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LAVOURA ARCAICA
Setenta trabalhadores foram resgatados de região conhecida como Terra do Meio pela Força Aérea Brasileira na semana passada
Sudoeste do Pará é novo foco de escravidão
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL AO SUL DO PARÁ
A Terra do Meio, uma área de
floresta densa entre os rios Xingu
e Iriri, no sudoeste do Estado do
Pará, é o novo foco de ocorrência
de trabalho escravo na região
Norte do País.
Segundo o Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis), a Terra do Meio abrange
uma área de cerca de 8 milhões de
hectares, pertencentes à União e
ao Pará, mas já apresenta vários
pontos de desmatamento.
Na quinta-feira passada, 70 trabalhadores foram resgatados por
um avião Búfalo da FAB (Força
Aérea Brasileira) de um local que
estava sendo desmatado para os
fins de formação de pastagem e
criação de gado.
Um trabalhador fugiu do local,
em abril, com a ajuda de um barqueiro, e denunciou as condições
de trabalho à Polícia Rodoviária
Federal, em Altamira. Os policiais
o enviaram de ônibus a Marabá
(sudoeste do Pará), onde prestou
depoimento na Delegacia Regional do Trabalho.
Entre a denúncia e o resgate dos
trabalhadores passaram-se mais
de dois meses. Segundo o Ministério do Trabalho, a demora deveu-se às dificuldades de identificação e de acesso ao local. A FAB
cedeu quatro helicópteros ao Ministério do Trabalho para que a
operação fosse realizada
O fugitivo ficou em um abrigo
da CPT (Comissão Pastoral da
Terra) em Marabá até a chegada
dos fiscais. Ele falou à reportagem
da Folha no início de julho, quando, por questão de segurança, foi
identificado com o nome fictício
de José Nonato.
Nonato, 42, analfabeto, disse
que mora com a mãe e cinco irmãos em um sítio em Caxias
(MA) e que todos os anos, em novembro, deixa sua propriedade
para trabalhar, por empreitada,
em fazendas no Pará, para complementar a renda familiar.
No último novembro, ele saiu
de Caxias com mais nove trabalhadores e foi contratado por um
empreiteiro de mão-de-obra, o
""gato", na rodoviária de Redenção (sul do Pará). Eles foram levados à Terra do Meio por barco.
Nonato disse que chegou à fazenda no dia 8 de novembro e que
trabalhou até 27 de abril, sem receber salário. Ele decidiu fugir depois que pediu um adiantamento
ao "gato" e foi informado de que
ele e os conterrâneos estariam devendo R$ 3.700 e não teriam direito a pagamento.
Segundo ele, tinha sido combinado o pagamento de R$ 90 por
alqueire desmatado, livre de despesas, mas a comida, remédios e
até os instrumentos de trabalho
eram vendidos a preços majorados pelo empreiteiro, para desconto no salário.
Motosserra
O trabalhador rural Jesualdo Alves de Souza, 45, localizado pela
reportagem em Redenção, disse
que trabalhou durante dois meses
(em maio e junho) como operador de motosserra em uma fazenda na Terra do Meio e que os trabalhadores eram vigiados por 15
homens armados.
Ele afirmou que viajou 380 km
por terra e navegou durante dois
dias em uma balsa até chegar à fazenda e que não sabe o nome da
propriedade, porque não havia
placa de identificação.
Jesualdo disse que os trabalhadores atuavam em equipes de três
operadores de motosserra e um
auxiliar. Trabalhavam, segundo
ele, até aos domingos, dormiam
em barracas construídas com teto
de plástico, sem paredes, e não
podiam deixar a fazenda antes do
fim da empreitada.
Relatório do governo
Reportagem da Folha publicada
ontem mostrou que, também no
Pará, além de Rondônia e Tocantins, modernas fazendas de criação de gado estão sendo punidas e
autuadas pelo governo federal
por exploração de trabalhadores.
Levantamento feito em relatórios do Ministério do Trabalho
mostrou que o uso de mão-de-obra escrava está presente em
grandes empreendimentos agrícolas para a exportação e em fazendas de criação de gado.
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