São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

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Minc propõe que militares façam defesa da Amazônia

Futuro ministro leva hoje a Lula dez sugestões para o Ministério do Meio Ambiente

Petista afirma ter dúvida de estar à altura do cargo e que ambientalista e "ecochatos de plantão" também têm de ter bom senso e limites

MALU TOLEDO
DA SUCURSAL DO RIO

Convidado para assumir o lugar de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, Carlos Minc (PT) afirmou ontem, ao desembarcar no Rio, vindo de Paris, que vai propor ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que as Forças Armadas ajudem na proteção da Amazônia.
Atual secretário de Estado do Ambiente do Rio, Minc disse que fará pelo menos dez sugestões ao presidente na reunião marcada para às 17h30 de hoje no Palácio do Planalto, quando será formalizado o convite para o ministério. Algumas das propostas já foram divulgadas por ele na entrevista dada em Paris.
Minc disse que pretende complementar o PAS (Plano Amazônia Sustentável) com um programa de "desmatamento zero em sete anos". Segundo o petista, a idéia se baseia em um plano de "desmatamento zero" elaborado por ONGs e fundações e pelo atual presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, que foi abandonado. Minc considera o plano "consistente", embora admita que o conheça só "superficialmente".
Ele acha que abaixo do ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), coordenador do PAS, deveria ter um gestor local, alguém que conheça bem a região. Lula entregou a coordenação do plano a Unger com a alegação de que Marina não tinha "isenção".
Minc disse que espera que Lula dê condições para que ele trabalhe como fez o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Ele vai sugerir que regimentos das Forças Armadas se integrem na defesa das unidades de conservação da Amazônia, como foi feito com os bombeiros que se tornaram guarda-parques em áreas protegidas do Rio.
Assim como fez no Estado, ele pretende agilizar a liberação de licenciamentos ambientais. Minc disse que a rapidez com que licenciou obras como o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) "encheu os olhos do presidente".
Outra sugestão é que a Academia Brasileira de Ciências faça um projeto de pesquisa de ponta para utilização da biodiversidade e da biotecnologia da floresta amazônica. "Transformar o banco genético da Amazônia em pastagem de baixa produtividade é colocar a ecologia contra a barbárie", disse.

Encontro com Marina
Em Paris, Minc sentiu a pressão de substituir Marina ao responder à imprensa internacional quais as garantias de que a Amazônia não será devastada. Ele disse que pretende manter a política da ex-ministra e que se reunirá com ela hoje, antes da conversa que terá com Lula.
"Eu, que não pedi para ser ministro, tive de explicar para a imprensa internacional porque a Amazônia não vai virar carvão. Não vai virar carvão porque a gente vai manter não só a política da Marina como vamos fazer outras coisas que ela não fez, que eu espero que tenhamos capacidade de fazer."
Após dizer que o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), se pudesse, plantaria soja até nos Andes, Minc contemporizou. Ele afirmou que, assim como os ruralistas, os ambientalistas também têm que ter bom senso e algum limite.
"Nós, os ambientalistas, os ecochatos de plantão, também temos que ter bom senso. Se os ambientalistas, sobretudo os mais puros e duros, se nós fôssemos muito fortes há 80 anos, provavelmente não haveria Pão de Açúcar e Corcovado, que foram feitos em costão rochoso. Acho que o limite deve ser para todos. Espero que com essa o Maggi continue não gostando muito de mim, mas pelo menos fique achando que eu sou menos maluco do que o que eu realmente sou", disse.
Sobre as críticas de que teria sido arrogante ao colocar condições para aceitar o cargo, disse que seria arrogância se ele se considerasse o "Super Minc" e não assumisse que tem dúvidas de estar à altura do trabalho.


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