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QUESTÃO AGRÁRIA
MST contesta dado
Concentração de terras caiu com FHC, diz estudo
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em razão do assentamento de
sem-terras, diminuiu durante o
governo Fernando Henrique Cardoso a concentração da propriedade agrária no Brasil. As pequenas propriedades, que em 1995
somavam 37% da área utilizada
em atividades agropecuárias, subiram para 42% em 2000.
A informação consta de estudo
apresentado sexta-feira, em Roma, em seminário do Comitê de
Segurança Alimentar da FAO,
agência da ONU para a agricultura e alimentação. O autor é José
Eli da Veiga, economista da USP,
especialista em questões agrárias
e diretor-executivo do Seade
(Fundação Sistema Estadual de
Análise de Dados).
Em termos de área ocupada, as
propriedades familiares passaram em cinco anos de 130 milhões
de hectares para 150 milhões. Em
sentido inverso, as propriedades
de porte empresarial ("agricultura patronal"), que ocupavam 224
milhões de hectares, recuaram
em 2000 para 210 milhões.
Isso não quer dizer que a estrutura da propriedade rural tenha
mudado radicalmente durante os
anos FHC. Os 20 milhões de hectares de novos assentamentos,
qualificados com exagero por alguns de "a maior reforma agrária
do mundo", serviram, segundo
Veiga, para, de forma indireta, diminuir a pobreza no campo.
A questão é controvertida. Um
outro pesquisador, Bernardo
Mançano, professor da Unesp
(Universidade Estadual Paulista),
disse à Folha não acreditar que tenha ocorrido uma inversão da
tendência de concentração. Para
tanto, teria sido necessário estancar o êxodo rural e assentar anualmente 150 mil famílias, ou 50 mil
a mais que o melhor desempenho
do Incra no governo anterior.
Caso contrário, diz Mançano,
prevalece a tendência registrada
nos oito recenseamentos feitos no
campo desde 1940 que aponta à
concentração.
Roberto Baggio, um dos dirigentes nacionais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), disse à Folha que a
concentração continua, pois nos
últimos dez anos cresceu em 46%
o número de propriedades com
mais de mil hectares.
Não é o que afirma Antônio
Márcio Buainain, do Núcleo de
Estudos Agrários da Unicamp. Os
dados do trabalho apresentado na
Itália "são consistentes porque
têm como origem o cadastro do
Incra", diz ele.
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