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SUCESSÃO NO ESCURO
Partido defende agora redução de alíquota que já criticou, e diz que imposto atinge sonegadores
No poder, PT quer manutenção da CPMF
FÁBIO ZANINI
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O PT vai incluir na proposta de
reforma tributária que pretende
implementar, se chegar ao poder,
a manutenção da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
Economistas ligados ao PT ou
críticos ao modelo econômico
atual reuniram-se ontem para
discutir o esboço preliminar de
programa do partido para 2002.
A CPMF é vista como um imposto que onera a produção, mas
sua manutenção foi defendida
por atingir a economia informal e
atividades ilícitas.
"Na nossa proposta de reforma
tributária cabe um imposto como
a CPMF, com alíquota pequena.
Ela atinge a sonegação, o caixa
dois, o narcotráfico, o doleiro, os
esquemas de laranjas", disse o deputado Aloizio Mercadante, um
dos coordenadores do grupo.
A manutenção do imposto
-que vigora até junho do ano
que vem, mas deve ser prorrogado pelo atual governo- é, segundo Mercadante, apenas um ponto
da reforma defendida pelo PT.
O imposto, que cobra 0,38% sobre cada movimentação financeira, rende R$ 18 bilhões por ano.
"O que nós vamos precisar discutir é como se mantém essa receita tributária", diz o deputado.
Entre as propostas petistas estão
a criação de um imposto sobre valor agregado, correção da tabela
do Imposto de Renda e criação de
um imposto sobre grandes fortunas.
No PT, a discussão sobre CPMF
sempre foi polêmica. Durante a
votação da emenda, em 1996, o
partido fechou questão contra,
mas o deputado Eduardo Jorge
(SP) votou favoravelmente, já que
o dinheiro iria para a saúde, sua
área de atuação, criando uma crise interna no PT.
Ontem, líderes petistas manifestaram má vontade ao abordar a
CPMF. A economista e ex-deputada Maria da Conceição Tavares
ameaçou deixar a reunião caso a
imprensa insistisse em perguntar
sobre o assunto.
O seminário teve a participação
de cerca de 30 pessoas, incluindo
Mercadante, o presidente do partido, José Dirceu, e o provável
candidato a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Compareceram
também, entre outros, os professores Luiz Gonzaga Belluzzo e Luciano Coutinho (ambos da Unicamp), o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, o consultor
Antoninho Trevisan e o secretário
municipal de Finanças de São
Paulo, João Sayad. Nenhum deles
é filiado ao PT.
Convidado, o economista Celso
Furtado não foi, mas mandou um
e-mail a Lula, dizendo que o texto-base que subsidiou o debate é
"lúcido e de alto nível técnico".
Furtado e Sayad pediram que a
versão final do programa econômico do partido seja mais compacta e enxuta.
Os petistas evitaram ainda entrar em detalhes sobre metas de
inflação. Afirmaram apenas que
não aceitam que sejam "ditadas
pelo FMI", sem especificá-las.
Dirceu também se mostrou
contrário à independência do
Banco Central. "Imagine o BC independente com o Gustavo Franco de presidente...", disse.
A divulgação do documento
criou mal-estar entre os setores de
esquerda da legenda, muitos dos
quais tomaram conhecimento dele pela imprensa.
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