São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para presidente, cargo tem a vantagem de estar próximo das necessidades da população
FHC lamenta não ter sido prefeito

do enviado especial a Madri

Em acréscimo de improviso ao discurso de cinco páginas que leu ontem em Madri, ao receber as chaves da cidade, o presidente Fernando Henrique lamentou ter sido derrotado por Jânio Quadros, em 1985, na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
FHC não citou de forma direta nem a data nem o nome de seu adversário. Mas afirmou: "Eu tenho uma nostalgia por estar aqui (na Prefeitura de Madri). Os prefeitos estão mais próximos da população. Eu tentei, mas não consegui". Sorriu e fez uma pausa, para que a alusão fosse compreendida pelos presentes.
O trecho redigido cuja leitura o presidente interrompeu dizia respeito às vantagens que prefeitos e vereadores possuem entre os demais políticos, "por estarem mais próximos das necessidades da população". Disse também que, num mundo globalizado, em que o Estado nacional se dilui, aumentar a importância do poder local para o exercício da cidadania.
Também agradeceu a "generosidade" com que "os senhores compreenderam as razões pelas quais vi-me forçado, há poucas semanas, a interromper minha visita" à Espanha, menção indireta à morte do deputado Luís Eduardo Magalhães.
Como a Espanha é um país integralmente parlamentarista, o prefeito é o líder da bancada majoritária. No caso, trata-se de José Maria Alvarz del Manzano, do PP (conservador).
Manzano enfatizou no discurso -presenciado por 31 dos 56 vereadores madrilenhos- as relações culturais que Brasil e Espanha mantêm ao longo dos séculos. Bem mais que a condecoração protocolar, no entanto, a cerimônia valeu pelo prédio em que se realizou. É um prédio projetado em 1640, com fachada de pedras escuras esculpidas.
No salão que dá acesso ao plenário -o teto é um imenso vitral do século 18-, FHC conversou por momentos com o ex-prefeito e atual líder da oposição, o socialista Juan Barranco.

Passado
Em 1985, FHC, à época senador pelo PMDB paulista, disputou a Prefeitura de São Paulo, mas perdeu para o ex-presidente Jânio Quadros pela diferença de 141.154 votos.
Dois fatos marcaram a campanha de FHC para prefeito. A primeira delas foi a resposta ao jornalista Bóris Casoy, que havia perguntado se ele acreditava em Deus. FHC hesitou e evitou responder diretamente. A história de sua derrota começava ali.
O segundo episódio ocorreu na véspera da eleição, marcada para 15 de novembro, quando ele se sentou na cadeira de prefeito um dia antes da eleição, certo de que sairia vencedor. FHC perdeu.
No dia da posse, já em 96, FHC ainda teve de aguentar a provocação de Jânio, que levou um inseticida para "desinfetar" a cadeira. "Gostaria que os senhores testemunhassem que estou desinfetando esta poltrona, porque nádegas indevidas a usaram, porque o senhor Henrique Cardoso nunca teria o direito de sentar-se cá, e o fez, de forma abusiva", disse Jânio.


Colaborou Fabiano Maisonnave, free-lance para a Folha



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.