São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Tucano, que havia feito o convite ao presidente do Banco Central, se recusou a dizer se manteria Malan

Armínio aceita ficar no BC em governo Serra

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse ontem que aceita continuar no cargo em um eventual governo do tucano José Serra (SP).
"Ótimo, então já estamos combinados", reagiu o candidato da coligação PSDB-PMDB à Presidência, ao saber da declaração.
Serra, no entanto, se recusou a dizer se manteria o atual ministro Pedro Malan na Fazenda. "Já chega o presidente do Banco Central. Eu não vou nomear o ministério hoje", respondeu o tucano, ao ser questionado por jornalistas, após debate ontem na Câmara Brasileira da Indústria da Construção.
Serra contou que já havia feito o convite pessoalmente a Armínio. "Se eu for eleito, gostaria que você continuasse a presidir o Banco Central", teria dito ao economista, numa conversa antes mesmo de ser confirmado candidato do PSDB, o que ocorreu na convenção do partido no último sábado.
Serra tornou pública sua intenção de convidar Armínio em entrevista publicada pela Folha no sábado. Armínio só respondeu ontem, também por meio de entrevista. Com a escolha antecipada do presidente do BC, Serra quer sinalizar aos mercados que não patrocinará mudanças bruscas na atual política econômica, se for eleito em outubro.
Com o mesmo objetivo, Serra disse ontem que vai prorrogar o acordo feito com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que vence em setembro deste ano.
O tucano voltou a considerar perfeitamente manejável a dívida. E detalhou por que: o prazo médio da dívida, segundo ele, é de 24 meses e está quase toda nas mãos de nacionais, não de estrangeiros, ao contrário do que ocorreria com a dívida argentina.
Serra questionou a acusação segundo a qual os tucanos e seus aliados fazem terrorismo eleitoral ao dizer que o Brasil pode virar uma nova Argentina. "Não só o Brasil, mas qualquer país do mundo globalizado [pode vir a sofrer o processo de decomposição econômica ocorrido na Argentina], se não tiver uma boa administração".

Sinal
A manutenção de Armínio no comando do BC é o sinal mais forte emitido até agora por Serra na sua tentativa de se mostrar como o candidato mais preparado para manter a estabilidade econômica do país.
É também uma maneira de mostrar ao mercado que, caso eleito, Serra dará continuidade à atual política econômica, que tem como bases o sistema de metas de inflação, o regime de câmbio flutuante e as metas para superávit primário (receita menos despesas do governo, com exceção dos gastos com juros).
Tudo isso com o apoio do FMI, que tem em Armínio um dos principais interlocutores no Brasil. Termina no final deste ano o atual acordo com o Fundo, que deu ao país acesso a uma linha de crédito de US$ 15,7 bilhões -dos quais US$ 10 bilhões devem ser sacados nos próximos dias.
Devido à vulnerabilidade da economia brasileira, muitos defendem a prorrogação do entendimento, decisão que só deve ser tomada pelo próximo presidente.
A dúvida sobre os rumos que a economia pode tomar após as eleições tem sido apontada como a principal causa do nervosismo que tem tomado conta do mercado nas últimas semanas.
Armínio sempre disse que "não tinha a intenção de se perpetuar" no cargo e que achava "saudável" a existência de um "rodízio" na presidência da instituição.



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