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Para presidente, cargo tem a vantagem de estar próximo das necessidades da população
FHC lamenta não ter sido prefeito
do enviado especial a Madri
Em acréscimo de improviso ao
discurso de cinco páginas que
leu ontem em Madri, ao receber
as chaves da cidade, o presidente
Fernando Henrique lamentou
ter sido derrotado por Jânio
Quadros, em 1985, na disputa
pela Prefeitura de São Paulo.
FHC não citou de forma direta
nem a data nem o nome de seu
adversário. Mas afirmou: "Eu
tenho uma nostalgia por estar
aqui (na Prefeitura de Madri). Os
prefeitos estão mais próximos da
população. Eu tentei, mas não
consegui". Sorriu e fez uma pausa, para que a alusão fosse compreendida pelos presentes.
O trecho redigido cuja leitura o
presidente interrompeu dizia
respeito às vantagens que prefeitos e vereadores possuem entre
os demais políticos, "por estarem mais próximos das necessidades da população". Disse também que, num mundo globalizado, em que o Estado nacional se
dilui, aumentar a importância
do poder local para o exercício
da cidadania.
Também agradeceu a "generosidade" com que "os senhores
compreenderam as razões pelas
quais vi-me forçado, há poucas
semanas, a interromper minha
visita" à Espanha, menção indireta à morte do deputado Luís
Eduardo Magalhães.
Como a Espanha é um país integralmente parlamentarista, o
prefeito é o líder da bancada majoritária. No caso, trata-se de José Maria Alvarz del Manzano, do
PP (conservador).
Manzano enfatizou no discurso -presenciado por 31 dos 56
vereadores madrilenhos- as relações culturais que Brasil e Espanha mantêm ao longo dos séculos. Bem mais que a condecoração protocolar, no entanto, a
cerimônia valeu pelo prédio em
que se realizou. É um prédio
projetado em 1640, com fachada
de pedras escuras esculpidas.
No salão que dá acesso ao plenário -o teto é um imenso vitral do século 18-, FHC conversou por momentos com o
ex-prefeito e atual líder da oposição, o socialista Juan Barranco.
Passado
Em 1985, FHC, à época senador pelo PMDB paulista, disputou a Prefeitura de São Paulo,
mas perdeu para o ex-presidente
Jânio Quadros pela diferença de
141.154 votos.
Dois fatos marcaram a campanha de FHC para prefeito. A primeira delas foi a resposta ao jornalista Bóris Casoy, que havia
perguntado se ele acreditava em
Deus. FHC hesitou e evitou responder diretamente. A história
de sua derrota começava ali.
O segundo episódio ocorreu na
véspera da eleição, marcada para
15 de novembro, quando ele se
sentou na cadeira de prefeito um
dia antes da eleição, certo de que
sairia vencedor. FHC perdeu.
No dia da posse, já em 96, FHC
ainda teve de aguentar a provocação de Jânio, que levou um inseticida para "desinfetar" a cadeira. "Gostaria que os senhores
testemunhassem que estou desinfetando esta poltrona, porque
nádegas indevidas a usaram,
porque o senhor Henrique Cardoso nunca teria o direito de
sentar-se cá, e o fez, de forma
abusiva", disse Jânio.
Colaborou
Fabiano Maisonnave, free-lance
para a Folha
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