São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2001

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ROMBO AMAZÔNICO

Polícia Federal encontra documento que vincula esquema de Mato Grosso ao do Pará no caso Sudam

Empresa de Borges movimentou R$ 209 mi

Alan Marques/Folha Imagem
José Osmar Borges, acusado de fraudar a Sudam, é do carro da Polícia após ser preso em Mato Grosso


JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documento oficial da Polícia Federal informa que a Saint Germany, uma das seis empresas de José Osmar Borges, movimentou em suas contas bancárias, só no ano de 1996, a impressionante soma de R$ 209 milhões. O dinheiro foi carreado, em várias remessas, para uma conta do tipo CC-5, utilizada para mandar recursos para fora do país.
A Saint Germany é a mesma empresa que, também em 1996, comprou uma fazenda no Pará em sociedade com o presidente do Congresso, Jader Barbalho. O nome que figurava na sociedade era o da atual mulher de Jader, Márcia Cristina Zahluth Centeno.
Na última segunda-feira, em discurso, Jader disse que se valeu do nome de Márcia porque estava, à época, se separando de Elcione Barbalho, sua primeira mulher. Em 1998, o senador comprou toda a propriedade.
O laudo que consolida a movimentação bancária da Saint Germany foi elaborado pela PF a partir da compilação de documentos bancários da empresa. A PF teve acesso aos dados graças a pedido de quebra de sigilo formulado pelo Ministério Público e autorizado pela Justiça do Mato Grosso.
Em Belém, a PF localizou um contrato comercial que vincula Osmar Borges a Maria Auxiliadora Barra Martins. Os detalhes do documento foram mantidos em sigilo. Auxiliadora é uma ex-diretora Financeira da Sudam, ao tempo em que a autarquia era chefiada por José Artur Guedes Tourinho, apadrinhado de Jader Barbalho.
Aposentada, Auxiliadora passou a comandar um escritório de lobby que apressava a liberação de recursos na Sudam. A firma funciona num imóvel que, até 1998, pertencia a Jader. Os projetos encaminhados por seu intermédio somam R$ 1,1 bilhão. Desse total, foram efetivamente liberados R$ 248,6 milhões.
O contrato foi localizado no instante em que se fazia a catalogação dos documentos apreendidos no escritório de Auxiliadora. Até ontem, a PF não havia conseguido analisar nem 10% da papelada.
Os R$ 209 milhões que escoaram pela conta da Saint Germany surpreenderam até mesmo as pessoas que investigam o caso há quatro anos. É mais do que todo o dinheiro repassado pela Sudam a Osmar Borges.
As seis empresas do ex-sócio de Jader receberam da autarquia, desde 1991, R$ 83 milhões. Atualizada monetariamente, a cifra salta para cerca de R$ 120 milhões. É esse o número de que se vale o Ministério Público para afirmar que Osmar Borges desviou mais de R$ 100 milhões em recursos de incentivos fiscais.
Em função da discrepância, o laudo da PF será submetido a uma rechecagem. Confirmada a cifra, será aberta uma nova linha de investigação, para apurar a suspeita de que as atividades ilícitas de Osmar Borges não tenham se restringido à Sudam.
De acordo com o documento da PF, o dinheiro da Saint Germany escoou para fora do país por meio de uma conta CC-5 aberta em nome de Pedro Paulo Velasquez Romero, na agência 179 do BCN, em Ponta Porã (MS), sob o número 237.293-3. Suspeita-se que Velasquez Romero seja um laranja. O nome frequenta outros escândalos.
Foi utilizado para remeter para o exterior dinheiro desviado no caso dos precatórios e do rombo do TRT de São Paulo. A conta de Velasquez Romero recebeu, em 1995 e 1996, mais de R$ 8,5 milhões provenientes desses dois escândalos. A polícia jamais conseguiu encontrá-lo. Chegou-se apenas a uma caixa postal registrada em seu nome.


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