|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Carros da União circulam sem identificação
Regra que obriga uso de adesivos em carros oficiais é burlada e dificulta fiscalização de irregularidades; Folha flagra usos indevidos
Órgãos alegam que seguem as regras e que os carros são usados só em serviço; sobre aluguéis, dizem que manter veículo próprio sai mais caro
ANDREZA MATAIS
LULA MARQUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Presidência da República e
ministérios têm burlado regra
que obriga a identificação de
carros oficiais com adesivos colados nas portas dos veículos, o
que abre brechas para irregularidades e dificulta a fiscalização. A fraude ocorre, sobretudo, nos carros alugados, frota
que já supera a própria em muitas pastas. Como circulam com
chapa comum, e não branca, só
podem ser identificados se estiverem com os adesivos.
Há casos de carros com chapa branca em que também não
há nenhuma identificação. Pela
norma em vigor, esses veículos
só podem circular com os adesivos, mesmo que tragam somente a inscrição "governo federal" -que não revela a qual
unidade o carro serve.
As regras podem mudar nos
próximos dias. Após ter sido
questionado pela Folha na semana passada, o governo editou ontem decreto sobre o uso
dos carros definindo que o Ministério do Planejamento fará
nova regra (leia ao lado).
Nas últimas quatro semanas,
a Folha flagrou carros sem
identificação sendo usados por
funcionários para levar filhos a
escolas, ir a shoppings, bares e
outros compromissos pessoais.
A justificativa dos órgãos para os aluguéis é que a manutenção dos carros custa em média
R$ 3.000 por mês e sai mais barato terceirizar o serviço. Sobre
os valores, dizem que todos os
contratos foram feitos com licitação. O Planejamento informou que a legislação recomenda os aluguéis porque manter
uma frota não faz parte da atividade-fim do governo.
No Desenvolvimento, a reportagem encontrou dez carros sem identificação, todos
alugados. Em 22 de fevereiro,
sexta-feira, um deles, o Corolla
de placa AMZ-6874, deixou um
servidor no shopping Conjunto
Nacional. A Instrução Normativa número 1, editada em julho
de 2007 e ainda em vigor, até
que as novas regras sejam editadas, permite o uso apenas em
compromissos de trabalho.
Na segunda 11 de fevereiro,
um Bora JFW-8021 sem identificação saiu da garagem do
Planalto. Levava o assessor internacional da Presidência,
Marco Aurélio Garcia, para um
almoço em restaurante, depois
para sua casa e, horas depois,
de volta ao trabalho.
No mesmo dia, o motorista
do Astra JFP-3684, chapa
branca, usou o carro para ir a
um bar na quadra 702 Norte. O
veículo não estava identificado,
mas a Folha apurou que serve
ao Planejamento.
A norma estabelece que os
carros alugados têm de circular
com adesivo no tamanho 45 cm
x 22 cm, na cor amarelo-ouro
ou similar, posicionados abaixo
das janelas com as inscrições:
"A serviço do governo federal",
a sigla do órgão a que pertence
e "uso exclusivo em serviço".
Apesar das irregularidades, os
ministérios e a Presidência disseram que seguem a norma.
Diálogo revelado à reportagem pelo assessor de um ministro que pediu para não ser
identificado mostra que a ordem para burlar a regra, às vezes, vem de cima. O hoje ministro, que à época ocupava outro
cargo na pasta, consultou a assessoria se seria possível tirar o
adesivo do carro usado por ele.
Informado sobre a norma, alegou, diz o relato, que servidores
de outros ministérios já estavam tirando o adesivo.
A norma favorece a fraude ao
definir que os adesivos sejam
imantados, e não colados, o que
permite retirá-los facilmente.
A regra mudou em julho do
ano passado, quando permitiu
a funcionários do alto escalão a
utilização de veículos para
irem de casa ao trabalho e
abriu brechas para que servidores do alto escalão e de cargos de confiança sejam levados
a locais de embarque e desembarque, como aeroportos.
Sobre as irregularidades, o
Planejamento disse que sua
função é normatizar e que cabe
a cada órgão fiscalizar se os veículos estão sendo usados corretamente. A previsão está na
própria Instrução Normativa.
A Controladoria Geral da
União disse que não tem servidores suficientes para fazer
uma fiscalização permanente e
que o controle é feito durante a
auditoria anual que o órgão
realiza nos ministérios.
Embora a Folha tenha flagrado veículos que servem ao
Planalto sem identificação, a
assessoria da Casa Civil disse
que segue a norma pela qual os
veículos alugados pelo ministério circulam com adesivos, com
exceção dos que envolvem
questões de segurança, que trazem as informações: "A serviço
do governo federal-PR" e "Uso
exclusivo em serviço".
Desenvolvimento e Planejamento também informaram
que seguem as regras. Os três
órgãos informaram que os carros são usados só em serviço.
Texto Anterior: Pará: Promotoria propõe 137 ações civis para conter devastação Próximo Texto: Decreto pede novas regras para veículos Índice
|