São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Partido defende agora redução de alíquota que já criticou, e diz que imposto atinge sonegadores

No poder, PT quer manutenção da CPMF

FÁBIO ZANINI
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT vai incluir na proposta de reforma tributária que pretende implementar, se chegar ao poder, a manutenção da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
Economistas ligados ao PT ou críticos ao modelo econômico atual reuniram-se ontem para discutir o esboço preliminar de programa do partido para 2002.
A CPMF é vista como um imposto que onera a produção, mas sua manutenção foi defendida por atingir a economia informal e atividades ilícitas.
"Na nossa proposta de reforma tributária cabe um imposto como a CPMF, com alíquota pequena. Ela atinge a sonegação, o caixa dois, o narcotráfico, o doleiro, os esquemas de laranjas", disse o deputado Aloizio Mercadante, um dos coordenadores do grupo.
A manutenção do imposto -que vigora até junho do ano que vem, mas deve ser prorrogado pelo atual governo- é, segundo Mercadante, apenas um ponto da reforma defendida pelo PT.
O imposto, que cobra 0,38% sobre cada movimentação financeira, rende R$ 18 bilhões por ano.
"O que nós vamos precisar discutir é como se mantém essa receita tributária", diz o deputado.
Entre as propostas petistas estão a criação de um imposto sobre valor agregado, correção da tabela do Imposto de Renda e criação de um imposto sobre grandes fortunas.
No PT, a discussão sobre CPMF sempre foi polêmica. Durante a votação da emenda, em 1996, o partido fechou questão contra, mas o deputado Eduardo Jorge (SP) votou favoravelmente, já que o dinheiro iria para a saúde, sua área de atuação, criando uma crise interna no PT.
Ontem, líderes petistas manifestaram má vontade ao abordar a CPMF. A economista e ex-deputada Maria da Conceição Tavares ameaçou deixar a reunião caso a imprensa insistisse em perguntar sobre o assunto.
O seminário teve a participação de cerca de 30 pessoas, incluindo Mercadante, o presidente do partido, José Dirceu, e o provável candidato a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Compareceram também, entre outros, os professores Luiz Gonzaga Belluzzo e Luciano Coutinho (ambos da Unicamp), o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, o consultor Antoninho Trevisan e o secretário municipal de Finanças de São Paulo, João Sayad. Nenhum deles é filiado ao PT.
Convidado, o economista Celso Furtado não foi, mas mandou um e-mail a Lula, dizendo que o texto-base que subsidiou o debate é "lúcido e de alto nível técnico". Furtado e Sayad pediram que a versão final do programa econômico do partido seja mais compacta e enxuta.
Os petistas evitaram ainda entrar em detalhes sobre metas de inflação. Afirmaram apenas que não aceitam que sejam "ditadas pelo FMI", sem especificá-las.
Dirceu também se mostrou contrário à independência do Banco Central. "Imagine o BC independente com o Gustavo Franco de presidente...", disse.
A divulgação do documento criou mal-estar entre os setores de esquerda da legenda, muitos dos quais tomaram conhecimento dele pela imprensa.


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