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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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NO AR

Dê uma chance à guerra

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

A Fox News é uma piada, uma comédia -se é que se pode falar assim sem soar tão trivial sobre a tragédia da guerra quanto os sorridentes partidários de Bush.
Seus âncoras escorrem ironia e prazer enquanto anunciam hora a hora a "contagem regressiva" para o ataque.
Seu enviado à frente de guerra, "perto da fronteira com o Iraque", é ninguém menos que Oliver North, o pivô do escândalo Irã-Contras.
Ele entrevista fuzileiros navais, depois ataca os franceses de maneira geral, depois ataca outras TVs por duvidarem da qualidade do equipamento antiguerra química - é um porta-voz em ação.
O que se vê é um circo, cujo slogan a abrir os blocos de programas é nada menos que "Give war a chance", dê uma chance à guerra -em provocação sarcástica contra a canção pacifista de John Lennon.
Eles querem a guerra.
E não são só os editores da Fox News. Pesquisas da CNN, da ABC e da NBC mostraram que dois terços dos americanos querem a guerra.
Não só os americanos. Pesquisa semelhante, no Reino Unido, mostrou apoio crescente ao ataque, ainda que não majoritário, por enquanto.
E não só os anglo-saxões, mas também os governos de inesperadas "30 nações", segundo o secretário de Estado, Colin Powell, desde a Colômbia até a República Tcheca, desde a Holanda até a Coréia do Sul.
É a "coalizão dos que querem" -dos que querem agradar a George W. Bush.
 
Rupert Murdoch, da Fox News, que já detém o serviço de TV por satélite Sky, está de olho no concorrente DirecTV. Se ele tiver sucesso, o setor será todo dele, no Brasil.
 
A CNN, depois de dois ou três anos no esforço -perdido- de ser mais patrioticamente americana do que a Fox, dá sinais de voltar aos tempos de seu fundador, Ted Turner.
Aaron Brown, seu principal âncora, anda desbragadamente "liberal", no sentido americano do termo.
Ontem, conversou longamente com Frank Rich, colunista de esquerda do "New York Times" que aproveitou para irradiar o medo de ataque a Nova York -e já culpou Bush.
 
A Colômbia está na "coalizão dos que querem", mas vale registrar que Bush só não conseguiu sua "vitória moral" na ONU porque os "dois pobres latinos", na expressão da CNN, não cederam.
México e Chile.


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