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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI EM APUROS
Nova testemunha alugou casa para "república de Ribeirão" e relata encontro que teve com ministro; dona rompeu contrato quando soube de "farras"
Corretor diz ter visto Palocci com lobistas
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma terceira testemunha apareceu e afirmou ter visto o ministro Antonio Palocci na companhia de seus ex-assessores da Prefeitura de Ribeirão Preto em um
imóvel alugado em Brasília.
Em 2003, o corretor Carlos Magalhães intermediou a locação de
uma casa no Setor de Mansões
Dom Bosco, bairro nobre de Brasília, para o grupo hoje conhecido
como "república de Ribeirão":
Rogério Buratti, Ralf Barquete e
Vladimir Poleto.
"Só sei que ele [Palocci] me
cumprimentou, falou "boa noite".
Eu falei: "Boa noite". Nem quis falar ministro para não chocar",
disse o corretor ao descrever seu
único encontro com Palocci no
imóvel. Segundo ele, o aluguel
(R$ 9.000 mensais) e uma parcela
de R$ 22 mil para a construção de
uma quadra de tênis foram pagos
pela Leão Leão, da qual Buratti foi
vice-presidente. Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Como a casa foi alugada?
Carlos Magalhães - Essa outra
casa foi alugada na época pelo Rogério Buratti e pelo Ralf Barquete.
Só que o contrato estava em nome
de Osvaldo, que eu não sei o sobrenome, da Telecom Cinco Estrelas. Eram US$ 3.500, uns
R$ 9.000 e pouco por mês.
Folha - Com quem foi firmado o
contrato de aluguel?
Magalhães - Não me lembro
mais o nome do proprietário. Sei
que a mulher dele se chamava Elza e ele não-sei-o-quê Kadri [embaixador Jorge Geraldo Kadri].
Eu até dei uns papéis [relativos a
esse contrato] à imprensa, com a
letra desse Vladimir Poleto.
Folha - Mas o Poleto entra formalmente no negócio?
Magalhães - Entra porque era
do grupo. Era o Vladimir Poleto,
Rogério Buratti, que queria fazer
uma quadra de tênis. Mas a proprietária não permitiu porque ele
mandou a metade do dinheiro e
depois não mandou o resto.
Folha - Mandou para quem?
Magalhães - Para a proprietária.
A quadra ia ficar em R$ 44 mil.
Buratti mandou a metade para a
dona e depois não mandou mais
nada. Aí ela não aceitou porque
achou que eles não iam pagar.
Folha - Durante quanto tempo ficaram na casa?
Magalhães - Acho que ficaram
uns seis meses lá, até alugarem essa outra, na QI 1.
Folha - O sr. tem contato com o
caseiro que trabalhou lá na época?
Magalhães - Não tenho. Ele foi
mandado embora e eles trouxeram um de São Paulo. Eles não
quiseram o menino lá mais porque ele estava fofocando, falando
que o Palocci estava indo lá, que
eles estavam levando mulheres.
Aí, no dia em que chegou mudança de São Paulo, com uns quadros, obras de arte, num domingo, o irmão da dona da casa barrou porque não agüentava mais a
farra que estavam fazendo.
Folha - O que o caseiro falava?
Magalhães - Ele disse que todo
dia de noite chegava lá o Buratti,
esse Ralf, o Vladimir e mais um
monte de gente de São Paulo, de
Ribeirão, e o ministro ia lá com
freqüência. O caseiro dizia, mas
uma vez cheguei a ver o ministro.
Folha - Quando?
Magalhães - Faz tempo já. Em
2003, não me lembro bem da data. Fui lá medir a quadra, mas o
espaço não dava para fazer a quadra que eles queriam. Vi o ministro lá umas sete e meia da noite.
Folha - Como pagavam a casa?
Magalhães - Pagavam direitinho. Mandavam o dinheiro para a
dona da casa. Mandaram dinheiro para mim só nos dois primeiros meses. Quando ela rescindiu o
contrato, ela devolveu os dois últimos meses pagos, mas não devolveu o dinheiro da quadra.
Para mim foi uma surpresa desagradável saber que o Ralf tinha
falecido. Ele é quem mandava e
disse: "Não queremos ficar perto
do ministro". Eu tinha casa para
eles na península [dos ministros,
local de residências oficiais, inclusive a de Palocci]. "Não. Pertinho
assim do ministro não é bom."
Folha - Como foi o dia em que o sr.
viu o ministro?
Magalhães - Eu vi ele chegando
com esse Ralf. Ele foi conhecer a
casa. É uma casa bem afastada. Lá
eles podiam fazer a festa que eles
queriam, mas o caseiro fofocou.
Folha - O que o caseiro contou?
Magalhães - O caseiro ganhava R$
500. Eles ofereceram R$ 1.000 para ele, para ele não conversar fiado. Aí eu ia lá, antes de entregar a
casa para eles, e o caseiro já estava
falando. Aí chegou no ouvido do
Buratti, que me disse: "Olha lá, esse homem já está conversando
fiado e nós queremos sigilo".
Ele mandava o dinheiro da Leão
Leão para mim, lá de Ribeirão.
Um dia liguei para ele no celular
para falar sobre a quadra. Ele estava em Paris. Disse para eu passar
um fax que a secretária dele liberaria o dinheiro. Mandaram R$ 22
mil, que caiu na conta da dona Elza. Como a quadra não deu o tamanho que queriam, disseram
que não iriam mais fazer. Ela não
quis devolver o dinheiro, para ficar como garantia.
Folha - Como eram feitos os pagamentos do aluguel no começo?
Magalhães - Enquanto dona Elza estava morando no Brasil os
pagamentos eram feitos diretamente para ela. Depois que ela foi
morar no Paraguai com o dr. Jorge, aí não tinha mais como. Mas,
nos últimos dois meses, ela não
queria mais porque eles não arrumaram avalista. Aí aconteceu isso: o Buratti queria colocar o contrato no nome dele e da ex-mulher, que se chama Elza também.
A proprietária não aceitou. Eu
disse: "Dona Elza, deixa eles aí,
porque eles estão pagando direitinho". Ela respondeu: "Mas o meu
caseiro me contou umas coisas,
eu não estou satisfeita. Estão levando mulher para lá". Eles chegaram com uma conversa que a
casa ia ser para o ministro.
Folha - O caseiro....
Magalhães - Mas não era esse caseiro [Francenildo dos Santos
Costa] que falou bobagem, não. O
Francenildo eu acho que não
mentiu. Muitas das coisas que eu
estava ouvindo ontem [no depoimento à CPI] bateram igualzinho.
O Ralf é que mandava neles todos,
porque é amigo do ministro.
Folha - O sr. se lembra em que
carro o ministro chegou à casa?
Magalhães - Não sei. Acho que
era um Omega. Só sei que ele me
cumprimentou, falou "boa noite". Eu falei: "Boa noite". Nem falei ministro para não chocar. Ele
falou: "Boa noite, como vai o senhor?". Foi muito educado. Aí
eles entraram na casa e eu fiquei
do lado de fora, com um outro rapaz, medindo a quadra.
Folha - O sr. recebeu pagamentos, então?
Magalhães - Só esses últimos
dois, mas ela não queria eles, não.
Folha - Como foi o pagamento?
Magalhães - Eles mandaram na
minha conta. A secretária do Buratti é que mandava pra nós.
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