São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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OUTRA VISÃO

Precisamos crescer mais que 3,5%, afirma Jereissati

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), 55, acredita que haja uma reação da economia, mas, segundo ele, o crescimento no país está limitado ao redor de 3,5% ao ano. "Precisamos crescer mais do que isso."
Jereissati considerou avanço as declarações feitas na quinta pelo ministro do Planejamento, Guido Mantega, admitindo a possibilidade de mudar o projeto das PPPs (Parcerias Público-Privadas). Até então, Mantega resistia às mudanças.
Jereissati tem sido um dos maiores críticos ao projeto. O seu maior receio era que as PPPs driblassem os limites de endividamento definidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
A seguir, os principais trechos da entrevista:

 

Folha - O sr. acha que a economia está se recuperando?
Tasso Jereissati
- Há, sim, uma reação da economia, mas o crescimento no país está limitado ao redor de 3,5% ao ano. Precisamos crescer mais do que isso.

Folha - O que falta?
Jereissati
- As mudanças necessárias são principalmente na área microeconômica. Entre elas, as definições de marco regulatório e uma mudança na parte tributária, que necessita de uma simplificação radical. Isso fora a questão dos juros, mas esses avanços na área microeconômica já ajudarão a baixar os juros.

Folha - Por que o governo apanha tanto no Senado?
Jereissati
- O governo é muito ruim. O que ele tem de bom é o equilíbrio da Fazenda.

Folha - O que o sr. achou das declarações do ministro Guido Mantega admitindo mudanças nas PPPs?
Jereissati
- Eu achei um grande avanço ele dizer que vai mudar o projeto das PPPs. O que está aí, por enquanto, é um verdadeiro desmando. Se o governo decidir mudar será ótimo. A mudança de atitude já significa um grande avanço.

Folha - A que o sr. atribui essa decisão do governo?
Jereissati
- Estava ficando cada vez mais óbvio que o projeto tinha erros muito graves. O projeto passava por cima da Lei de Licitações e contrariava a Lei de Responsabilidade Fiscal. O que me surpreende é que o Mantega estava resistindo às mudanças no projeto.
Ou ele bancava o esperto demais ou era bobo demais quando dizia que a PPP não seria contabilizada como dívida. De fato, no projeto, você não assume a dívida contratual, mas quando o Estado garante o retorno do investimento, ele está contraindo uma dívida para os próximos 10, 15 ou 30 anos.

Folha - Com as mudanças, o projeto da PPP terá mais chances de passar no Senado?
Jereissati
- Do jeito que está, eu vejo muitas dificuldades. Os próprios senadores da base do governo não estão satisfeitos. Mas, se forem feitas as mudanças, nós votamos.

Folha - A oposição tem sido um empecilho para os projetos do governo?
Jereissati
- Mais ajudar do que ajudamos? Nós ajudamos mais do que o próprio governo. Só não vamos deixar aprovar leis ruins, mal feitas e com conseqüências graves para o país. Não estamos impedindo nada, apenas exigindo que se faça a coisa direito.

Folha - Por que o sr. acha que o Mantega mudou de idéia?
Jereissati
- Tem que perguntar para ele. Eu continuo defendendo as mesmas idéias.

Folha - O sr. vai apresentar emendas ao projeto?
Jereissati
- Já apresentei, mas o relator do projeto na CAE [Comissão de Assuntos Econômicos], senador Valdir Raupp [PMDB-RO], não acatou minhas emendas. Quando o projeto for reapresentado, vou reapresentá-las. Quero deixar claro que não sou contra o projeto da PPP, e sim do jeito que ele está. O Mantega chegou a falar que as PPPs iriam gerar investimentos de US$ 36 bilhões. Não sei de onde foi feita essa conta, mas é preciso estabelecer limites senão isso pode aumentar o endividamento do país.


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