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Procuradoria apura confronto entre índios e Exército em Roraima
Indígenas relatam que soldados entraram "com armas apontadas" em reserva; oficiais afirmam que tropa foi recebida por "índios empunhando arcos e flechas"
HUDSON CORRÊA
SÉRGIO LIMA
ENVIADOS ESPECIAIS A BOA VISTA (RR)
O Ministério Público Federal
apura confrontos de índios da
reserva Raposa/Serra do Sol
(RR), ligados ao CIR (Conselho
Indígena de Roraima), com o
Exército. Na investigação em
curso, aberta em 2002 pela
Procuradoria, além de relatos
de confrontos, consta uma comunicação de crime ambiental,
de janeiro deste ano, contra o
Exército feita pelo Ibama.
O Exército construiu, em
2001, sem licença ambiental,
segundo o Ibama, o quartel do
6º Pelotão Especial de Fronteira na cidade de Uiramutã (RR),
vizinha à Raposa/Serra do Sol.
É com militares desse quartel que ocorreram confrontos,
alvos de apuração da Procuradoria. O CIR acusou o Exército
em 2005 de causar dano ambiental. O Exército afirma que
apenas não aceitou pagar pela
licença ambiental, como quer o
Ibama, porque é órgão público.
A Folha apurou que o Exército em Roraima avalia que o
CIR é uma ONG cuja atuação
deixa mais vulnerável a soberania nacional na área indígena.
"Somos uma organização indígena. Eu considero ONGs as
que são dos brancos", afirma o
coordenador do CIR, o macuxi
Dionito José de Souza, 40.
A investigação da Procuradoria começou com uma carta de
líderes indígenas enviada pelo
CIR. Relata que em 20 de março de 2002, oito soldados do
pelotão de Uiramutã "começaram a filmar e a fotografar a
maloca". O líder indígena Valdir Clementino não permitiu a
filmagem. "Ali era posto de fiscalização indígena, que tem o
objetivo de controlar a entrada
de pessoas não-índias", diz a
carta. Segundo o relato, no
mesmo dia, um helicóptero
trouxe 40 soldados que deixaram "crianças horrorizadas".
Ainda segundo a carta, "havia (...) soldados com suas armas apontadas para os índios e
os índios com suas flechas armadas e apontadas para os soldados". Não houve conflito,
mas os oficiais fizeram as filmagens, disseram os índios.
A Funai foi à aldeia e escreveu que os indígenas "não são
contra o Exército, mas sim ao
local onde está localizado o
quartel. São contra as atitudes
do Exército, com relação à entrada na área sem avisá-los".
Em sua resposta ao Ministério Público, o Exército diz que
uma patrulha atualizava mapas
da região filmando e fotografando. "A patrulha foi impedida
de transitar na área da maloca."
Então, segundo o Exército,
foi enviado um helicóptero
com nova patrulha "recebida
de forma hostil, com indígenas
empunhando arcos e flechas".
De acordo com o Exército, a
tropa manteve as armas, durante toda a ação, "com canos
voltados para o chão". Também
informou que não houve pânico entre índios e crianças.
Por fim, o Exército cita que
um decreto de 2002 dá liberdade de trânsito ao Exército em
terras indígenas. Mas, em janeiro de 2003, o CIR comunicou ao Ministério Público Federal que índios barraram de novo uma equipe de soldados.
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