São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS

Pelo menos mais oito deputados podem ser investigados; PPS, PV e PSOL apresentam pedido de CPI

Corregedoria deve ampliar investigações

RANIER BRAGON
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A presidência do Congresso recebeu na tarde de ontem o pedido de abertura de uma CPI para investigar o esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras. Além disso, o número de deputados investigados pela Corregedoria da Câmara sob suspeita de integrar a "máfia dos sanguessugas" deve subir de 16 para pelo menos 24 nas próximas semanas.
O funcionamento da CPI, que seria composta por deputados e senadores, é dado como improvável, entretanto, por muitos. A aproximação das eleições e a Copa do Mundo em junho tendem a esvaziar o Congresso a partir do próximo mês.
O requerimento foi apresentado por deputados do PPS, PV e PSOL e trazia a assinatura de 30 senadores (quatro a mais do que o mínimo necessário, que era 27) e 210 deputados federais (39 a mais do que o necessário, 171), mas os órgãos técnicos da Câmara e do Senado ainda fariam a conferência das assinaturas -poderia haver duplicidade ou rubricas inválidas.
Caso o número de assinaturas se mostre suficiente, caberá ao presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), avaliar se há o chamado "fato determinado" para a investigação e, após isso, marcar sessão do Congresso para criar a comissão mista (com senadores e deputados).
Praticamente não havia assinaturas de petistas no requerimento, classificado de "factóide" pelo líder do partido na Câmara. "A CPI é mais um factóide do que um passo efetivo no aprofundamento das investigações. (...) Uma CPI, nesse momento, não resolve, o que resolve é continuar a aprofundar as investigações técnicas e equilibradas da Polícia Federal e do Ministério Público", disse Henrique Fontana (RS).
Um dos responsáveis pelo recolhimento das assinaturas, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), rebateu: "O que o PT está buscando é uma desculpa, porque eles não assinaram e fugiram do compromisso de investigar".
A "máfia dos sanguessugas" veio à tona por meio de operação da Polícia Federal que resultou na prisão de mais de 40 pessoas. O esquema, segundo a PF, seria o seguinte: deputados e senadores incluiriam no Orçamento da União emendas para a aquisição de ambulâncias por prefeituras. Estas forjariam licitações para adquirir os veículos superfaturados da empresa Planam, apontada como a cabeça da fraude. O valor excedente seria distribuído entre os integrantes da quadrilha.

Novos nomes
A Corregedoria da Câmara já investiga 16 deputados federais, apesar de a ex-servidora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino -que seria o braço da quadrilha no Executivo- afirmar, em depoimento, que a Planam mantinha contato com 283 parlamentares.
O número de casos na Corregedoria deve subir para pelo menos 24 já que perícia na contabilidade da Planam indicou que pelo menos oito nomes além dos 16 já investigados aparecem como recebedores de dinheiro da empresa.
Ontem, o deputado licenciado Lino Rossi (PP-MT) foi à Corregedoria e, em ofício, assumiu como sendo sua a voz atribuída a Ricarte de Freitas (PTB-MT) em gravação feita pela PF durante a investigação. Freitas é um dos investigados; Rossi havia tido seu caso arquivado.
No diálogo gravado, o parlamentar conversa com a assessora Maria da Penha sobre uma emenda e revela a intenção de receber vantagem financeira após a liberação do recurso. "Devo, a bem da verdade, reconhecendo o número de contato telefônico, assumir a integralidade desse diálogo, exonerando o deputado federal Ricarte de Freitas de quaisquer responsabilidades sobre esse fato", diz o ofício.


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