala desgarrada da sigla, minoritária, em defesa de atitudes mais éticas no Congresso. Foi relator da CPI dos Correios, que investigou o mensalão (2005). Suas chances de vitória são minúsculas, pois dependeria de uma grande crise congressual -o que parece improvável no momento. Hoje, tem menos de 30 votos garantidos na disputa.

Traições
As eleições para presidentes da Câmara e do Senado são secretas. Em público, os congressistas apenas revelam o voto de acordo com as orientações gerais de seus partidos. Nessa lógica, as 12 legendas oficialmente a favor de Temer dariam a ele cerca de 400 votos.
É quase impossível encontrar um deputado petista contra Temer -o PT fez um acordo com o PMDB e agora precisa devolver o apoio recebido há dois anos por Arlindo Chinaglia, o atual presidente da Casa.
Nos bastidores, a história é outra. A Folha entrevistou deputados na última semana de maneira reservada. Há indicação de possíveis traições em todas as siglas.
Um caso emblemático é o de um peemedebista que chegou a elogiar Temer pessoalmente em um almoço recente, na presença do candidato. A Folha apurou que esse politico tende a votar em Ciro Nogueira.
O desfecho da disputa é imprevisível. O quadro está atrelado à entrada -ou não- de Sarney no páreo. Adversários de Temer torcem para a indefinição prosseguir ao máximo, pois assim se reduz o tempo disponível para uma reação do PMDB da Câmara.


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