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INVESTIGAÇÃO
Decisão de desembargador libera conjunto de imóveis que somam pelo menos R$ 18 milhões; AGU recorreu
Justiça torna disponíveis bens de Estevão
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Tribunal de Justiça do Distrito
Federal tornou disponíveis, com
base em uma filigrana jurídica,
um conjunto de imóveis do ex-senador Luiz Estevão que somam
pelo menos R$ 18 milhões. A decisão pode comprometer o ressarcimento do desvio de R$ 169,5 milhões da obra do fórum trabalhista de São Paulo.
Luiz Estevão é acusado de ser
beneficiário direto de R$ 77 milhões do total desviado e, de acordo com o TCU (Tribunal de Contas da União), deve responder pelo total da dívida junto com o juiz
aposentado Nicolau dos Santos
Neto. A Advocacia Geral da
União pretende anular a decisão.
A decisão, em caráter liminar, é
do desembargador Asdrúbal Vasquez Cruxên, integrante do Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF. O nome de Cruxên
aparece nos arquivos da CPI do
Judiciário. Ainda juiz, ele nomeou
administradores para gerir o patrimônio de um órfão: bens de
US$ 30 milhões que os administradores transformaram em uma
dívida de R$ 7 milhões.
Processo
No processo, pedem a liberação
dos imóveis clientes do Grupo OK
Construções e Incorporações que
os teriam comprado anteriormente à data em que os bens da
empresa foram bloqueados por
decisão judicial em 24 de abril do
ano passado, por conta do envolvimento no escândalo do TRT de
São Paulo.
A principal beneficiária da liberação, porém, é a Ebenezer Informática e Projetos Ltda. A empresa
pegou carona no mandado de segurança concedido a Maria Luiza
Corôa, que conseguiu a liberação
de seu imóvel com um despacho
do desembargador Cruxên.
O advogado de Maria Luiza, Irineu de Oliveira, advoga para Estevão em pelo menos três processos
que tramitam na Justiça Federal.
Para conseguir derrubar uma
decisão da Justiça Federal com
um despacho de âmbito estadual,
Oliveira alegou que o bloqueio de
bens deveria ter sido informado
por meio de "carta precatória", e
não de um ofício ao desembargador corregedor do Tribunal de
Justiça do DF expedido pelo juiz
que conduz o caso, como de fato
aconteceu.
Por meio de sua advogada, Ana
Paula Oliveira, a Ebenezer pediu a
Cruxên a liberação de 101 imóveis
do Grupo OK que deveria receber
em pagamento a dois contratos
firmados com as empresas de Estevão: a construção do Brasília
Flat Palace, no setor Hoteleiro Sul,
e de um outro empreendimento
imobiliário na Asa Norte.
Telefone
A Folha tentou contatar a Ebenezer, mas o telefone da empresa
não está disponível no serviço de
informações da Brasil Telecom. O
endereço no qual deveria funcionar, segundo está no processo,
também não existe.
Até ontem, somente um dos
dois cartórios nos quais os imóveis estão registrados recebeu a
notificação sobre o despacho do
desembargador Cruxên.
O primeiro cartório de registro
de imóveis de Brasília tomou conhecimento da liminar por um
representante da própria Ebenezer, em 21 de maio passado, quando a empresa requereu o registro
em seu nome de dois bens que
eram do Grupo OK.
Trata-se de um apartamento e
de um terreno de 1.100 m2, este último valendo, pela média do mercado, cerca de R$ 6 milhões.
Tecnicamente seriam bens mais
fáceis de liberar porque não estavam submetidos ao bloqueio conjunto da Justiça Federal e do Tribunal de Contas da União. Tornaram-se indisponíveis somente
por decisão do Judiciário.
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