|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Candidatura de Sarney no Senado embaralha disputa
Voto anti-PMDB pode atrapalhar eleição de Temer para a presidência da Câmara
Deputados do baixo-clero podem se rebelar contra o fato ter um único partido nas presidências das
duas Casas do Congresso
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A virtual entrada de José Sarney (PMDB-AP) na disputa pela presidência do Senado embaralha as eleições para os comandos das duas Casas do
Congresso, marcadas para o dia
2 de fevereiro. O chamado baixo-clero passa a ter uma chance
real de vitória. Repete-se o cenário de quatro anos atrás, em
2005, quando o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) ganhou a eleição para presidente
da Câmara e surpreendeu o Palácio do Planalto.
Se Sarney se consolidar no
Senado, tende a proliferar na
Câmara a noção de que o
PMDB terá poderes exagerados. É que o favorito para presidi-la é o deputado Michel Temer, 68, peemedebista por São
Paulo. Um único partido mandaria no Congresso inteiro.
Nesse cenário, crescem as
chances de deputados de menor expressão se rebelarem
contra o que hoje seria uma
eleição tranquila de Temer. Os
três depositários possíveis dos
votos anti-PMDB são, pela ordem de favoritismo no momento, Ciro Nogueira (PP-PI), Aldo
Rebelo (PC do B-SP) e Osmar
Serraglio (PMDB-PR).
Cada um dos três tem uma
estratégia definida. Ciro Nogueira, 40, é herdeiro direto de
Severino Cavalcanti, embora
não tenha sobre as costas a
mesma reputação fisiológica do
seu antigo padrinho. De família
rica, sua ambição é apenas ter
mais poder político. Faz uma
campanha do tipo "formiguinha", tentando marcar conversas particulares com cada um
dos outros 512 deputados. Neste mês, já conseguiu falar com
pouco mais de 300.
Aldo Rebelo, 52, já foi presidente da Câmara. É um aliado
histórico de Lula. Sua expectativa é ficar posicionado para ser
a opção confiável do Planalto
no caso de falhar a aposta governista em Michel Temer.
Por último, Osmar Serraglio,
60, é um azarão. Apesar de ser
do PMDB, representa uma ala
desgarrada da sigla, minoritária, em defesa de atitudes mais
éticas no Congresso. Foi relator
da CPI dos Correios, que investigou o mensalão (2005). Suas
chances de vitória são minúsculas, pois dependeria de uma
grande crise congressual -o
que parece improvável no momento. Hoje, tem menos de 30
votos garantidos na disputa.
Traições
As eleições para presidentes
da Câmara e do Senado são secretas. Em público, os congressistas apenas revelam o voto de
acordo com as orientações gerais de seus partidos. Nessa lógica, as 12 legendas oficialmente a favor de Temer dariam a ele
cerca de 400 votos.
É quase impossível encontrar um deputado petista contra Temer -o PT fez um acordo
com o PMDB e agora precisa
devolver o apoio recebido há
dois anos por Arlindo Chinaglia, o atual presidente da Casa.
Nos bastidores, a história é
outra. A Folha entrevistou deputados na última semana de
maneira reservada. Há indicação de possíveis traições em todas as siglas.
Um caso emblemático é o de
um peemedebista que chegou a
elogiar Temer pessoalmente
em um almoço recente, na presença do candidato. A Folha
apurou que esse politico tende
a votar em Ciro Nogueira.
O desfecho da disputa é imprevisível. O quadro está atrelado à entrada -ou não- de
Sarney no páreo. Adversários
de Temer torcem para a indefinição prosseguir ao máximo,
pois assim se reduz o tempo
disponível para uma reação do
PMDB da Câmara.
Texto Anterior: Memória: Governo também beneficiou aliados em 2007 Próximo Texto: Kassab e Maia querem Serra coordenando campanhas Índice
|