São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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PF diz ter provas de repasses rotineiros de bingo a políticos

Setor de inteligência que atuou no caso Hurricane aponta contribuições para campanhas

Objetivo de contraventores é montar base no Congresso favorável ao jogo no país; escutas comprometem pelo menos 2 deputados federais


ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
RANIER BRAGON

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O inquérito sigiloso da Operação Hurricane (furacão) sustenta que há "indícios e provas" da existência de "pagamento rotineiro" de propinas a integrantes do Parlamento, que atuariam em um lobby para liberar a exploração do jogo no país. As informações constam em documento da Polícia Federal que solicitou a prisão dos 25 investigados pela operação.
"A análise do material até agora produzido traz indícios e provas de que o grupo teria contribuído para a campanha eleitoral de alguns candidatos, bem como demonstrou que alguns integrantes mantêm contato direto com integrantes do Parlamento federal, inclusive de modo espúrio, indicando existência de pagamentos rotineiros a determinados agentes políticos", diz o documento policial, citando a Aberj (associação de bingos do Rio de Janeiro) como a entidade que faria o contato com os políticos.
A Folha localizou nas quase 4.000 páginas do inquérito apenas os nomes dos deputados federais Marina Maggessi (PPS-RJ) e Simão Sessim (PP-RJ). Baseada em escutas telefônicas, a PF suspeita que Maggessi recebeu em 2006 doação de campanha por meio de caixa dois do bicheiro Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães. A deputada nega ter recebido dinheiro.
Já Sessim, sempre de acordo com a PF, foi procurado pelo bicheiro Aniz Abrahão David, que é seu primo, com o objetivo de que o parlamentar trabalhasse na aprovação de um projeto pró-bingos.
"Os "tios" [bicheiros e bingueiros do Rio] estão realizando gestões para aprovação do projeto. (...) Aniz Abrahão David está mantendo contatos com Simão Sessim e outros deputados com a finalidade de legalizar a atividade de exploração do jogo", diz parte do inquérito da PF.
Mais adiante, acrescenta: "Com isso, os representantes [do suposto esquema] tentam a legalização da atividade através de gestões, lícitas e ilícitas, no Congresso Nacional, objetivando realizar modificações na legislação que permitam a exploração do jogo."
Hoje, o jogo do bicho é proibido e não há permissão na legislação federal para o funcionamento de bingos e caça-níqueis. Várias casas funcionam por meio de liminares judiciais.

"Vontade pessoal"
Simão Sessim disse à Folha que nunca foi procurado por Aniz para votar a favor de qualquer assunto relacionado ao jogo. "Ele [Aniz] nunca me pediu nada, em nenhum momento, durante toda a minha vida parlamentar". Sessim afirma, entretanto, que votaria a favor do projeto pró-bingo. "Mas voto por minha vontade pessoal, como fiz em toda a minha carreira parlamentar".
Os textos produzidos pelo setor de inteligência da PF para o inquérito afirmam que o suposto envolvimento de políticos será mais explorado na chamada "fase ostensiva" da investigação, que se iniciaria agora. "As circunstâncias dessa aproximação [bicheiros e políticos] poderão ser aclaradas neste próximo período ou em fase ostensiva da investigação."
Já as supostas doações do esquema para candidaturas políticas por meio de caixa dois -quando o recebimento do recurso não é declarado à Justiça Eleitoral- são classificadas pela Polícia Federal como "interesse da quadrilha em possuir uma "base aliada" no Congresso Nacional e na Assembléia Legislativa [do Rio de Janeiro]."


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