São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006

Disputa pela vaga de vice do tucano foi decidida por seis votos e reflete a divisão entre os grupos de ACM e do presidente do partido, Jorge Bornhausen

PFL ignora Alckmin e escolhe José Jorge

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PFL escolheu para ser vice na chapa de Geraldo Alckmin à Presidência o nome que menos agradava ao tucano, o senador José Jorge (PE). Alckmin preferia que o também senador José Agripino Maia (RN), derrotado ontem na disputa interna do partido, fosse seu companheiro na campanha. A aliança entre os dois partidos será formalizada no próximo dia 29, em Recife.
Após o anúncio do resultado, Alckmin telefonou para Agripino, disse esperar "contar com o apoio dele na campanha e no governo" e lamentou o resultado: "Raspamos na trave, hein?".
Em público, Alckmin desconversou. "A minha preferência era pelo José. Havia dois Josés, o Jorge e o Agripino. Se eu pudesse escolher, teria dois vices. Mas esta é uma escolha que cabe ao PFL. O senador José Agripino vai nos ajudar, vai cooperar conosco", disse Alckmin ontem, em Belém.
Vencedor da prévia, Jorge afirmou que trabalhará para desatar os últimos nós que ainda emperram a aliança em alguns Estados e que montará "pontos de apoio" para que Alckmin possa crescer no Nordeste. "Vou cumprir o papel que o presidente [Alckmin] escolher", declarou o escolhido.
Jorge também enumerou os três pontos principais para a construção do programa de governo: "A ética, que foi jogada no lixo neste governo, a geração de empregos e a educação". Questionado sobre a segurança pública, disse que "é preciso ser o mais rigoroso possível com o crime organizado" e que "não existe bandidagem local mas bandidagem nacional".
Ex-ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso, Jorge esquivou-se de comparações entre a gestão passada e um eventual governo Alckmin. "São os mesmos partidos, as mesmas alianças, mas são governos diferentes", disse. Sobre a falta de energia elétrica que assolou o país em sua gestão no ministério, declarou: "Eu fui o ministro que salvou o Brasil do apagão. Para se instalar uma crise energética são necessários quatro anos".

Divisão no PFL
A indicação do candidato a vice foi feita em uma espécie de prévia, com urna e voto secreto, na presidência do partido, em Brasília. Foram consultados 96 membros da sigla entre as bancadas da Câmara e do Senado, os governadores e vices, membros da Executiva Nacional e prefeitos de capitais. A decisão ainda tem de ser referendada em convenção nacional, marcada para 14 de junho.
A votação durou duas horas e meia. A apuração, realizada na seqüência, foi acompanhada sob tensão pelos dois senadores que pleiteavam o posto e decidida por seis votos a favor de Jorge: 51 a 45, o que reflete a divisão entre as alas do PFL ligadas ao presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), que apoiava Jorge nos bastidores, e ao senador Antonio Carlos Magalhães (BA), que trabalhava pela indicação de Agripino.
Com o anúncio do placar adverso, Agripino deixou a sala abatido, com ACM. Mais tarde, disse que esperava ganhar. "Eu tinha as minhas contas, mas muitas pessoas mudaram de opinião".
Nos bastidores, comentava-se que o pano de fundo da disputa fora a vitória de Bornhausen e do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, sobre o grupo "carlista". "Foi uma eleição empatada. As duas vertentes eram positivas: uma queria um vice ativo, a outra, mais discreto. Do ponto de vista eleitoral, acho o vice mais discreto melhor porque é bom um vice que não atrapalha", disse o prefeito do Rio. "O placar apertado mostra que os dois tinham prestígio. O partido sai unido e agora vamos completar e formalizar a aliança", disse Bornhausen.
Dos 96 integrantes, apenas seis não foram a Brasília e enviaram os votos por outros consultados, entre eles o governador de São Paulo, Cláudio Lembo, cujo voto foi levado pelo prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab.


Colaborou a Agência Folha, em Belém


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