São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

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CAMPO MINADO

Empresário fez declaração ao comentar invasão de fazenda de sua empresa feita pelo MST no último domingo

País caminha para a anarquia, diz Ermírio

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O presidente do Grupo Votorantim, Antônio Ermírio de Moraes, afirmou ontem que o país está caminhando para a "anarquia total" ao comentar a invasão do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) à Fazenda do Una, pertencente à VCP (Votorantim Celulose e Papel). "O país está perdendo a bússola", disse o empresário.
A propriedade, de cerca de 600 hectares, fica em Taubaté (a 130 km de São Paulo) e foi invadida na manhã de domingo por cerca de 150 integrantes do MST. Não houve confrontos entre sem-terra e policiais ou danos à fazenda.
O que revoltou Ermírio foi o fato de a propriedade ter sido invadida mesmo sendo produtiva. Segundo o empresário, a Fazenda do Una tem plantação de eucaliptos que abastece a fábrica de papel da empresa. "Esta invasão foi um despropósito", disse.
Ele afirmou também que não se conforma com o fato de o MST ter começado a invadir áreas produtivas e disse que essa nova estratégia do movimento "é uma tolice" e "não tem nexo". "Em vez de ordem e progresso, o lema agora é desordem e retrocesso."
O empresário disse ainda que, pelas informações de que dispõe, a propriedade da VCP está sendo usada como passagem para outras invasões.

Reintegração
A Votorantim informou ontem que vai entrar hoje, na Justiça, com um pedido de reintegração de posse da Fazenda do Una. A plantação de eucaliptos ocupa metade das terras. O corte das árvores deve ser realizado em junho, quando elas completam sete anos. A outra metade da fazenda é composta de área de preservação e infra-estrutura.
Os sem-terra informaram que cortaram alguns eucaliptos para a construção de barracas. De acordo com a empresa, não foram registrados danos à propriedade. "Nós só cortamos para construir barraca, não foi para estragar", disse Antônio Werneck, um dos coordenadores do MST na região.
O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) não conseguiu dizer se a fazenda do grupo Votorantim é produtiva, pois os servidores do órgão estão em greve desde o dia 6.
Essa não é a primeira invasão de terras pertencentes ao Grupo Votorantim pelo MST. Em setembro de 2003, o mesmo problema aconteceu na fazenda Corumirim, de 740 hectares.
Segundo a empresa, a propriedade, que também fica na cidade de Taubaté, é produtiva. Na época, algumas árvores também foram cortadas. A Votorantim informou que não tem um balanço dos prejuízos.
Ontem, as cerca de 20 mulheres e 35 crianças que pertencem ao grupo que invadiu a fazenda do Una -e passaram oito horas protestando em frente à sede do Unibanco em Taubaté- voltaram para a propriedade.
Os integrantes do MST que agora estão na fazenda da Votorantim antes haviam invadido uma propriedade controlada pelo banco, a fazenda Santa Terezinha. Acabaram saindo porque a Justiça concedeu a reintegração de posse.

"Temerosos"
O presidente da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), Osmar Zogbi, disse ontem, em Brasília, que empresários do setor, tanto da indústria nacional como do exterior, estão "temerosos" em relação às últimas invasões de terra em áreas produtivas do país. No caso de fazendas do ramo de celulose, citou questões recentes no Paraná e na Bahia.
"Invadir áreas produtiva é uma questão política. Queremos que o governo assegure o direito de propriedade, pois as empresas nacionais e internacionais estão temerosas em relação a isso. Até 2012, temos um programa que, se colocado em prática, irá gerar cerca de 60 mil empregos no Brasil", afirmou Zogbi.


Colaboraram as Regionais e a Sucursal de Brasília

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