São Paulo, sábado, 19 de junho de 2004

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REFÉM DA BASE

Deputados, porém, relutam em rever aumento dado pelo Senado

Câmara tenta restaurar na terça o mínimo de R$ 260

FERNANDA KRAKOVICS
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após a derrota do governo no Senado, que aprovou um salário mínimo de R$ 275, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), disse ontem que vai tentar restabelecer, já na próxima terça-feira, o valor de R$ 260. O anúncio foi feito após encontros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política).
O parecer do senador César Borges (PFL-BA), que eleva o salário mínimo para R$ 275, foi aprovado por 44 a 31 e uma abstenção. Como houve modificação, a medida provisória volta para a Câmara, onde ocorre a última votação. Se o valor maior for mantido pelos deputados, o presidente Lula ainda poder vetar a matéria, mas aí vão vigorar os R$ 240 que vigoravam antes da edição da medida provisória.
Além de enfrentar desta vez uma votação mais difícil na Câmara porque muitos deputados não querem ficar com o desgaste de diminuir o valor do salário mínimo, o governo ainda vai ter que trabalhar para garantir o quórum, já que nesta quinta-feira haverá festa de São João. Tradicionalmente, o Congresso fica vazio nesse período devido às comemorações no Nordeste.
O presidente da Câmara voltou a recorrer aos santos ontem para a aprovação de uma matéria na Casa. Na última vez em que fez isso, não foi bem-sucedido. Ele perdeu na votação da emenda que permitiria sua reeleição e a do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), depois de pedir ajuda a Padre Cícero e de fazer oração com evangélicos.
"O salário mínimo inicia a votação na próxima terça, antevéspera de São João. O pedido que vou fazer é para que São João ajude a dar quórum e que os deputados presentes votem. Imagino que a Câmara tende a reafirmar os R$ 260, mas, como já errei recentemente, posso estar errado de novo. Não sou salvador da pátria, não garanto nada", disse João Paulo.

Vovó boazinha
Líderes da base aliada não consideram apropriada a votação na próxima semana. "Concentrar esforços em semana de São João é bater em ferro frio", disse o líder do PMDB, deputado José Borba (PR). "Tem o São João, e também o governo não pode querer sair de uma derrota e já querer votar o mesmo assunto no dia seguinte. Eu também tenho que conversar com a bancada. Estamos cansados de o Senado fazer o papel de vovó boazinha", acrescentou o líder do PPS, deputado Júlio Delgado (MG).
Borba atribuiu à "falta de comando e planejamento" a derrota do governo no Senado. "Falta planejamento. Quem não vota com o governo tem mais liberação [de emendas] do que os outros. Essas coisas não estão atreladas, mas deveriam estar. Isso desestimula quem apóia o governo. Falta mesmo é comando", disse ele. Na primeira votação do salário mínimo na Câmara, o PMDB rachou.


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