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ELEIÇÕES 2004 / VOTO AGRÁRIO
Todos são filiados à Contag; 22% estão em partidos conservadores quanto à questão da reforma agrária, como PFL, PP e PMDB
Mais de 900 líderes sem terra são candidatos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos 907 líderes da Contag (Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura)
decidiram atender aos apelos da
entidade e se lançaram candidatos nas próximas eleições municipais em todo o país.
"A classe dos trabalhadores rurais é muito numerosa, mas pouco representada na política. É necessário levar a demanda pela reforma agrária e por créditos à
agricultura familiar para os municípios", diz o presidente da Contag, Manoel José dos Santos, 52, filiado ao PT há 24 anos.
O que chama a atenção é que
22% dos candidatos da Contag
encontram-se filiados a legendas
conservadoras em relação à política de reforma agrária. Disputarão postos de prefeito, vice-prefeito e vereador por partidos como PFL, PP e PMDB.
"Nós não indicamos esses partidos", diz o presidente da Contag.
"Mostramos que eles estão na
contramão da idéia dos trabalhadores rurais. Mas respeitamos a
relação do indivíduo com o partido, sem perseguição."
As legendas da preferência da
Contag são PT, PSB, PC do B e
PDT. "O PDT, mesmo sendo oposição ao governo Lula, não é considerado por nós como ausente
das preocupações dos trabalhadores rurais", afirma Santos.
O partido do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva abriga 41%
(273) dos camponeses candidatos
vinculados à Contag. Na seqüência, aparecem o PC do B (89), o
PMDB (49), o PSB (46), o PDT
(37) e o PP (35).
Os dados sobre a cartada eleitoral da Contag constam de documento interno da própria entidade, ao qual a Folha teve acesso.
São informações ainda parciais
no que diz respeito à filiação partidária dos candidatos. Não há
menção às legendas que foram escolhidas por 244 dos candidatos
vinculados à confederação.
A Contag possui hoje 27 federações estaduais (duas no Pará e nenhuma no Amapá), além de 4.103
sindicatos filiados em todo o país
-a maioria ligada ao PT.
A máquina da entidade sindical,
segundo o presidente da entidade, não se envolverá com a logística das campanhas políticas. "A estrutura da Contag não será usada", diz Santos.
De acordo o levantamento obtido pela reportagem, 90% (815)
dos candidatos buscam uma vaga
de vereador, 4% (34) de vice-prefeito e 6% (58) de prefeito. As mulheres representam 18% (167).
O maior número de candidatos
está em Pernambuco (210), seguido de Bahia (190), Rio Grande do
Sul (78), Paraíba (75) e Ceará (49).
Pernambuco, aliás, é o Estado que
lidera o ranking de famílias acampadas (cerca de 20 mil) e de invasões de terra (50 casos entre janeiro e maio deste ano). Lá, até o presidente da federação local, Aristides dos Santos, pediu licença do
cargo para ser candidato a vice-prefeito do município de Itabira.
MST
A estratégia de estimular "candidaturas camponesas" não é seguida pelo MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra). "Nunca deliberamos isso como linha política. O MST não interfere, não impede nem estimula
as candidaturas", diz o coordenador nacional do movimento João
Pedro Stedile.
Para o MST, que historicamente
segue caminhos diferentes dos da
Contag, a participação política
dos trabalhadores rurais é importante, mas isso não significa a
ocupação de cargos públicos. "É
necessário e urgente desenvolver
novos espaços de participação
política do povo. Eles são muito
mais importantes do que apenas
eleger candidatos e achar que eles
resolvem alguma coisa."
Na semana passada, porém, integrantes do MST levaram a sério
a campanha municipal no interior da Bahia. Na segunda-feira,
eles invadiram a sede do PT de
Itabuna (sul do Estado). Protestavam contra a retirada do nome de
um sem-terra da lista de candidatos a vereador do partido.
Para Stedile, a cabeça de seus dirigentes deve estar voltada para a
reforma agrária. "Nossa deliberação é apenas que os dirigentes e
militantes que tenham responsabilidades estaduais e nacionais
evitem concorrer a cargos, para
que priorizem as atividades relacionadas com a reforma agrária."
(EDUARDO SCOLESE)
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