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PF diz ter provas de repasses rotineiros de bingo a políticos
Setor de inteligência que atuou no caso Hurricane aponta contribuições para campanhas
Objetivo de contraventores é montar base no Congresso favorável ao jogo no país; escutas comprometem pelo menos 2 deputados federais
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O inquérito sigiloso da Operação Hurricane (furacão) sustenta que há "indícios e provas"
da existência de "pagamento
rotineiro" de propinas a integrantes do Parlamento, que
atuariam em um lobby para liberar a exploração do jogo no
país. As informações constam
em documento da Polícia Federal que solicitou a prisão dos
25 investigados pela operação.
"A análise do material até
agora produzido traz indícios e
provas de que o grupo teria
contribuído para a campanha
eleitoral de alguns candidatos,
bem como demonstrou que alguns integrantes mantêm contato direto com integrantes do
Parlamento federal, inclusive
de modo espúrio, indicando
existência de pagamentos rotineiros a determinados agentes
políticos", diz o documento policial, citando a Aberj (associação de bingos do Rio de Janeiro) como a entidade que faria o
contato com os políticos.
A Folha localizou nas quase
4.000 páginas do inquérito
apenas os nomes dos deputados federais Marina Maggessi
(PPS-RJ) e Simão Sessim (PP-RJ). Baseada em escutas telefônicas, a PF suspeita que Maggessi recebeu em 2006 doação
de campanha por meio de caixa
dois do bicheiro Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães. A deputada nega ter recebido dinheiro.
Já Sessim, sempre de acordo
com a PF, foi procurado pelo
bicheiro Aniz Abrahão David,
que é seu primo, com o objetivo
de que o parlamentar trabalhasse na aprovação de um projeto pró-bingos.
"Os "tios" [bicheiros e bingueiros do Rio] estão realizando gestões para aprovação do
projeto. (...) Aniz Abrahão David está mantendo contatos
com Simão Sessim e outros deputados com a finalidade de legalizar a atividade de exploração do jogo", diz parte do inquérito da PF.
Mais adiante, acrescenta:
"Com isso, os representantes
[do suposto esquema] tentam a
legalização da atividade através
de gestões, lícitas e ilícitas, no
Congresso Nacional, objetivando realizar modificações na
legislação que permitam a exploração do jogo."
Hoje, o jogo do bicho é proibido e não há permissão na legislação federal para o funcionamento de bingos e caça-níqueis. Várias casas funcionam
por meio de liminares judiciais.
"Vontade pessoal"
Simão Sessim disse à Folha
que nunca foi procurado por
Aniz para votar a favor de qualquer assunto relacionado ao jogo. "Ele [Aniz] nunca me pediu
nada, em nenhum momento,
durante toda a minha vida parlamentar". Sessim afirma, entretanto, que votaria a favor do
projeto pró-bingo. "Mas voto
por minha vontade pessoal, como fiz em toda a minha carreira parlamentar".
Os textos produzidos pelo
setor de inteligência da PF para
o inquérito afirmam que o suposto envolvimento de políticos será mais explorado na
chamada "fase ostensiva" da
investigação, que se iniciaria
agora. "As circunstâncias dessa
aproximação [bicheiros e políticos] poderão ser aclaradas
neste próximo período ou em
fase ostensiva da investigação."
Já as supostas doações do esquema para candidaturas políticas por meio de caixa dois
-quando o recebimento do recurso não é declarado à Justiça
Eleitoral- são classificadas pela Polícia Federal como "interesse da quadrilha em possuir
uma "base aliada" no Congresso
Nacional e na Assembléia Legislativa [do Rio de Janeiro]."
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