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CAMPO MINADO
Empresário fez declaração ao comentar invasão de fazenda de sua empresa feita pelo MST no último domingo
País caminha para a anarquia, diz Ermírio
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O presidente do Grupo Votorantim, Antônio Ermírio de Moraes, afirmou ontem que o país está caminhando para a "anarquia
total" ao comentar a invasão do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) à Fazenda do Una, pertencente à VCP
(Votorantim Celulose e Papel).
"O país está perdendo a bússola",
disse o empresário.
A propriedade, de cerca de 600
hectares, fica em Taubaté (a 130
km de São Paulo) e foi invadida
na manhã de domingo por cerca
de 150 integrantes do MST. Não
houve confrontos entre sem-terra
e policiais ou danos à fazenda.
O que revoltou Ermírio foi o fato de a propriedade ter sido invadida mesmo sendo produtiva. Segundo o empresário, a Fazenda
do Una tem plantação de eucaliptos que abastece a fábrica de papel
da empresa. "Esta invasão foi um
despropósito", disse.
Ele afirmou também que não se
conforma com o fato de o MST ter
começado a invadir áreas produtivas e disse que essa nova estratégia do movimento "é uma tolice"
e "não tem nexo". "Em vez de ordem e progresso, o lema agora é
desordem e retrocesso."
O empresário disse ainda que,
pelas informações de que dispõe,
a propriedade da VCP está sendo
usada como passagem para outras invasões.
Reintegração
A Votorantim informou ontem
que vai entrar hoje, na Justiça,
com um pedido de reintegração
de posse da Fazenda do Una. A
plantação de eucaliptos ocupa
metade das terras. O corte das árvores deve ser realizado em junho, quando elas completam sete
anos. A outra metade da fazenda é
composta de área de preservação
e infra-estrutura.
Os sem-terra informaram que
cortaram alguns eucaliptos para a
construção de barracas. De acordo com a empresa, não foram registrados danos à propriedade.
"Nós só cortamos para construir
barraca, não foi para estragar",
disse Antônio Werneck, um dos
coordenadores do MST na região.
O Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária)
não conseguiu dizer se a fazenda
do grupo Votorantim é produtiva, pois os servidores do órgão estão em greve desde o dia 6.
Essa não é a primeira invasão de
terras pertencentes ao Grupo Votorantim pelo MST. Em setembro
de 2003, o mesmo problema
aconteceu na fazenda Corumirim, de 740 hectares.
Segundo a empresa, a propriedade, que também fica na cidade
de Taubaté, é produtiva. Na época, algumas árvores também foram cortadas. A Votorantim informou que não tem um balanço
dos prejuízos.
Ontem, as cerca de 20 mulheres
e 35 crianças que pertencem ao
grupo que invadiu a fazenda do
Una -e passaram oito horas protestando em frente à sede do Unibanco em Taubaté- voltaram
para a propriedade.
Os integrantes do MST que agora estão na fazenda da Votorantim antes haviam invadido uma
propriedade controlada pelo banco, a fazenda Santa Terezinha.
Acabaram saindo porque a Justiça concedeu a reintegração de
posse.
"Temerosos"
O presidente da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), Osmar Zogbi, disse ontem,
em Brasília, que empresários do
setor, tanto da indústria nacional
como do exterior, estão "temerosos" em relação às últimas invasões de terra em áreas produtivas
do país. No caso de fazendas do
ramo de celulose, citou questões
recentes no Paraná e na Bahia.
"Invadir áreas produtiva é uma
questão política. Queremos que o
governo assegure o direito de propriedade, pois as empresas nacionais e internacionais estão temerosas em relação a isso. Até 2012,
temos um programa que, se colocado em prática, irá gerar cerca de
60 mil empregos no Brasil", afirmou Zogbi.
Colaboraram as Regionais e a Sucursal
de Brasília
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