São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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Cálculo tira dados que possam causar variações bruscas

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O cálculo do núcleo da inflação é uma fórmula de medir a variação dos preços que expurga dos dados pesquisados aqueles que possam causar variações bruscas no índice. O objetivo é evitar que a tendência normal da inflação seja alterada por forte aumento ou baixa conjuntural de certos itens.
A vantagem seria captar a tendência real da evolução dos preços. Quando a tendência de inflação é de alta, o Banco Central aumenta os juros a fim de controlar e baixar os preços.
O índice "normal" de inflação (ou o IPCA "cheio"), porém, pode subir devido a um aumento violento e passageiro de preços (o feijão fica mais caro por alguns meses porque não choveu, por exemplo).
Se o índice "normal" aponta falsa tendência de alta geral de preços, o Banco Central pode aumentar desnecessariamente os juros, o que também desnecessariamente encareceria o crédito, reduziria o crescimento da economia e provocaria desemprego.
A FGV (Fundação Getúlio Vargas) calcula o núcleo de um dos seus índices, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), expurgando do resultado da pesquisa os 20% dos itens que tiveram variação mais alta e os 20% dos itens que tiveram variação mais baixa durante o período usado no cálculo.
A inflação oficial do Brasil, que serve como parâmetro para o regime de metas inflacionárias adotado pelo governo desde meados de 1999, é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Esse índice é calculado pelo IBGE pela fórmula plena, sem nenhum expurgo.
Os economistas, em geral, consideram a fórmula do núcleo a mais adequada para uso por países que utilizam metas inflacionárias como parâmetro para calibrar variáveis macroeconômicas. A fórmula é usada, por exemplo, pelo Reino Unido - sempre citado como modelo do regime de metas.
O Brasil decidiu aderir a esse regime quando Armínio Fraga assumiu a presidência do BC logo após a crise cambial em janeiro de 1999. Pouco tempo depois do anúncio da medida, o ministro Pedro Malan afirmou que a inflação calculada pelo núcleo era a mais adequada para o regime de metas inflacionárias. Segundo ele, a adoção dessa fórmula era algo a ser perseguido no futuro.
Malan até falou em um prazo de cinco anos necessário para colocar a idéia em prática. Ele argumentou que a memória dos brasileiros relacionada com expurgo de inflação tornava desaconselhável a adoção, naquele momento, de qualquer tipo de índice expurgado.
O episódio mais conhecido de expurgo de inflação foi nos anos 70, quando o hoje deputado federal Antonio Delfim Netto (PPB-SP) comandava a economia. Ele queria um índice expurgado do preço da gasolina. O problema foi que os salários eram indexados pela inflação. Os protestos foram gerais.


Colaborou a Redação



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