São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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Câmara oferece plano de saúde a jornalistas

Os credenciados para cobrir notícias da Casa e seus familiares podem fazer consultas e exames clínicos sem pagar nada

Só em 2006, profissionais ou seus dependentes fizeram 1.874 consultas sem pagar; grupo estuda pôr fim ao benefício, em vigor desde 92


RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Câmara oferece há pelo menos 15 anos uma espécie de "plano de saúde" gratuito para os jornalistas credenciados a fazer a cobertura noticiosa da Casa. Eles têm à disposição cerca de 20 das principais especialidades médicas, além de exames clínicos, benesse que é estendida aos seus dependentes e a pais e mães, caso eles não tenham "economia própria".
Só em 2006, jornalistas ou seus familiares usufruíram de 1.874 consultas ambulatoriais, uma média de sete por dia útil. Levando-se em conta que dificilmente uma consulta particular em Brasília sai por menos de R$ 100, a conta ficou em ao menos R$ 187 mil no ano passado.
Em dezembro, havia 476 jornalistas, repórteres-fotográficos, cinegrafistas e auxiliares de órgãos de comunicação privados e públicos credenciados pela Câmara para fazer a cobertura jornalística da Casa.
A Câmara, alegando razões de sigilo médico, não divulgou o nome de nenhum dos atendidos. O levantamento inclui apenas consultas, e não atendimentos de emergência.
Embora vários não usem ou tenham conhecimento do privilégio, os credenciados, além de familiares, têm direito à mordomia graças ao Ato da Mesa 44, de 1992, que regulamenta "a prestação de assistência médica e social pelo Departamento Médico da Câmara". Antes disso, o "plano de saúde" para os jornalistas já funcionava, mas de maneira informal.
A credencial que a Câmara distribui à imprensa é usada para a identificação do profissional e para que ele tenha livre acesso a locais como o plenário.
Um grupo de trabalho formado para rediscutir os critérios de credenciamento da imprensa na Câmara deve sugerir o fim do privilégio. A decisão final depende da Mesa, comandada por Arlindo Chinaglia (PT-SP).
"Apóio essa medida, tem que cortar mesmo. Jornalista não pode ter esse tipo de regalia", disse o correspondente da rádio Jovem Pan José Maria Trindade, presidente do chamado "comitê de imprensa" da Câmara, agremiação dos jornalistas que fazem a cobertura noticiosa no local.
Trindade está em Brasília desde 1986 e disse nunca ter usado o "plano de saúde" nem conhecer quem o use.
Em quase todos os órgãos públicos importantes de Brasília -como o Palácio do Planalto, o Senado, o Supremo Tribunal Federal e o Banco Central- há comitês de imprensa.
No caso da Câmara, ele é composto por um espaço físico, mesas, cadeiras e armários, além de computadores conectados à internet e linhas telefônicas. O objetivo é montar uma infra-estrutura para que os jornalistas consigam repassar às suas sedes, no menor tempo possível, os acontecimentos que surgem ao longo do dia.
Os principais órgãos de comunicação possuem computadores e linhas telefônicas próprios instalados nos comitês.
O atendimento médico gratuito não é a única benesse oferecida pela Câmara a jornalistas ao longo dos anos. Na década passada, era comum a Casa bancar viagens internacionais de repórteres para que eles acompanhassem deputados ou participassem de eventos. Além das passagens, a Câmara pagava uma diária de US$ 200.


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