São Paulo, domingo, 19 de abril de 2009

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Grupos disputam espólio do poder de Agaciel

Concursados, advogados e consultores estão de olho na direção geral do Senado, que administra R$ 2,7 bilhões anuais

Indicado para o cargo por Agaciel, Alexandre Gazineo, atual diretor-geral, não deve permanecer no posto por falta de apoio político

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O pano de fundo da provável substituição do atual diretor-geral do Senado, Alexandre Gazineo, é uma disputa de bastidores -com potencial tão explosivo quanto a disputa política entre PMDB e PT que provocou a atual onda de escândalos no Senado- pelo espólio de Agaciel Maia, que caiu após 14 anos no poder.
De olho no cargo, que comanda um orçamento de R$ 2,7 bilhões anuais, se digladiam, de um lado, os consultores da Casa e, de outro, os advogados. O primeiro grupo, que é mais numeroso e bem relacionado com os senadores, deve levar a melhor.
A disputa, por si só, marca uma mudança de paradigma na Casa: Agaciel, que comandou com mão-de-ferro durante 14 anos, era egresso da turma que entrou "pela janela" no Senado, sem concurso público. Foi diretor da lendária gráfica da Casa, sinônimo nacional para empreguismo e mordomia.
Já os candidatos ao seu cargo entraram no Senado por concurso público e fazem parte da chamada "elite técnica". O que separa os que agora se atacam numa guerra de bastidores são afinidades corporativas e uma sutil diferença de função.

"Moleque"
A Advocacia do Senado é composta por um seleto grupo de dez advogados que ingressou na Casa nos anos 90, num único concurso. É dessa safra o atual diretor-geral, Alexandre Gazineo, indicado para o cargo pelo próprio Agaciel, que não deve permanecer no posto por falta de apoio político.
Na última quinta-feira, Gazineo foi chamado três vezes de "moleque" pelo primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), durante uma reunião da Mesa Diretora, o que dá bem a medida de sua insustentabilidade.
Para o seu lugar se movimentam com desenvoltura os dois principais representantes do grupo dos consultores, bem mais numeroso que o dos advogados e que se arvora a condição de "independência" em relação ao núcleo de poder de Agaciel Maia.
A diferença de função que separa advogados e consultores é que os primeiros têm sua atuação voltada sobretudo para questões internas, administrativas -o que os tornou próximos do grupo de Agaciel ao longo dos anos-, enquanto os consultores legislativos e de Orçamentos trabalham nas questões voltadas ao processo legislativo, sendo mais próximos dos senadores.
O principal cotado para o lugar de Gazineo é o consultor-geral de Orçamentos, Fiscalização e Controle, Fábio Gondim. O ascendente grupo dos consultores também trabalha para manter um de seus principais expoentes, o advogado-geral da Casa, Luiz Fernando Bandeira de Mello, no posto.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), chegara a avisar Bandeira de Mello de que o exoneraria e nomearia, para o seu lugar, o atual diretor de Controle Interno da Casa, Shalom Granado, um dos dez integrantes do "grupo dos advogados".
Foi a partir daí que o bombardeio dos consultores se tornou mais evidente. Com o desgaste de Gazineo e Granado, o mais provável, hoje, é que eles enfrentem um exílio de poder com a ascensão dos opositores, e passem a torpedeá-los.

Munição
O potencial de estrago político de uma disputa que, à primeira vista, se limitaria à burocracia da Casa, é, isso sim, ilimitado. Cada um dos envolvidos ocupa posições de destaque na hierarquia do Senado e coleciona munição contra os rivais. O temor é que as mazelas respinguem, mais uma vez, sobre os senadores e mostrem a falta de transparência na Casa.
Em meio ao fogo cruzado, os principais protagonistas da disputa evitam falar abertamente sobre ela.
Shalom Granado reagiu, no início desta semana, às insinuações de que seria um dos "agaciboys". Ele chegou a afirmar que era alvo de ataques porque os advogados eram uma elite na "terra de cegos" que seria o Senado, dominado por indicações políticas.
Fábio Gondim se diz um "pacifista" e evita expor a disputa. "Fujo dessas brigas, embora reconheça que elas estejam acontecendo", afirma.
Bandeira de Mello admite que há uma disputa interna. "Preferia não acreditar que há essa guerra, mas diante do que tenho ouvido, imagino que esteja acontecendo, sim."
O que os dois lados fazem questão de salientar é que, vença quem vencer, a nova configuração administrativa da Casa vai sepultar definitivamente a "era Agaciel", que teve como marcas denúncias de nepotismo, falta de transparência e favorecimentos políticos a amigos do poder.


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