São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

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Atividades não militares ocupam tropa

Soldados brasileiros distribuem comida, jogam bola e até apóiam segurança de autoridades estrangeiras

DA REPORTAGEM LOCAL

Os militares brasileiros no Haiti vêm sendo usados em diversas ações não previstas no mandato da Minustah, definido pelo Conselho de Segurança da ONU, na resolução 1.542, de abril de 2004. Para ganhar a confiança dos haitianos e dar status internacional ao Brasil, as tropas erguem escolas, pavimentam ruas, distribuem alimentos e até jogam futebol.
Além dessas atividades, classificadas como "cívico-sociais", o batalhão brasileiro celebra feriados, presta homenagens e garante a segurança de autoridades estrangeiras. Em março, os soldados participaram do esquema de proteção da primeira-dama dos Estados Unidos, Laura Bush, no Haiti.
Em fevereiro, o batalhão brasileiro disputou uma partida de futebol com a comunidade de Bel Air -venceu por 3x2. Um dia depois, o contingente foi ao bairro de Citè Soleil e lá montou oficinas de pintura e confecção de pipas para crianças.
Pesquisa realizada pela Folha sobre as ações desenvolvidas no Haiti revela que, de 235 atividades relatadas pelo batalhão brasileiro em 2007, apenas 15% tiveram cunho militar. Cerca de 55% foram ações cívico-sociais, e 40% envolveram atos oficiais e celebrações.
O gasto com essas festividades chegou a R$ 236,9 mil, aumento de quase 600% sobre o ano anterior. Estão incluídas as comemorações de feriados nacionais, promoções de efetivos, passagens de comando, recepções a autoridades, datas militares e homenagens.
Levantamento feito pelo site Contas Abertas, no Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal (Siafi), a pedido da Folha, mostra que os gastos com material educativo e esportivo caiu de R$ 217 milhões para R$ 209 milhões, enquanto as diárias subiram de R$ 3,14 milhões para R$ 3,99 milhões, entre 2006 e 2007. O gasto com passagens quase dobrou, de R$ 1,16 milhão para R$ 2,29 milhões.
"Fizemos de tudo, até atendimento médico. Só partos foram 25 em três meses", diz o sargento Romulo Bandeira, integrante do 5º contingente.
Mesmo com a redução das ações militares, o Ministério da Defesa gastou mais em armas para o Haiti em 2007: R$ 3,7 milhões -aumento de 27% sobre o executado em 2006.
No Siafi, constam ainda gastos com a compra de carros de combate (R$ 4,7 milhões), veículos de tração mecânica (R$ 13,4 milhões), embarcações (R$ 1,6 milhão), aparelhos de comunicação (R$ 1,5 milhão) e equipamentos de proteção e socorro (R$ 1,16 milhão).
"Com a desculpa do Haiti, eles aproveitam para reaparelhar as Forças Armadas", disse Expedito Carlos Stephani, pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Como exemplo, ele citou o caso da compra de blindados suíços Piranha III, para o transporte de tropas. "Eles já enviaram quatro para o Haiti, mas são muito grandes para operar nesse tipo de terreno e sabem disso", disse.
(CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA)


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