São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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NO AR

Cogitação

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Itamar Franco está no exílio, na Itália, mas seu legado é barulhento.
O ministro que ele deixou no Supremo, hoje presidente do órgão, achou por bem defender o afastamento de José Dirceu, dando -quem mais- Itamar como exemplo.
Dele, o ministro Maurício Corrêa, cercado por microfones, ao ser questionado sobre o que fazer:
- Eu conheço uma experiência, que foi extremamente salutar, na época em que o presidente Itamar era o presidente da República (sic).
E relatou a experiência do então ministro Henrique Hargreaves, que foi alvo de uma denúncia semelhante:
- O Hargreaves foi afastado do governo e só voltou quando se esclareceu que ele não tinha absolutamente nada com aquele caso.
Solução absolutamente sensata, como se vê. Como era absolutamente sensata a solução de Aloizio Mercadante, da CPI ampla, um dia antes.
Mas foi o que bastou, pelos canais de notícias, rádios e sites, para derrubar a Bolsa, saltar o dólar etc.
Em meio a um depoimento seu no Congresso, mais lenha. O presidente do Supremo defendeu o "controle externo" do Poder Executivo, dando como motivo o escândalo.
Depois do depoimento, nos corredores, mais contido, ele saiu falando que foi induzido pelos jornalistas, que não defendia o afastamento do ministro da Casa Civil:
- José Dirceu é um homem honrado e digno.
Mas aí o estrago estava feito.
 
Não é só de Maurício Corrêa, que foi seu ministro da Justiça, que vive o legado de Itamar em Brasília.
Também seu líder na Câmara, Roberto Freire, hoje presidente do PPS, supostamente da base governista de Lula, deixou sua marca.
Também defendeu o afastamento do ministro.
 
Em meio a isso tudo, Dirceu se reuniu com Lula, mas foi para "despacho de rotina", garantiu o porta-voz. Precisou garantir mais, três vezes:
- Não há cogitação de que o ministro-chefe da Casa Civil deixe o governo.
 
Depois de tanta "lambança", segundo Franklin Martins, e "trapalhada", segundo Alexandre Garcia, o governo consegue vislumbrar dias mais calmos no Congresso.
De acordo com a Globo, foram suspensas as sessões "até o dia 2 de março". Até lá, aos poucos, apaga-se o assunto CPI.


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