São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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Planalto intervém em crise no Senado, que anuncia reforma

Múcio e Mercadante negociam trégua entre PT e PMDB na Casa após série de denúncias

Sarney assina protocolo de intenções para promover mudanças administrativas e afirma que quer reduzir pela metade número de diretorias


Lula Marques/Folha Imagem
Sarney (PMDB-AP) durante assinatura de protocolo com a FGV

ADRIANO CEOLIN
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), assinou ontem um protocolo de intenções com a FGV (Fundação Getúlio Vargas) para promover o que chamou de "profunda reestruturação administrativa na Casa". A medida foi tomada após a série de denúncias que instalou um clima de guerra na base governista, o que motivou a ida do ministro José Múcio (Relações Institucionais) ontem ao Senado.
Sarney afirmou que a reestruturação administrativa da Casa necessitará também de um esforço político. "Vamos ter problemas políticos sérios a enfrentar, mas teremos a determinação de fazê-lo", disse.
Sarney ressaltou que um dos principais objetivos da reforma é promover servidores por mérito, e não por indicações. Ele anunciou ainda que haverá uma auditoria para saber onde e como o Senado está gastando. Ainda não foi definido quanto o serviço da FGV custará ao Senado, por isso também não houve abertura de licitação.
"Haverá um plano de carreira para que a ascensão dos funcionários de um posto para outro seja feita através de uma qualificação, que será feita pelo ILB [Instituto Legislativo Brasileiro]", disse Sarney.
O trabalho será coordenado pelo consultor da FGV Bianor Cavalcanti. Ele promete encerrar a primeira parte da auditoria em seis meses. Sarney, que ontem pediu para que todos os 181 diretores colocassem os cargos à disposição, quer reduzir o número pela metade.

Crise
A crise instalou-se no Senado após demissão de dois diretores da Casa, a revelação de que houve pagamento de horas extras no recesso parlamentar e a contratação de parentes de funcionários em empresas de terceirização de mão-de-obra contratadas pelo Senado.
Na avaliação de governistas e oposicionistas, a série de denúncias é sequela da disputa pela presidência do Senado ocorrida em janeiro entre Sarney e Tião Viana (PT-AC). Isso teria ficado mais evidente após a revelação do mau uso de benefícios da Casa pelos dois.
No início da semana, Sarney teve de responder por que enviou policiais legislativos para vigiar uma de suas propriedades no Maranhão. Em seguida, sua filha, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), foi acusada de usar sua cota de passagem aérea para trazer empresários e amigos a Brasília. Anteontem, o clima acirrou-se após a denúncia de que Viana emprestou um telefone celular da Casa para a filha viajar para o México.
Logo de manhã, o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), foi ao gabinete de Sarney para buscar um entendimento. Depois, encontrou-se com Renan Calheiros (AL), líder do PMDB, e Gim Argello (DF), líder do PTB -ambos são da base governistas, mas apoiaram Sarney na disputa pelo comando da Casa.
O petista cobrou explicações de Calheiros e Argello. "Atingiram a moral do Tião", disse. "Não é nada de moralismo", respondeu o líder do PMDB. Depois, os três decidiram conversar juntos com Sarney, que afirmou que não teve nada a ver com a denúncia contra Viana.
"É importante retomar essa relação PT e PMDB, dois partidos fundamentais para governabilidade", disse Mercadante.
Como um sinal claro desse acordo, o PMDB poderá ceder a vaga de líder do governo no Congresso -hoje com Roseana- para Ideli Salvatti (PT-SC). Múcio foi ao Senado para tentar fechar essa negociação. Ainda ontem à noite, haveria uma outra reunião no Planalto.


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