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Grupos disputam espólio do poder de Agaciel
Concursados, advogados e consultores estão de olho na direção geral do Senado, que administra R$ 2,7 bilhões anuais
Indicado para o cargo por Agaciel, Alexandre Gazineo, atual diretor-geral, não deve permanecer no posto por falta de apoio político
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
O pano de fundo da provável
substituição do atual diretor-geral do Senado, Alexandre Gazineo, é uma disputa de bastidores -com potencial tão explosivo quanto a disputa política entre PMDB e PT que provocou a atual onda de escândalos
no Senado- pelo espólio de
Agaciel Maia, que caiu após 14
anos no poder.
De olho no cargo, que comanda um orçamento de
R$ 2,7 bilhões anuais, se digladiam, de um lado, os consultores da Casa e, de outro, os advogados. O primeiro grupo, que é
mais numeroso e bem relacionado com os senadores, deve
levar a melhor.
A disputa, por si só, marca
uma mudança de paradigma na
Casa: Agaciel, que comandou
com mão-de-ferro durante 14
anos, era egresso da turma que
entrou "pela janela" no Senado,
sem concurso público. Foi diretor da lendária gráfica da Casa,
sinônimo nacional para empreguismo e mordomia.
Já os candidatos ao seu cargo
entraram no Senado por concurso público e fazem parte da
chamada "elite técnica". O que
separa os que agora se atacam
numa guerra de bastidores são
afinidades corporativas e uma
sutil diferença de função.
"Moleque"
A Advocacia do Senado é
composta por um seleto grupo
de dez advogados que ingressou na Casa nos anos 90, num
único concurso. É dessa safra o
atual diretor-geral, Alexandre
Gazineo, indicado para o cargo
pelo próprio Agaciel, que não
deve permanecer no posto por
falta de apoio político.
Na última quinta-feira, Gazineo foi chamado três vezes de
"moleque" pelo primeiro-secretário do Senado, Heráclito
Fortes (DEM-PI), durante uma
reunião da Mesa Diretora, o
que dá bem a medida de sua insustentabilidade.
Para o seu lugar se movimentam com desenvoltura os dois
principais representantes do
grupo dos consultores, bem
mais numeroso que o dos advogados e que se arvora a condição de "independência" em relação ao núcleo de poder de
Agaciel Maia.
A diferença de função que separa advogados e consultores é
que os primeiros têm sua atuação voltada sobretudo para
questões internas, administrativas -o que os tornou próximos do grupo de Agaciel ao longo dos anos-, enquanto os consultores legislativos e de Orçamentos trabalham nas questões voltadas ao processo legislativo, sendo mais próximos
dos senadores.
O principal cotado para o lugar de Gazineo é o consultor-geral de Orçamentos, Fiscalização e Controle, Fábio Gondim.
O ascendente grupo dos consultores também trabalha para
manter um de seus principais
expoentes, o advogado-geral da
Casa, Luiz Fernando Bandeira
de Mello, no posto.
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), chegara a
avisar Bandeira de Mello de
que o exoneraria e nomearia,
para o seu lugar, o atual diretor
de Controle Interno da Casa,
Shalom Granado, um dos dez
integrantes do "grupo dos advogados".
Foi a partir daí que o bombardeio dos consultores se tornou mais evidente. Com o desgaste de Gazineo e Granado, o
mais provável, hoje, é que eles
enfrentem um exílio de poder
com a ascensão dos opositores,
e passem a torpedeá-los.
Munição
O potencial de estrago político de uma disputa que, à primeira vista, se limitaria à burocracia da Casa, é, isso sim, ilimitado. Cada um dos envolvidos
ocupa posições de destaque na
hierarquia do Senado e coleciona munição contra os rivais. O
temor é que as mazelas respinguem, mais uma vez, sobre os
senadores e mostrem a falta de
transparência na Casa.
Em meio ao fogo cruzado, os
principais protagonistas da disputa evitam falar abertamente
sobre ela.
Shalom Granado reagiu, no
início desta semana, às insinuações de que seria um dos "agaciboys". Ele chegou a afirmar
que era alvo de ataques porque
os advogados eram uma elite na
"terra de cegos" que seria o Senado, dominado por indicações
políticas.
Fábio Gondim se diz um "pacifista" e evita expor a disputa.
"Fujo dessas brigas, embora reconheça que elas estejam acontecendo", afirma.
Bandeira de Mello admite
que há uma disputa interna.
"Preferia não acreditar que há
essa guerra, mas diante do que
tenho ouvido, imagino que esteja acontecendo, sim."
O que os dois lados fazem
questão de salientar é que, vença quem vencer, a nova configuração administrativa da Casa
vai sepultar definitivamente a
"era Agaciel", que teve como
marcas denúncias de nepotismo, falta de transparência e favorecimentos políticos a amigos do poder.
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