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REFÉM DA BASE
Deputados, porém, relutam em rever aumento dado pelo Senado
Câmara tenta restaurar na terça o mínimo de R$ 260
FERNANDA KRAKOVICS
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia após a derrota do governo no Senado, que aprovou um
salário mínimo de R$ 275, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), disse ontem que vai
tentar restabelecer, já na próxima
terça-feira, o valor de R$ 260. O
anúncio foi feito após encontros
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e com o ministro Aldo
Rebelo (Coordenação Política).
O parecer do senador César
Borges (PFL-BA), que eleva o salário mínimo para R$ 275, foi
aprovado por 44 a 31 e uma abstenção. Como houve modificação, a medida provisória volta para a Câmara, onde ocorre a última
votação. Se o valor maior for
mantido pelos deputados, o presidente Lula ainda poder vetar a
matéria, mas aí vão vigorar os R$
240 que vigoravam antes da edição da medida provisória.
Além de enfrentar desta vez
uma votação mais difícil na Câmara porque muitos deputados
não querem ficar com o desgaste
de diminuir o valor do salário mínimo, o governo ainda vai ter que
trabalhar para garantir o quórum,
já que nesta quinta-feira haverá
festa de São João. Tradicionalmente, o Congresso fica vazio
nesse período devido às comemorações no Nordeste.
O presidente da Câmara voltou
a recorrer aos santos ontem para a
aprovação de uma matéria na Casa. Na última vez em que fez isso,
não foi bem-sucedido. Ele perdeu
na votação da emenda que permitiria sua reeleição e a do presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), depois de pedir ajuda a Padre Cícero e de fazer oração com evangélicos.
"O salário mínimo inicia a votação na próxima terça, antevéspera
de São João. O pedido que vou fazer é para que São João ajude a dar
quórum e que os deputados presentes votem. Imagino que a Câmara tende a reafirmar os R$ 260,
mas, como já errei recentemente,
posso estar errado de novo. Não
sou salvador da pátria, não garanto nada", disse João Paulo.
Vovó boazinha
Líderes da base aliada não consideram apropriada a votação na
próxima semana. "Concentrar esforços em semana de São João é
bater em ferro frio", disse o líder
do PMDB, deputado José Borba
(PR). "Tem o São João, e também
o governo não pode querer sair de
uma derrota e já querer votar o
mesmo assunto no dia seguinte.
Eu também tenho que conversar
com a bancada. Estamos cansados de o Senado fazer o papel de
vovó boazinha", acrescentou o líder do PPS, deputado Júlio Delgado (MG).
Borba atribuiu à "falta de comando e planejamento" a derrota
do governo no Senado. "Falta planejamento. Quem não vota com o
governo tem mais liberação [de
emendas] do que os outros. Essas
coisas não estão atreladas, mas
deveriam estar. Isso desestimula
quem apóia o governo. Falta mesmo é comando", disse ele. Na primeira votação do salário mínimo
na Câmara, o PMDB rachou.
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